Ativistas contra a Vale de 6 países listam observações sobre crime de Brumadinho
Membros da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale apresentam pontos observados sobre o tratamento dado as famílias de atingidos pelo crime da Vale em Brumadinho
A tristeza que toma conta de Brumadinho não impede que os moradores e moradoras atingidos se organizem por seus direitos. Na manhã desta terça-feira (5), membros da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale deram uma entrevista coletiva à toda a imprensa presente em Corrego do Feijão.
Na coletiva, o movimento apresentou observações sobre as ações de reparação que devem ser e que vem sendo tomadas pela Vale, a partir de um estudo local da cidade atingida. Foram levados em conta, além dos impactos ambientais, o tipo de assistência dada as famílias pela Vale e órgãos públicos.
O que se nota é que o crime do rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho é fruto de um comportamento recorrente da Vale, que se repete em outros lugares em que ela atua. A ação da organização objetivou inclusive evitar a concessão da licença ambiental recentemente aprovada para a expansão das atividades da Vale no complexo minerário Paraopeba.
Confira os 10 pontos
A Articulação Internacional junto ao Movimento Pelas Águas e Serras de Casa Branca/ Brumadinho resumiu em 10 tópicos, observações sobre a atuação da Vale, órgãos públicos e tratamento geral sobre o crime em Brumadinho:
- A existência de uma confusão de espaços, atores e missões institucionais nos territórios afetados pelo desastre;
- A iniciativa da empresa em oferecer quase que imediatamente a familiares de pessoas reconhecidas mortas a quantia de R$ 100 mil, a título exclusivo de doação, sem encargos aos destinatários, e sem caracterizar a antecipação da devida antecipação. Há, no entanto preocupações com a forma e os desdobramentos da medida implementada;
- A falta de transparência e compromisso com a verdade diante da recusa da Vale em trazer a público os laudos que teriam atestado a estabilidade da barragem e o plano de emergência para o caso de colapso da estrutura da mesma;
- A falta de zelo e responsabilidade da Vale quanto às suas obrigações na segurança de seus trabalhadores em todos os lugares em que a empresa opera;
- A atuação dos servidores públicos, que mesmo com a carência dos órgãos em que estão vinculados estão se esforçando de forma aguerrida para atender as vítimas e suas famílias;
- A vigilância a correta apuração e reparação das perdas da biodiversidade e dos ecossistemas afetados e fontes de água potável usadas para abastecimento e irrigação;
- A atuação da imprensa desde o inicio tem sido um fator essencial para a efetiva apuração e cobrança das responsabilidades por este crime e a necessidade a permanência no decorrer do tempo para que a devida justiça seja feita;
- A importância de que os órgãos e agentes responsáveis atuem de maneira prioritária, buscando a rápida identificação e responsabilização de todos os envolvidos neste trágico evento;
- A dificuldade de mobilidade causada pela destruição de vias, a desvalorização de imóveis, queda de faturamento de comerciantes, entre outras situações podem e devem ser creditados à Vale, neste território de turismo e outras formas de geração de renda;
- Por fim, salienta-se que a catástrofe em Brumadinho tem direta relação com o comportamento da Vale na desqualificação, silenciamento, monitoramento e criminalização de defensores de direitos humanos e ambientais.”
A Articulação é uma rede de pessoas da sociedade civil no Brasil, Argentina, Chile, Perú, Canadá e Moçambique, que desde 2009 contribuem no fortalecimento de comunidades, promovendo estratégias de enfrentamento aos danos ambientais e às violações de direitos humanos relacionados à industria extrativa da mineração, sobre tudo decorrentes da atuação da Vale em diversos Estados do Brasil e em outras partes do mundo.