Que tal a gente desaglomerar de vez?
A pandemia nos exigiu uma ação concreta: desaglomerar. Fomos obrigados a nos retirar do convívio social e a trabalhar a partir de nossas residências, quando possível. Só que as nossas residências, em sua grande maioria, são pequenas e/ou insalubres ou são a rua mesmo.
A pandemia nos exigiu uma ação concreta: desaglomerar. Fomos obrigados a nos retirar do convívio social e a trabalhar a partir de nossas residências, quando possível. Só que as nossas residências, em sua grande maioria, são pequenas e/ou insalubres ou são a rua mesmo.
Cerca de 7,7 milhões é o déficit habitacional no Brasil e mais de 220 mil pessoas estão em situação de rua. E quem tem casa pra morar nos grandes centros urbanos, percebeu que morar num “apertamento” de 50m2 passa longe da tão sonhada qualidade de vida.
A partir daí, a classe média, com seu privilégio de poder mover-se, começou a refletir: “e se eu for morar no campo, na praia, na zona rural?” Não existem pesquisas, mas imagino que essa ficha caiu para muitos de nós. A procura por imóveis nas cidades com mais de 100 quilômetros de distância da capital paulista subiu 340% na comparação entre o mês de janeiro, antes da pandemia chegar ao Brasil, para o mês de maio, quando as medidas de isolamento já haviam sido amplamente adotadas no país.
Segundo a estimativa do IBGE em julho de 2020, o total de habitantes das 27 capitais supera os 50 milhões de habitantes, quase 24% da população total do país e o grupo de municípios com até 20 mil habitantes foi o que, proporcionalmente, apresentou maior número de redução populacional. Ou seja, os dados seguem evidenciando o êxodo rural, infelizmente.
E o que será que acontece com a economia brasileira se a gente começar a inverter esse movimento? Se, ao invés do êxodo rural, fizéssemos o êxodo urbano?
O custo de vida longe dos grandes centros urbanos é mais barato, a oportunidade de conexão com a natureza é maior e a gente terá mais espaço. Quem sabe poderemos fazer “home office” ou quem sabe empreender um negócio local gerando nosso próprio trabalho? Ou quem sabe ajudar na proteção dos nossos ecossistemas que estão sendo degradados?
Em 2019, pela primeira vez, um estado do Centro-Oeste, e não do Sudeste, passou a responder pela maioria do superávit do país. A soja é o produto mais exportado do Brasil e, com ela, vai junto nossa água, nosso solo e nosso ar. A descentralização econômica está tomando o caminho errado. Que tal a gente mover-se em direção a essa desaglomeração pelo caminho certo, que gere emprego e renda justa? Afinal, são tantas as oportunidades de diversificar esses produtos de exportação.
As startups sociais ou, simplesmente empresas que envolvem tecnologia e realizam impacto social positivo, também podem estar situadas em cidades menores. Nascida em Itaúna, uma cidade com menos de 100.000 mil habitantes em Minas Gerais, a Bchem Solutions se propõe a transformar resíduos de óleo vegetal em biodiesel. Uma solução que transforma o que seria lixo, em uma fonte de energia cada vez mais valorizada no mercado.
Se você tem essa vontade, esse poder ou esse privilégio, talvez não exista momento mais propício para tal. Muitos de nós estamos presos aos grandes centros em razão do nosso emprego. Que tal inspirar-se no vencedor do Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus que sempre diz: “ao invés de se candidatar para um emprego, crie empregos”.
Precisamos de geração de empregos que protejam nossas vidas por esse Brasil profundo e nos desaglomere de vez. Mais qualidade de vida, descentralização econômica, proteção e conexão com a nossa essência.
Somos todos uma natureza só.