Os 3 fatores que explicam por que o coronavirus afeta mais as pessoas negras
Desigualdade, racismo, falta de acesso e doenças pré existentes são fatores que fazem a população negra ser bastante atingida pelo novo coronavírus, aumentando o número de mortos.
O coronavírus escancara a desigualdade social. Quem precisa trabalhar e não pode fazer homeoffice, se arrisca para manter sua renda porque pode passar fome.
Mas além disso, a desigualdade do acesso da população a tratamentos de saúde e políticas de combate a pandemia também fica evidente em situações como essa. E a população que mais sofre nesses casos é a população negra, tanto por estar dentre os informais quanto pelas questões de saúde: acesso e doenças pré existentes que afetam mais as pessoas negras agravam os sintomas da covid-19.
“É difícil falar desses três pontos sem pensar no efeito sistêmico de séculos de discriminação e racismo em cima da comunidade negra”, afirma o doutor em Biologia, Gustavo Silva, que dirige um laboratório de pesquisa na Universidade de Duke, uma das dez melhores dos EUA, em entrevista concedida ao Alma Preta.
Um balanço do Ministério da Saúde mostra que, um em cada quatro brasileiros hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave é negro (23,1%). Esse número chega a um em cada três entre os mortos (32,8%).
Isso pode se explicar, como dissemos acima, no fato de que as pessoas negras são maioria da população de baixa renda, se expõe mais ao risco saindo à rua para trabalhar, usando transporte público, e em geral, estão em condições mais precárias de manter o isolamento – muitos moram em casas pequenas, o que dificulta a distância e aumenta a chance de contágio entre as pessoas com quem mora.
Outro fator são doenças pré existentes. Pessoas negras tem mais pré disposição a ter diabetes e hipertensão por exemplo, o que agrava os casos em caso de infecção pelo novo coronavírus.
E um ponto que não pode deixar de ser tocado é o acesso a equipamentos de saúde. A população negra depende em sua grande maioria do SUS, e tem dificuldade no acesso bem como em prevenção e tratamento. Menor chances de conseguir leitos, de conseguir atendimento e muitas vezes, a discriminação racista que leva a diagnósticos equivocados ou mesmo a falta deles.
Levar esses dados de recorte racial em consideração ao se pensar tratamentos e modos de lidar com as políticas públicas e monitoramento de pacientes é essencial para que não haja um número maior de mortes entre pessoas negras.