#ArtistaFOdA Expansão Bicha, com Caio Riscado
Caio é artista pesquisador, diretor teatral, escritor, professor, performer e o primeiro entrevistado da editoria #ArtistaFOdA, que compartilhará semanalmente trabalhos de artistas LGBTQIAP+ de diferentes cidades e regiões.
Por Marcelo Mucida, para @planetafoda*
“era uma vez
uma bicha
e é ainda”
Assim se inicia o novo livro de Caio Riscado, “Com as costas cheias de futuro” – editora Urutau, 2020.
Caio é artista pesquisador, diretor teatral, escritor, professor, performer e o primeiro entrevistado da editoria #ArtistaFOdA, que compartilhará semanalmente trabalhos de artistas LGBTQIAP+ de diferentes cidades e regiões.
Ao trazer o futuro no título do seu livro, o autor propõe um olhar para diferentes momentos da sua vida, entre passado e presente, reativando estas memórias e vivências para, então, poder pensar sobre novas possibilidades.
A obra se conecta diretamente com a sua pesquisa, iniciada em 2013 com o projeto “Sonho Alterosa”. Desde então, Caio se propõe a investigar práticas e corpos efeminados, com o intuito de buscar especificidades e singularidades de uma sociabilidade bicha – como ele mesmo denomina – sem fazer com que isto se torne uma categorização de identidade, que consequentemente traria também determinadas limitações para o entendimento.
Os textos do livro exploram o conceito de inespecificidade (pesquisado por Florencia Garramuño) na literatura ao trazerem ferramentas, materiais e meios de outras áreas, não se atendo, neste caso, à escrita poética. Caio pontua que o seu objetivo foi justamente poder borrar um pouco a ideia do que se entende por poesia.
Ao ser perguntado sobre a utilização da palavra bicha em suas criações, o artista comenta: “Usar desse termo bicha, para mim, é fazer com que ele trabalhe, a partir desse momento, a meu favor. Se algum dia me disseram que eu era isso, agora eu serei mesmo e, então, serei eu quem estabelecerá os inícios, os meios e os finais, os limites ou os não limites dessa categorização em relação à minha experiência […] Se autoafirmar enquanto bicha é uma aposta de futuro, mas localiza também uma série de vivências e marcações na relação dos sujeitos que estão associados a diferentes tipos de preconceito”.
Desde que realizou as primeiras performances do projeto “Sonho Alterosa”, que depois também se desdobraram em um espetáculo teatral (2015), este “devir bicha” já foi trabalhado de diversas formas entre as suas criações.
Em 2018, ele lançou a publicação “Uma bicha” em parceria com a editora independente Pipoca Press. A obra, mais uma vez, propõe o cruzamento entre diferentes linguagens artísticas ao reunir uma escrita que também pode ser vista como performática, e que segue estimulando intervenções e ressignificações propostas pelas pessoas que têm contato com o impresso.
O trabalho traz uma extensa lista de bichas que Caio conhece e outras que ele inventou, por vontade de conhecê-las. O artista comenta que de forma alguma a publicação se propõe a categorizar uma identidade bicha. Pelo contrário, ao trazer a lista, a ideia é falar sobre estas existências que são múltiplas e diversas. A publicação poderia não ter um fim. Por conta disso, ele pontua também que segue recebendo diversas sugestões-bichas para incluir no trabalho original.
Mais recentemente, em 2020, a parceria entre Caio e a Pipoca Press se renovou a partir de um convite da marca de moda agênero LED, criada por Célio Dias, para desenvolver uma camiseta que fosse um desdobramento da publicação “Uma bicha”. A criação foi acompanhada por um cartaz onde está escrito “Uma bicha para presidente do Brasil”, que segue repercutindo em diferentes postagens nas redes sociais. A frase também estampou uma camiseta da coleção da LED apresentada em novembro na SPFW – São Paulo Fashion Week.
Caio tem 32 anos e nasceu em Niterói – RJ. Ele é também membro fundador do coletivo MIÚDA – núcleo de pesquisa continuada em artes, por onde já realizou diversos projetos, desde 2009.
Ao ser questionado sobre a ideia de uma “arte fora do armário”, ele comenta que entende que ainda temos muitos armários a serem abertos, e que, para ele, estar fora do armário “é uma questão estruturante”. A partir deste pensamento, ele conclui também que a arte é o espaço onde ele não consegue visualizar armários e que, ao mesmo tempo, propõe a abertura de muitos outros, através das trocas possibilitadas com as vidas das pessoas.
Mais informações e registros sobre os seus trabalhos estão disponíveis no perfil do Instagram @riscadela.
*@planetafoda é página de conteúdos LGBTQIAP+ produzidos pela rede FOdA, da Mídia NINJA, junto a colaboradores em todo o Brasil.