David Miranda sofre ataques homofóbicos após de vazamentos de Glenn Greenwald no The Intercept
O principal objetivo dos ataques a mim e a meu marido é esconder o fato de que as pessoas não tem uma resposta para as publicações que o The Intercept fez.
Após série de reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil com conversas entre o procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol e o ministro Sérgio Moro, na época Juiz Federal, o deputado federal David Miranda (PSOL/RJ), esposo de Glenn Greennwald, editor-chefe do site, foi vítima de ataques homofóbicos nas redes sociais.
A homofobia infanto-juvenil não fará desaparecer as evidências maciças de delitos cometidos por Moro, Deltan e LJ. Eles estão buscando qualquer coisa porque não têm meios de abordar o conteúdo da reportagem. Oq falar ?! Cortina de fumaça. #VazaJato https://t.co/gAXItklr3S
— David Miranda (@davidmirandario) June 10, 2019
Em entrevista à Mídia NINJA, David conta que vem sofrendo constantes ataques como tentativa homofóbica de deslegitimar o trabalho de seu companheiro.
Conte-nos o que vem acontecendo desde a divulgação da #VazaJato.
David Miranda: Eu postei hoje nas redes sociais sobre os comentários homofóbicos que eu recebi de parlamentares e de outras pessoas. Foram muitos comentários, de todas as formas possíveis, me chamando de namorada, de mulher, esposa… todos os adjetivos. Mas a gente vê que o principal objetivo é esconder o fato de que as pessoas não tem uma resposta para as publicações que o Intercept e meu marido fizeram. Eles utilizam essa artimanha de falar sobre a sexualidade de um casal que está há 14 anos juntos publicamente, tem dois filhos.
Usam a nossa sexualidade para tentar distorcer as informações da denúncia, utilizam a sexualidade e a homofobia, que tem sido uma das táticas desse governo, para fazer cortina de fumaça.
É um absurdo, eles não conseguem fazer uma crítica a um juiz que foi promotor para poder fazer a acusação e o processo de prisão de um acusado, independente dele ser ex-presidente do país ou qualquer outra pessoa. É um absurdo em qualquer instância, completamente fora de ética.
Você teve alguma relação com as investigações publicadas?
DM: Não, não tive nenhuma relação com as investigações e as publicações da Vaza Jato. A equipe do The Intercept que fez é muito capacitada. Sou jornalista também mas estou focado em meu trabalho parlamentar, as vezes faço consultoria de marketing ou comunicação especificamente para meu marido.
Você já participou de uma grande revelação jornalística que teve proporções globais. O que você vê de relação entre o caso do Snowden com o caso do Moro?
David Miranda: Eu participei das revelações, em 2013, do Snowden e agora desse caso do Moro não estou participando diretamente, mas como parlamentar. As duas são pessoas que estão no poder utilizando da sua posição de poder, de influência, de informação para ganhos próprios. Isso mostrou, em 2013, como os Estados Unidos fez espionagem em outros estados, e também mostrou espionagem na Petrobrás, no Ministério de Minas e Energia. E agora, aqui no Brasil, a gente viu a Lava Jato, no começo, atuando para vários partidos e depois focando mais em um determinado partido e determinadas figuras, como vimos nos diálogos divulgados, ocasionando o impedimento de avanços democráticos. As duas foram utilizadas de forma ilegal para obter algum tipo de ganho para algum tipo de governo.
Na sua avaliação, qual seria o papel do Congresso Nacional a partir das informações que vieram a público ontem nas investigações do The Intercept?
DM: O papel do Congresso a partir disso é de convocar uma CPI, chamar o ministro e convidá-lo à depor, começar um processo instigando o Ministério Público e o Ministério da Justiça. Convocar o procurador Geral da República a fazer uma investigação sobre o que foi publicado. O que acho que o governo tem que fazer é o afastamento imediato de todas essas figuras do cargo até as investigações terminarem e serem concluídas. O cenário do governo Bolsonaro vai ficando cada vez mais complicado com mais um escândalo e indícios de corrupção.