Mesmo com aumento de casos, prefeitura no interior de São Paulo manda reabrir salões e academia
No interior paulista, os casos de Covid-19, aumentaram de maneira mais acelerada, ao mesmo tempo que caiu a taxa de isolamento social no estado de São Paulo.
No interior paulista, os casos de Covid-19, aumentaram de maneira mais acelerada, ao mesmo tempo que caiu a taxa de isolamento social no estado de São Paulo.
Em Piraju, município com aproximadamente 28 mil habitantes, é preocupante o número de casos. Nesta segunda-feira, 25, somava 36 casos confirmados e 3 óbitos. Em menos de um mês os números alcançaram a marca de cidades com mais de 100 mil habitantes.
Cidades do sudoeste paulista, como Ourinhos, a 40 minutos de Piraju, com aproximadamente 112 mil habitantes tem 52 casos de infectados.
Em ambas as cidades, observa-se os mesmos lapsos dos cidadãos. Em Ourinhos vários bares, academias e estúdios de pilates tem funcionado nos fundos, de portas fechadas. O prefeito Lucas Pocay (PSD) não oficializou a reabertura desses comércios que são considerados não essenciais e os moradores relatam: “aqui está uma bagunça, reflexo do governo. Sábado passado, por conta das lojas estarem na promoção portas fechadas, tinha fila virando quarteirão para entrar em uma loja”.
Em Santa Cruz do Rio Pardo, com cerca de 46 mil habitantes, a epidemia está sendo bem combatida, apesar dos 57 casos registrados até 23/05. Segundo informa a moradora e jornalista Flávia Manfrin, a situação está sob controle devido à gestão do prefeito Otacílio Assis (PSB), médico, e do secretário de saúde, Diego Singolani, ambos com experiência em saúde pública. A população segue bem informada e alertada, com a transmissão diária de um boletim online onde a prefeitura informa sobre os casos, medidas adotadas, respondem a dúvidas e sugestões da população.
No começo da epidemia, a prefeitura fez uma reforma e aumentou a Santa Casa da cidade que passou a atender exclusivamente casos suspeitos de Covid-19. Trabalham com fila única, colocando todos na mesma condição de atendimento. Estão sendo feitos testes espontâneos em pessoas próximas aos portadores da doença, para se obter um número mais real de contaminados. A cidade também conta com uma elevada rede de apoio comunitário que envolve o setor público e a iniciativa privada. “O hospital está muito capacitado e estruturado, também por isso, que não tivemos nenhum óbito na cidade”, diz o secretário da Saúde da cidade, Diego Singolani.
Em Piraju, em pleno aumento diário de números de infectados, o prefeito José Maria Costa (PPS) assinou o decreto 6.127 que autoriza a reabertura de salões de beleza, barbeiros e academias de ginástica, seguindo algumas normas de higienização que não foram especificadas no decreto. A cidade se depara com um cenário onde muitas pessoas não estão levando a sério o isolamento, há denúncias de pessoas que ainda estão fazendo confraternizações, bares abrindo suas porta dos fundos e não é visto no município ações que responsabilizem essas pessoas por sua falta de consciência e de cuidado coletivo.
Para falar a partir de dados, os números dos casos confirmados pelas secretarias de saúde de algumas cidades da região sudoeste: Piraju 36, Ourinhos 52, Avaré 42, Bauru 224, São Paulo 44.887. Se aplicamos o cálculo por milhão de acordo com o número de habitantes por cidade, Piraju fica com 29.806 habitantes, Ourinhos 113.542, Avaré 90.655, Bauru 376.818 e São Paulo 12.252.023. Ainda de acordo com os números atuais de casos confirmados, teremos o seguinte cenário: Piraju 1.207,81 por milhão, Ourinhos 457,98, Avaré 463,29, Bauru 594,45 e São Paulo 3.663,64. Das cidades apresentadas no exemplo, Piraju está em 2º no ranking de casos confirmados por milhão de habitante.
Falemos dos mesmos dados, porém referente a óbitos. Piraju novamente bate o recorde das cidades da região, mesmo apresentando 3 óbitos no momento, em proporção à demografia e em comparação com as demais cidades o município fica em 2º lugar em casos de morte por milhão. As mortes confirmadas por Covid-19 nesses municípios são: Piraju 3 mortes, Ourinhos 4, Avaré 3, Bauru 13 e São Paulo 3.491. Aplicando o cálculo de mortes por milhão usando a mesma informação de habitantes do IBGE, temos o seguinte cenário: Piraju 100,65 óbitos por milhão, Ourinhos 35,23, Avaré 33,09, Bauru 34,50 e São Paulo 284,93.
Uma das grandes preocupações é que, com o aumento dos casos, o hospital que atualmente é mantido pela Sociedade de Beneficência de Piraju e que atende pessoas de municípios menores da região, provavelmente entrará em colapso, já que não possui uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), apenas CTI e alguns aparelhos respiratórios – que vale ressaltar – foram comprados através de uma Vaquinha Coletiva feita pelo seu Diretor Secretário-Adjunto, Bruno Bragança Pedro.
A prefeitura não investe em aparelho para monitoramento respiratório mas assina um decreto que libera a reabertura de academias e salões de beleza. A prefeitura não se organiza regionalmente, indo atrás de levantar um hospital de campanha direcionado exclusivamente para tratar os doentes pelo novo coronavírus e que atenda aos cidadãos de Piraju e região, porém quer liberar serviços que não são essenciais. O hospital que recebe pacientes contaminados por coronavírus é também onde estão sendo tratadas as demais enfermidades e casos urgentes que chegam ao pronto-socorro. A prerrogativa é simples: para liberar determinados serviços não essenciais a cidade deve estar preparada para o aumento número de casos, e não está. Existe um Comitê de Enfrentamento e Prevenção ao Covid-19 em Piraju, mas não é muito acessível, e não se vê ações efetivas.
Muitos grupos e movimentos na cidade, como o coletivo Panema Livre, também se organizaram frente a questão da pandemia, e tentam alertar a população por meio de conversas nas redes sociais e criou um abaixo assinado virtual, com o objetivo do prefeito rever o decreto de reabertura de academias e salões de beleza, ou pelo menos especificar detalhadamente quais são os métodos de higiene que devem ser mantidos para a reabertura de tais estabelecimentos.
O assunto virou polêmica no maior grupo do facebook da cidade, os argumentos contrários ao abaixo assinado, em sua maioria são: “deixe as pessoas trabalharem”, “preciso trabalhar ou vou morrer de fome”. “Isso é muito grave, a população está abandonada no âmbito executivo, os comerciantes locais não tem apoio, alguns estão fechando as portas definitivamente, a economia da cidade não vai bem e não estamos vendo da prefeitura uma atitude institucional nem o diálogo direto com a população. Se querem reabrir o comércio, que preparem uma estrutura para a cidade conseguir atender a todos os casos que irão necessitar de cuidados sérios, é o mínimo que o Comitê e a Prefeitura deve fazer, ser transparente”, comenta Tatiana Pansanato, integrante do coletivo.
Além disso, será enviada uma carta aberta destinada ao Comitê da cidade para pressionar por medidas concretas e sugerir melhorias. Outros cidadãos também já fizeram e fazem campanhas para arrecadação de alimentos, roupas, máscaras para para atender quem mais precisa.
Vale ressaltar que, diante desse cenário, o vice-prefeito da cidade, Fabiano Amorim (SD), anunciou no dia 02 de maio que o município de Piraju iria receber R$ 1,5 milhão para custear ações em combate ao novo coronavírus, porém, até o momento, nada de diferente foi visto na prática.
Enquanto as medidas de isolamento continuarem frouxas no interior do estado, a curva de infectados só tende a aumentar. Com o Brasil ultrapassando a marca de 1000 mortos por dia na última semana, é alarmante que os gestores dos municípios não prezem pela vida e pela saúde.