Madá, o ciberespaço e a história da internet
Madalena nasceu em 2011 e Madá é o apelido que sua avó escolheu pra ela. Assim como suas amigas, ela gosta do Habbo porque os avatares podem ser criados com cores diferentes, cabelos irados e até roupas exclusivas. Mas o que Madalena e suas amigas nem imaginam é que elas vivem em um ciberespaço.
Madalena nasceu em 2011 e Madá é o apelido que sua avó escolheu pra ela. De sua mãe, que trabalha muitas e muitas horas todos os dias, no distante centro da cidade, apenas as brincadeiras, os mingaus e as histórias que gostava de ouvir.
Em seus 9 anos de idade, a menina de sorriso largo ama a escola e o grupo de zapzap que tem com as “migas”. Posta pouco no Instagram e só tem um e-mail porque precisa para criar contas nas redes sociais e no Habbo Hotel, um tipo de comunidade virtual, como se fosse uma sala de bate-papo – mas com microcenários e personagens – voltada para o público jovem com idade acima de 13 anos.
Madá não tem essa idade, mas foi o seu “sim, eu tenho mais de 13 anos” na criação da conta que permitiu sua entrada nesse universo pixelado, repleto de gente legal, que ela só conhecia e falava virtualmente, quando ganhava algum troco para ir à lan-house próxima de sua casa.
Assim como suas amigas, ela gosta do Habbo porque os avatares podem ser criados com cores diferentes, cabelos irados e até roupas exclusivas. Mas o que Madalena e suas amigas nem imaginam é que elas vivem em um ciberespaço, um tipo de aldeia global criada virtualmente através dos meios de comunicação modernos, entre eles a internet.
Os criadores do site/comunidade virtual do Haboo se gabam dos 300 milhões de personagens registrados e da sua distribuição em 9 línguas diferentes, algo que se parece muito com a ficção científica de Neuromancer, livro que revolucionou o gênero em 1984. Isso porque essa “geografia móvel da informação” era uma distopia superfuturista pra galera da época, que nunca, nem em sonhos, imaginaria que uma rede global de computadores pudesse se tornar realidade, e tão popular como nos dias de hoje. Nem passava pela cabeça dessas pessoas que milhões de perfis poderiam ser criados independentes de sexo, cor ou território nacional, e que likes e visualizações seriam as novas formas de aprovações sociais.
Outra coisa que Madá nem imagina é que ideia de internet começou a ser moldada durante pesquisas militares no auge de 1960, durante a Guerra Fria – a mesma que serviu de pano de fundo na terceira temporada de Stranger Things. Os EUA queriam uma rede que facilitasse o compartilhamento de informações e dados em caso de ataques nucleares promovidos pelos soviéticos. Afinal, não eram somente eles que sabiam explodir bombas atômicas.
No Brasil de 1995, o governo abriu o primeiro backbone (“espinha dorsal”, o sistema central de computadores) do país para fornecer a “net” com acesso apenas comercial.
O que você, eu e Madalena sabemos é que para acessar a internet é preciso ter conexão de banda larga. O que eu e (talvez) você sabemos, mas que a Madá nem imagina, é que antes existia uma coisa chamada conexão discada. Se você, caro leitor, não conhece alguém com mais de 35 anos, dificilmente vai ter como compreender ou até mesmo imaginar o prazer de escutar um barulhinho gostoso de acesso após clicar em um ícone de telefone do pop-up da UOL. Nesse caso, pera que já te explico:
Há 25 anos, a única forma, em todo o território nacional, de se ter acesso à internet era através de um computador com fax-modem (que, com certeza, a Madá nunca viu), uma linha telefônica e um provedor de acesso.
Os 300 megas de net da Vivo por mês podem não te satisfazer, imagina geral usando uma conexão em que a velocidade máxima era de 56,6 kbps (não abre nem 3 fotos do Instagram) e pra cada 30 minutos de uso, eram 30 minutos de ligação local cobrada na tua conta de telefone. A menos, é claro, que você se conectasse após a meia-noite, para pagar apenas um pulso.
Hoje, pagamos uma mensalidade para usar a banda larga, que pode ser via xDSL ou fibra ótica.
Mas uma outra hora explico a tecnologia xDSL, porque a lan-house que a menina Madalena frequenta já tem conexão de fibra ótica e, para explicar como esse tipo de tecnologia funciona, precisaria de mais um tempo seu para esclarecer os papeis que Lovelace, Turing, Narinder Singh Kapany tiveram durante o processo de construção e qual é o controle sobre a emissão de luz na criação de cabos de fibra ótica muito usado hoje para transmitir essa coisa louca que é a internet.
E como você não tem tanto tempo assim, me limito a te falar que um cabo de fibra ótica é capaz de transmitir até 20 mil conversas telefônicas simultâneas, e só por causa dessa tecnologia você pode fazer aquele textão no Facebook a hora que quiser.
Agora, voltando à Madá, o tempo na lan-house já acabou, ela tá indo pra casa e essa história não termina aqui, porque a menina só tá acessando o zap pelo celular porque uma atriz de Hollywood inventou a tecnologia do wi-fi. Mas isso é uma outra história, quem sabe a próxima!