
35º Cine Ceará chega ao fim com celebração do cinema, da política e de novos imaginários
“Eco de Luz”, do equatoriano Misha Vallejo, foi o grande vencedor, enquanto “Morte e Vida Madalena”, de Guto Parente, foi o filme de encerramento
Por Lilianna Bernartt
O 35º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema se despediu na noite desta sexta-feira (26), em Fortaleza, lotando mais uma vez o histórico Cineteatro São Luiz. A cerimônia de encerramento anunciou os vencedores e contou com a exibição de Morte e Vida Madalena, novo longa do cineasta cearense Guto Parente, que encerrou com emoção uma edição marcada pela pluralidade de vozes e pulsação política.
Na Mostra Competitiva Ibero-americana, o grande vencedor foi Eco de Luz, do equatoriano Misha Vallejo, que recebeu o Troféu Mucuripe de Melhor Longa-metragem e o prêmio de R$ 40 mil destinados à distribuição no Brasil. A obra ainda conquistou os prêmios de Melhor Roteiro, Melhor Montagem e o Prêmio da Crítica Abraccine/Aceccine. Outro destaque foi Al oeste, en Zapata (Cuba/Espanha), de David Beltrán i Mari, agraciado em três categorias: Melhor Direção, Melhor Fotografia e Melhor Som.
Já Un Cabo Suelto, de Daniel Hendler, recebeu os prêmios de Melhor Atuação Principal (Sergio Prina) e Melhor Atuação Coadjuvante (Pilar Gamboa). A produção porto-riquenha Esta Isla levou os troféus de Melhor Trilha Sonora Original (Alain Emile) e Melhor Direção de Arte (Gerardo Veja).
Na Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem, o prêmio de Melhor Curta ficou com Minha Mãe é uma Vaca, de Moara Passoni. O júri ainda destacou Réquiem para Moïse (Caio Barretto Briso e Susanna Lira) com o prêmio de Melhor Direção, e Boi de Salto, de Tássia Araújo, que levou Melhor Roteiro e o Prêmio da Crítica Abraccine/Aceccine.
O curta cearense Peixe Morto, de João Fontenele, foi premiado com o Canal Brasil de Curtas, além do valor de R$ 15 mil e exibição garantida no canal. O Troféu Samburá, concedido pelo jornal O Povo e Vida & Arte, reconheceu Thayara (Mila Leão) como Melhor Filme e Brincadeira de Criança (João Toldi) como Melhor Direção. Já na Mostra Olhar do Ceará, os vencedores foram Centro Ilusão, de Pedro Diógenes (Melhor Longa), e Vermelho de Bolinhas, de Joedson Kelvin e Renata Fortes (Melhor Curta), que também conquistou o Prêmio Unifor de Cinema.
Programação e destaques da edição
A programação deste ano foi atravessada por obras que desafiam o olhar, promovendo encontros entre linguagens, gerações e territórios. No dia 24, o público assistiu à aguardada estreia cearense de Agente Secreto, título que confirmou seu peso na cena contemporânea.
O festival culminou no dia 26 com Morte e Vida Madalena, longa de Guto Parente que, ao encerrar a mostra, simbolizou o espírito da edição: um cinema capaz de abrir feridas, expor contradições e projetar futuros possíveis a partir da própria morte como ponto de partida.
Durante sete dias, o Cineteatro São Luiz esteve tomado por espectadores, reafirmando o festival como um dos maiores símbolos culturais do Ceará. O público lotou as sessões, demonstrando a potência de um evento que, há 35 anos, constrói pontes entre o cinema ibero-americano e a efervescência da produção brasileira. Essa presença massiva é mais que plateia: é sinal de que o cinema permanece como linguagem coletiva, capaz de mobilizar, emocionar e politizar.
Nesta edição, o Cine Ceará continuou a abrir espaço para novas vozes, revelando um recorte plural do que se produz hoje no cinema. Da experimentação estética à busca por narrativas urgentes, a programação mostrou que o audiovisual é um campo vivo de resistência e reinvenção.
E não há como dissociar o festival de seu contexto político. A cidade de Fortaleza foi atravessada pela manifestação do dia 21 contra a chamada PEC da Bandidagem; os gritos de “SEM ANISTIA” ecoaram dentro do Cineteatro São Luiz; e os filmes exibidos reforçaram que imaginar futuros possíveis também é um ato de luta. Mais do que uma mostra de cinema, festivais são espaços de convergência estética e política, em que se celebram corpos, vozes e imaginários que buscam um amanhã mais justo. O Cine Ceará se mostrou, como sempre, mais que um festival: um espaço de acolhimento.

Premiados do 35º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema
Mostra Competitiva Ibero-americana de Longa-metragem
Prêmio: Troféu Mucuripe
- Melhor Longa-metragem
Eco de Luz, de Misha Vallejo (Equador)
(Troféu Mucuripe + prêmio de R$ 40 mil para distribuição no Brasil) - Melhor Direção
David Beltrán i Mari, por Al oeste, en Zapata (Cuba/Espanha) - Melhor Atuação Principal
Sergio Prina, por Un Cabo Suelto, de Daniel Hendler (Uruguai/Argentina/Espanha) - Melhor Atuação Coadjuvante
Pilar Gamboa, por Un Cabo Suelto, de Daniel Hendler (Uruguai/Argentina/Espanha) - Melhor Roteiro
Misha Vallejo e Mayfe Ortega, por Eco de Luz (Equador) - Melhor Fotografia
David Beltrán i Mari, por Al oeste, en Zapata (Cuba/Espanha) - Melhor Montagem
Andrés Cornejo, por Eco de Luz (Equador) - Melhor Trilha Sonora Original
Alain Emile, por Esta Isla, de Lorraine Jones e Cristian Carretero (Porto Rico) - Melhor Som
Jesús Bermúdez e David Beltrán, por Al oeste, en Zapata (Cuba/Espanha) - Melhor Direção de Arte
Gerardo Veja, por Esta Isla, de Lorraine Jones e Cristian Carretero (Porto Rico)
Prêmio da Crítica – Abraccine/Aceccine
- Melhor Longa-metragem
Eco de Luz, de Misha Vallejo (Equador)
Mostra Competitiva Brasileira de Curta-metragem
Prêmio: Troféu Mucuripe
- Melhor Curta-metragem
Minha Mãe é Uma Vaca, de Moara Passoni (Mato Grosso do Sul/São Paulo) - Melhor Direção
Caio Barretto Briso e Susanna Lira, por Réquiem para Moïse (Rio de Janeiro) - Melhor Roteiro
Tássia Araújo, por Boi de Salto (Piauí)
Prêmio da Crítica – Abraccine/Aceccine
- Melhor Curta-metragem
Boi de Salto, de Tássia Araújo (Piauí)
Prêmio Canal Brasil de Curtas
- Melhor Filme
Peixe Morto, de João Fontenele (Ceará)
(Troféu Canal Brasil + R$ 15 mil + exibição garantida no Canal Brasil)
Troféu Samburá – O Povo e Vida & Arte
- Melhor Filme
Thayara, de Mila Leão (Paraná) - Melhor Direção
Brincadeira de Criança, de João Toldi (São Paulo)
Mostra Olhar do Ceará
Prêmio: Troféu Mucuripe
- Melhor Longa-metragem
Centro Ilusão, de Pedro Diogenes - Melhor Curta-metragem
Vermelho de Bolinhas, de Joedson Kelvin e Renata Fortes
(também vencedor do Prêmio Unifor de Cinema – R$ 5 mil)
Júris Oficiais
- Mostra Ibero-americana de Longa-metragem
Alejandro Bazzano (Cuba), Jorge Durán (Chile/Brasil), Katia Adler (Brasil), Marta Aurélia (Brasil) e Patricia Pérez (Cuba) - Mostra Brasileira de Curta-metragem
Alfredo Calviño, Bianca Lenti, Julia Evangelista, Márcio Sallem e Roger Pires - Mostra Olhar do Ceará
Joana Claude, João Batista Silva, Lucas Vitor Scalioni, Marcus Antonius e Rosy Lueji - Abraccine/Aceccine
Celso Sabadin, Eduarda Porfírio e Thiago Sena - Troféu Samburá
Arthur Gadelha, Marcos Tardin, Chico Marinho, Raquel Aquino e Guilherme Gonsalves - Prêmio Canal Brasil
Diego Benevides, Lilianna Bernartt e Vitor Búrigo