A ciência, o achismo e o “mercado” em tempos de COVID-19
A pandemia do coronavírus tornou explícita uma guerra que vem crescendo nos últimos anos no Brasil. A briga “ciência x achismo” ganhou força justamente num momento em que apenas o conhecimento técnico e científico deveria ser levado com consideração.
A pandemia do coronavírus (SARS-CoV2, popular Covid-19) tornou explícita uma guerra que vem crescendo nos últimos anos no Brasil. A briga “ciência x achismo” ganhou força justamente num momento em que apenas o conhecimento técnico e científico deveria ser levado com consideração. Mas como combater as informações erradas em tempos de fake news, mídias sociais e grupos religiosos que parecem não se importar com a vida humana?
Nesse momento, as universidades públicas, os cientistas e os profissionais da saúde estão na linha de frente do combate, mas não enfrentam só o vírus que vem matando milhares de pessoas pelo mundo. Eles precisam enfrentar também criacionistas, negacionistas e o “mercado”, que age através de políticos e articuladores de direita, pregando o discurso da volta ao trabalho, pois a economia não pode parar. Desde quando empresários e especuladores do mercado financeiro entendem de saúde e controle de pandemias? Onde estavam eles quando a taxa de desemprego subiu para 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro desse ano, atingindo 12,3 milhões de pessoas (dados do IBGE)? Não nego que teremos um agravamento dos problemas econômicos com o isolamento, mas questiono a súbita preocupação de quem nunca se importou com os mais pobres. Vamos ouvir os cientistas ou pessoas que não possuem conhecimento técnico em saúde e que estão mais preocupadas com seus respectivos lucros? Pagamos impostos diariamente e o mínimo que o governo pode fazer pela sua população é usar esses recursos para garantir direitos sociais básicos como saúde e assistência aos desamparados, ambos previstos na nossa Constituição. O Estado precisa assumir suas responsabilidades. Não precisamos e não devemos escolher entre a vida e a economia. É momento de ouvir a ciência e os profissionais da saúde.
Os países que demoraram para agir acabaram contabilizando um maior número de mortos. Até o fechamento desse artigo, os EUA já tinham mais 42 mil mortes e 787.901 infectados. Na Itália, os casos diários eram cerca de 70 no início do surto, passaram para 500 na segunda semana e atingiram os 1.700 na terceira. E o que vai acontecer no Brasil? O que sabemos é que por aqui ainda não estão sendo realizados testes em massa, o que colabora para que muitos “achismos” em torno da pandemia ganhem força e uma parte da população acredite que o problema não é grave o bastante. Sabemos também que nosso sistema de saúde não tem capacidade de acolher toda a população de forma igualitária. Quem se responsabilizará pela vida das pessoas? Quem ganha com o discurso de que devemos escolher entre a saúde e a economia? Como lidar com a avalanche de achismos sobre um tema que é preciso anos de estudo para obter conhecimento?
Infelizmente não tenho as respostas para todas as perguntas que estão nesse artigo e deixo aqui um espaço aberto para um debate maior sobre o tema. Mas sei que é preciso priorizar o conhecimento científico, valorizar as pesquisas que estão sendo desenvolvidas nas universidades e dar suporte aos profissionais de saúde que estão nos hospitais. A cura não virá do setor financeiro, de um político ou um grupo religioso. A cura virá da ciência.