Gravado em São Paulo no início de 2021, durante o auge da pandemia de Covid-19, o documentário “O Que Nos Espera”, dos cineastas Bruno Xavier e Chico Bahia, marcou presença durante a programação da 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O filme foi exibido na Mostra Curtas na Praça, em uma sessão especial ao ar livre, em praça pública.

O documentário em curta-metragem faz um mergulho na rotina incansável do padre Júlio Lancellotti, que no Centro Comunitário São Martinho Lima, faz um trabalho de décadas ajudando pessoas mais necessitadas. Durante a pandemia, atrelada aos desmontes e negligências do ex-presidente Jair Bolsonaro, o número de moradores de rua cresceu exponencialmente, fazendo com que o padre intensificasse sua missão humanitária.

O título do filme faz um uma pergunta: O que nos espera? O que vai acontecer com o Brasil após estes casos de devastação sanitária e social?

“Foi um período de muita tensão e muita incerteza. Acompanhando de perto com o padre, vimos o aumento de pessoas que ele passou a atender. Antes eram cerca de 200 pessoas por dia, e depois, o número cresceu para umas 700”, revela Bruno Xavier, que também ressalta a importância do registro: “Criar uma memória do padre é criar uma memória da luta que ele faz e mostrar para o Brasil e para a cidade de São Paulo como é importante todo esse processo dele, sua vida, obra e luta”, completa.

Para Chico Bahia, ficou muito claro que tudo aquilo (as ações e o registro) era um gesto político, de posicionamento claro e necessário para o momento e contexto brasileiro.

“Estar ali, a gente era antes de tudo voluntários. Se fosse preciso carregar caixas, a gente deixava a câmera de lado para carregar e empurrar o carrinho com ele. Fazer um filme ao lado do padre Júlio é colocar esse atendimento em primeiro lugar (…) A partir daí, a gente foi conquistando um nível de confiança e vínculo, podendo acessar ao padre em outros aspectos da vida”, conta Chico.

“O padre Júlio Lancellotti possui uma visão religiosa que é extremamente política e contemporânea, que ensina muito. Como ele mesmo já disse, o Deus que ele acredita não é o mesmo de Bolsonaro, ele não está acima de nós, ele está ao nosso lado”, comenta Bruno Xavier.

Sobre exibir o filme na Mostra de Tiradentes, um dos principais eventos cinematográficos do Brasil, Chico Bahia destaca o fato de ser um filme sobre um padre, passando em uma cidade de origem católica: “Acho muito significativo a gente estar nesta cidade. O padre Júlio é capaz de fazer uma ponte entre diversas questões do país a um público muito amplo”, destaca.

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