O mito é uma mentira! Entenda por que o governo Bolsonaro derreteu
Por todo o país, de norte a sul, de leste a oeste, o barulho das panelas e apitos, e os gritos de Fora Bolsonaro e Acabou Bolsonaro, na noite de terça-feira, 18/03, são a prova cabal de que a maioria da população brasileira já reconhece a incompetência e incapacidade deste governo de minimamente conduzir o país diante de tantos e complexos desafios.
Por todo o país, norte a sul, leste a oeste, o barulho das panelas, apitos e os gritos de Fora Bolsonaro e Acabou Bolsonaro, na noite de terça-feira, 18/03, são a prova de que a maioria da população brasileira já não desconhece a incompetência e incapacidade deste governo conduzir minimamente o país, diante de tantos e complexos desafios.
A negligência com a saúde pública foi o estopim para o entendimento que tardava. Ninguém quer um governante que demonstra de forma tão virulenta o desprezo pela vida e pelo ser humano, como o presidente tem demonstrado reiteradamente.
O mito do bolsonarismo foi todo construído em cima de mentiras e do sentimento de ódio. Em mais de 30 anos de mandatos parlamentares, Bolsonaro nunca construiu um projeto político coletivo, e apenas orquestrou os seus interesses particulares e corporativos. Elegeu filhos, apadrinhou e deu suporte a milicianos e funcionários fantasmas, propagou um discurso autoritário, que era visto como folclórico até o ano de 2016, por boa parte da imprensa e pelos políticos.
Bolsonaro, inclusive, nunca teria alçado vôos mais altos caso não tivesse contado com a irresponsabilidade e mal caratismo de políticos como Aécio Neves e Eduardo Cunha, que por vaidades e interesses menores, romperam a ordem democrática, arquitetando um golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff. Hoje, Eduardo Cunha encontra-se preso e Aécio Neves responde a dezenas de acusações criminais, e se esconde por meio da imunidade de um mandato de deputado federal conseguido em 2018, de forma humilhante.
A partir da ruptura institucional de 2016, Bolsonaro surfou na onda anti-sistêmica, abusou de artifícios pouco republicanos na campanha, espalhando notícias falsas, patrocinado com recursos financeiros de uma parte do empresariado brasileiro, que se colocou a serviço de um projeto nitidamente autoritário, descompromissado com os interesses nacionais, e necessidades da maioria da população.
Assim, empurrado pela força do antipetismo, tão propagado pela imprensa corporativa, ungido pelo episódio da facada em Juiz de Fora – vitimizado e retirado oportunamente dos debates eleitorais -, o MITO se consolida e vence as eleições. A partir da vitória, movido pela vaidade e a agigantado por uma onda de mentiras, Bolsonaro acreditou que poderia governar com bravatas e piadinhas de mal gosto, emprestando o seu discurso e as suas práticas para alimentar esta base recém construída, que parecia satisfeita com as alegorias e atitudes nonsense do mandatário. Mas o mito esqueceu que em política as coisas podem mudar rapidamente. E mudaram…
Cercado personagens tão caricatos quanto ele, signatários de propostas políticas questionáveis, quando não estapafúrdias, o presidente eleito em 2018 acreditou que poderia se valer da mentira e falácia do neoliberalismo de Paulo Guedes, intitulado por ele (ou o próprio Bolsonaro?) como “Posto Ipiranga”. Aos péssimos resultados do primeiro ano de governo, em que pese a Reforma da Previdência que, por fim, não gerou emprego nem crescimento, soma-se agora a crise econômica mundial causada pela pandemia do COVID-019, que varre qualquer possibilidade de solução para os problemas econômicos do país. As chamadas “Reformas” na verdade não passam de uma rasteira usurpação de direitos, ineficientes e cruéis com os trabalhadores, mas incapazes de gerar crescimento.
Ao contrário disso, a referida crise tem demonstrado a importância do Estado e dos serviços públicos, reconsiderando inclusive a necessidade de estatizações na Europa, estratégia premente que coloca em cheque o neoliberalismo em todo o mundo. Dessa forma, Paulo Guedes é cada dia mais questionado e dificilmente conseguirá manter a sua cartilha econômica, independente do que aconteça com o governo. Arrogante e preconceituoso, deve amargar na história a pecha de um dos piores Ministros da economia que o Brasil conheceu.
Bolsonaro também acreditou que as mentiras de Sérgio Moro e o sucesso midiático da Lava Jato poderiam garantir e ampliar a sua popularidade. Mas já no primeiro ano de governo, ainda em 2019, aparece a “Vaza Jato”, com uma série de reportagens que revelou conversas indecorosas, ilícitas, dos membros da cúpula jurídica de Curitiba, incluindo o atual ministro e o procurador Deltan Dallagnol. As conversas – capturadas e vazadas por hackers -, foram entregues ao Intercept Brasil, que descortinou os interesses reais da Operação e identificou crimes e abusos cometidos por Sérgio Moro, outros juízes e desembargadores envolvidos com o processo da Lava Jato.
Da empáfia de juiz a político bajulador, Moro tem acobertado de forma permissiva tanto os crimes de milicianos, quanto práticas ilícitas de “rachadinhas” da família Bolsonaro, de forma que a população brasileira já se apercebeu da sua conduta compromissada com os valores da justiça. O ex-juiz e atual ministro tornou-se o exemplo mais declarado do entreguismo servil deste governo aos interesses norte-americanos. De bastião da moralidade, Moro é hoje uma figura questionável, por fazer da justiça palanque para os seus interesses políticos e, ainda que seja um dos pouco colaboradores bem avaliada do governo, junto à sociedade brasileira, já não consegue esconder as suas fraquezas e limites. Ao se juntar a família Bolsonaro, possivelmente terá destino semelhante ao seus pares: a lata de lixo da história.
Por fim, o presidente se cercou de militares de forma a se proteger dos outros poderes, e criar a permanente sensação de que qualquer ato passível de questionamento do seu governo terá como resposta um levante militar. Do vice-presidente aos principais ministros, passando por milhares de cargos de confiança, o governo tem hoje a maior ocupação militar do Estado, superior até ao contingente de patentes que ocupou os governos militares do período da ditadura.
Mais uma vez, Bolsonaro apoiou-se em uma mentira: a de que soluções autoritárias seriam remédio para crises e possíveis questionamentos da ordem. Por mais que esta idéia possa ter reaparecido de forma estridente na era bolsonarista, as manifestações do dia 15 de março provaram como este pensamento é tacanho e incapaz de mobilizar uma parcela significativa da sociedade brasileira, a ponto inclusive destes movimentos recentes da ala “AI-5” serem facilmente ridicularizados.
Sobraram por fim, os terraplanistas e negacionistas, a navegar fazendo água em uma barca que, além de furada, mostra-se arriscada e perigosa para a saúde pública em um momento tão delicado. Ao negligenciar o perigo do coronavírus e insistir nas manifestações, a turba defensora da ditadura provou-se completamente desconectada da realidade e, os militares, se vêem cada vez mais constrangidos em respaldar as estultices do capitão.
A sociedade brasileira é sim, conservadora, mas a sua diversidade e as suas lutas seculares junto aos movimentos populares e sociais para a conquista de direitos e democracia, criaram fortes bases para a resistência contra governos autoritários. Esta força não pode ser subestimada, ainda mais quando esta solução autoritária é apresentada por pessoas notoriamente despreparadas e incompetentes para o exercício do poder, como é o caso da família Bolsonaro e seus lunáticos seguidores.
As bases do bolsonarismo são tão sólidas quanto um castelo de cartas. É fato, que mostraram um lado terrível da sociedade brasileira, fruto de uma passado escravocrata e de uma elite sem respeito ou compromisso com a democracia. Como é fato, que essas bases contaram com a negligência e cinismo da grande imprensa, que em nome de seus interesses econômicos e preconceitos, foi conivente com todos os absurdos e perigos de um projeto de poder que não escondeu sinais antidemocráticos e sabidamente autoritários. A mídia, representada por uma parcela de jornalistas e editores experientes, não podia alegar ignorância diante dos indicativos de um governo como o de Bolsonaro, sendo portanto, co-responsáveis por esta tragédia que se abateu sobre o país.
O Brasil ainda está distante de uma saída para esta crise, e o povo brasileiro pode sofrer ainda mais com arroubos autoritários deste governo. Afinal de contas, Bolsonaro deu mais do que exemplos do seu egoísmo e da sua capacidade de promover maldades. Mas uma parcela considerável de brasileiros e brasileiras já se levanta e dá recados estrondosos para a opinião pública e à classe política.
A vida em sociedade exige resistência, a história humana comprova que nos cenários de crises profundas, catástrofes e tragédias, a solidariedade e o amor renascem, de forma a cuidar e proteger os nossos semelhantes. Também as instituições de interesse público e social, buscam amparo na democracia e na liberdade. Isso é o mais importante agora, e, para que isso aconteça, Bolsonaro deve cair. Venceremos o bolsonarismo como já vencemos outros projeto antidemocráticos. A partir dessa luta será possível reconstruir um projeto político que esteja a altura dos desafios da humanidade, no século XXI. Esta é a única forma de evitarmos a tragédia anunciada, destituir do poder um mito construído a partir de mentiras. Mito mimado, falso mito!