Vender história triste ainda é um grande negócio
A minha cota não é pagar de Bedel de rede social ou de trampo dos outros, mas ver quem realmente está correndo com nóix ou está pelos corres pessoais.
Nos últimos dias veio à tona, novamente, o caso Rafael Braga, jovem negro da periferia que teve sua vida e seus sonhos interrompidos. A culpa? Ela foi forjada por PMs com a chancela do Estado.
Estou no sapatinho fazendo as minhas análises, de perto ou de longe, acompanho tudo que está acontecendo, seja nos veículos de comunicação alternativos ou nas redes sociais.
Tô de olho nas fotos alteradas no perfil do “FaceTruck” de “militantes e ativistas pelos direitos humanos”, e na vida real, fico observando se estão fazendo realmente o corre pelos nossos ou só medindo seu ego através dos likes na timeline.
A minha cota não é pagar de Bedel de rede social ou de trampo dos outros, mas ver quem realmente está correndo com nóix ou está pelos corres pessoais.
Afinal, vender história triste, que não seja a própria, ainda é um grande negócio aqui no Brasil, e no quesito demagogia, os clarin* são especialistas nisso.
◇ ◇ ◇
Clarin: Classe média e média-alta branca improdutiva que tem acesso ao conhecimento e metem o louco fingindo não saber; zé povinho; jão; vacilão; comédia; herdeiros de ociosidade; especialistas em foder a vida das pessoas; arquitetos em desigualdade social.
◇ ◇ ◇
O caso de Braga tomou projeção nacional, assim como o caso de Amarildo, pedreiro morador da favela da Rocinha-RJ, que desapareceu em julho de 2013 levado por policias da UPP e depois caiu no esquecimento. Isso é só mais um episódio do que acontece diariamente com milhares de jovens das periferias do Brasil, torturados e apagados pelas mãos opressoras do Estado.
Antes que possa parecer mais um discurso ou relato de “vitimismo” apontado pelos comédias dos clarin, precisamos entender primeiro a estrutura de Estado que é oferecida às camadas menos favorecidas da sociedade.
Um Estado que não nos oferece absolutamente nada – da ponte pra cá, antes dos muros da linha do trem, do outro lado do córrego ou à beira das represas.
A não ser mecanismos de terror, opressão, punição, desigualdade social, frustração, embaraço, armadilha ou isca pra pegar negão e foder com a vida dessa gente toda, mantendo assim o status quo.
É praticamente impossível que alguém consiga sair dessa realidade sem parecer um monstro, um Frankenstein, cheio de cicatrizes e mazelas produzidas pelos mecanismos de opressão do Estado, representado, pensado e manipulado por essa camada elitista que de modo geral são brancos, de classe média-alta improdutiva e “eleita para representar o povo”.
Os clarin são especialistas em tirar o pouco que temos e ainda passar pra gente os modos de oprimir ainda mais as vidas nas periferias e na sociedade, começando pelas cartilhas de educação do ensino público primária, fundamental e médio, depois estendendo pra tudo que é possível.
O DNA do racismo está impregnado na nossa história desde o momento em que as caravelas chegaram em nosso país, terra onde, anualmente, morrem mais de 50 mil pessoas vítimas de armas de fogo e mais de 700 mil pessoas estão em situação de encarceramento precário – em sua grande maioria jovens, negros e das periferias, muitos cumprindo pena sem julgamento ou condenação.
É um sistema falido em consciência humana e milionário em desigualdade, ao limbo do inferno astral e social que vivemos.
O que adianta mudar a estrutura social e econômica da porta pra dentro das nossas casas, se o mundo lá fora segue totalmente desigual?
Uma grande parte das minorias já tem TV de LED maneira, linha branca de eletrodomésticos toda nova, mobília da casa zerada e até um poizé* popular na garagem, sendo que, da porta pra fora ainda existe um caos tremendo, esgoto a céu aberto, educação precária, saúde somente à base de soro ou água com açúcar e a justiça sendo feita com bala nas favelas.
Antes que os clarin perguntem, essas balas não são de borracha.
◇ ◇ ◇
**Poizé: carro, automóvel, barca, nave, máquina do amor, desenrolo do final de semana, sonho realizado de malandro ou trabalhador.
◇ ◇ ◇
Pra muitos pode parecer mais uma ficção produzida por Alexandre Padilha em Tropa de Elite, mas para maioria que ainda vive nas favelas é a pura realidade.
Dá até pra comparar ao mito da caverna de Platão, “nem tudo que se vê, realmente parece ser”. Essa imagem distorcida, estereotipada, produzida de forma enganosa e propositiva que é transmitida pela máquina de engodo chamada “grande mídia”.
Pensada de forma estratégica pra desviar o foco das coisas, favorecem os interesses políticos de um grupo fechado, representado por meia dúzia de pessoas que controlam os grandes veículos de comunicação.
Com as luzes dos LCD’s, produzem sombras do que seria a realidade nas periferias.
Parte das manifestações que vem acontecendo desde Junho de 2013 nas ruas é também um protesto contra esse sistema e esse poder hegemônico midiático. A luta pela igualdade social, pelos direitos trabalhistas, dos jovens, da mulher, democratização da mídia e criação de conteúdos mais educativos para nossa população.
O que aconteceu com Rafael Braga foi exemplo do que acontece diariamente com quem busca seus direitos de alguma forma, e luta por melhorias de vida contra o sistema vigente.
Manifestantes são coibidos pelos seus posicionamentos políticos.
O foda é que mesmo em meio a todas essas injustiças que vem acontecendo, poucas pessoas, inclusive da nossa galera, vão se lembrar de Rafael Braga no mês seguinte.
Exemplos como o dele temos milhões, pra comprar treta diariamente.
Luta que segue.