Registros de coronavírus no Brasil são subestimados, diz estudo
Um levantamento feito pela London School of Hygiene and Tropical Medicine se baseou nas taxas de letalidade para estimar subnotificação em países. O Brasil estaria detectando apenas de 8% a 18% dos casos reais.
Um estudo sugere que países que conseguem testar uma parcela maior da população para Covid-19 estão, em média, registrando incidência maior da doença. Entre os já afetados pela transmissão comunitária da epidemia, o Brasil é um dos que menos fazem testes, o que pode levar autoridades a subestimar a presença do vírus. Os dados foram agregados pelo projeto Our World in Data, baseado na Universidade de Oxford, primeira iniciativa do tipo feita no mundo.
Como países só são obrigados a relatar casos positivos, ainda não há dados oficiais para estimar as diferenças, por isso o grupo britânico buscou uma maneira alternativa. Entre 59 países que relataram o número de testes sendo realizado por habitante, o Brasil ficou na 53ª posição: apenas 13,7 pessoas por milhão de habitantes haviam sido testadas até o meio de março — cerca de 3 mil testes, número que o governo relatou à imprensa na época.
“O fato de a gente estar, no momento, fazendo exame só para casos moderados a graves mascara a realidade da infecção aqui no país”, afirma a infectologista Raquel Stucchi, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Em sua opinião, é possível tentar melhorar a capacidade de testagem do país, que é o que está forçando autoridades de saúde a adotarem critérios mais restritivos para economizar o número de testes. Mas fatores como escassez global de insumos para os diagnósticos, como reagentes de laboratório, podem atrapalhar.
Há mais sinais de que as infecções no Brasil estão subestimadas. Um levantamento feito pela London School of Hygiene and Tropical Medicine se baseou nas taxas de letalidade para estimar subnotificação em países. O Brasil estaria detectando apenas de 8% a 18% dos casos reais.
Segundo a pesquisadora da Unicamp, uma maior disponibilidade de testes poderia permitir que, mais para frente, o isolamento social fosse flexibilizado. Em tese, mais pessoas poderiam ser dispensadas de quarentenas se fossem testadas por sorologia e se os médicos constatassem que elas já foram infectadas, já convalesceram e criaram imunidade contra o novo coronavírus.