Sônia Guajajara: a água é uma das principais razões pelas quais lutamos
Nessa guerra pela água, estamos ao lado da vida, da vida de todos nós, indígenas e não indígenas, e conclamamos a todas e todos que tomem parte ativa nessa luta.
A água é o que garante o nosso bem viver, alimenta as nossas relações com a natureza, as relações entre nós mesmos e as relações entre as sociedades. É por isso que nós não podemos desconhecer que já ocorre uma guerra pela água no mundo, com consequências terríveis para nosso país, não só para os povos indígenas.
As ameaças, mais ou menos explícitas, estão por toda a parte. Envenenamos nossas águas com agrotóxicos. Matamos os rios com dejetos de mineração, com explorações ilegais ao longo dos seus leitos. Mas também matamos nossos rios com a falta de saneamento básico adequado nas cidades, com a especulação imobiliária, com uma educação ambiental ainda muito frágil. Quando vendemos commodities, ou mesmo gado vivo, estamos também entregando água para o mundo, sem receber nada por isso. Por isso, as grandes corporações internacionais estão de olho nas nossas terras, nas nossas águas.
Temos dois dos maiores aquíferos do mundo – o aquífero Guarani, no sul do país fazendo fronteira com nossos vizinhos, e o aquífero de Alter do Chão, na Amazônia. Por isso, precisamos propor um modelo alternativo de desenvolvimento para o nosso país, que é único no mundo.
Podemos, com a experiência que os povos indígenas e as comunidades tradicionais trazem, apresentar ao mundo um novo modelo, ecossocialista, que supere o individualismo exacerbado e o consumismo sufocante que a sociedade vive hoje.
Nós sempre resistimos a esse modelo degradante que tentam nos impor e, cada vez mais, na medida que as mudanças climáticas se fazem sentir, na medida em que os estudos científicos avançam, acabam por reencontrar os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas.
Resistimos até aqui para existir. Mas, para continuar existindo de forma harmônica com a natureza, da qual somos parte, com a nossa Terra, não nos basta mais apenas resistir. Precisamos insistir na mudança, avançarmos na luta.
Nessa guerra pela água, estamos do lado da vida, da vida de todos nós, indígenas e não indígenas, e conclamamos a todas e todos para que tomem parte ativa nessa luta.
Nesse dia mundial da água, faço um apelo pela Vida! Pela nossa vida, pela vida das gerações que ainda virão, pela vida de todos os seres da natureza.
Água é direito, não propriedade!