As ruas estão lotadas em Porto Rico, a colônia americana. Em marchas convocadas desde a última semana, inclusive por figuras de fama internacional como Benicio Del Toro e Ricky Martin, Porto Rico viu crescer uma onda de manifestações pedindo a renúncia do governador Ricardo Rosseló. Muitos comparam com a Jornada de Junho de 2013 no Brasil, ou as manifestações na Guatemala em 2015. Nas ruas, uma mistura de “festa da diversidade” e um barril de pólvora orquestrada pela violência policial.

O governo de Rosselló é acusado por uma série de corrupções envolvendo os fundos destinados à recuperação dos estragos provocados pelo Furacão Maria, há quase dois anos. A tragédia deixou Porto Rico sem água limpa, sem hospitais e luz por meses e até mais de um ano em algumas regiões. Dois ex-integrantes seniores da administração foram presos e acusados de fraudes. As consequências disso são 4.645 mortes, um verdadeiro genocídio.

O estopim dos manifestos, no entanto, foi o vazamento de diálogos no Telegram revelando piadas com a morte de pessoas e o acúmulo de cadáveres nos freezers fazendo com que familiares esperem mais de 3 meses pra enterrar seus mortos. Os diálogos foram revelados no dia 13 de julho pelo Centro de Jornalismo Investigativo de Porto Rico. Eles tiveram acesso a 889 páginas de chat, com uma série de conversas envolvendo machismo, LGBTfobia, misoginia, gordofobia. A autópsia de um perfil conservador extremamente preconceituoso.

O diálogo que mais tem circulado nas redes envolve o cantor Rick Martin. Na conversa, um funcionário diz que “Ricky Martin é tão machista que transa com homens porque as mulheres não lhe servem. Puro patriarcado”. O cantor reagiu e é uma das personalidades que tem conclamado os porto-riquenhos às mobilizações.

https://www.instagram.com/p/B0MwF6AhC5k/

Porto Rico é oficialmente Estado Livre Associado, um território não incorporado dos Estados Unidos. Com uma riqueza natural exuberante e destino popular de turistas do mundo inteiro, Porto Rico, no entanto, vive mais de dez anos de recessão econômica. Sua dívida de mais de US$ 70 bilhões provocou uma moratória e a prisão de funcionários do governo por fraude de US$ 15,5 milhões entre 2017 e 2019.

O último referendo, realizado em junho de 2017 e comemorado pelo governo de Rosselló, mostrou o apoio da população porto-riquenha pela aprovação de Porto Rico como estado americano (97,18% a favor). Contudo, a participação foi historicamente baixa, apenas 22,99% participaram do pleito. Desde então, a crise econômica, alavancada pela tragédia do Furacão Maria, só fez a crise porto-riquenha ampliar. Nas ruas de San Juan, muitos ainda pedem pela “descolonização” de Porto Rico, alertando que a subordinação política aos Estados Unidos impede a soberania e tomada de decisões a respeito da crise.

Texto: Mídia NINJA com contribuições de Victor Herege

Imagens: Victor Herege

Foto: Victor Herege

Foto: Mídia NINJA