Por Fernanda Merizio

O 21º Doclisboa ocorre até o próximo domingo, dia 29 de outubro. O festival internacional de documentários propõe um mundo inteiro em Lisboa, contando com 250 filmes de 42 países, dentre eles, 35 estreias mundiais. A programação é composta de uma competição nacional, uma competição internacional, duas retrospectivas e quatro sessões constituídas por filmes convidados, sendo elas: Riscos; Da Terra à Lua; Heart Beat; e Verdes Anos.

Atenta aos gestos íntimos, pessoais e à descoberta de documentários que buscam traçar caminhos e escritas singulares, a programação do Doclisboa’23 também transparece um desejo coletivo de questionar, reescrever a história e de compreender o presente a partir de uma visão plural, rica de diversidade e subjetividade.

O Doclisboa’23 conta com filmes de diretores consagrados do cinema documental mundial como Robert J. Flaherty, Friederick Wiseman, Werner Herzog, Luis Ospina, Catarina Laranjeiro, Sofia Bairrão, Paul Strand, entre outros.

Miguel Ribeiro, diretor do Doclisboa, comenta: “O Doclisboa tem várias missões e, tal como trabalhamos na ideia de encontrar novas vozes do cinema, cineastas emergentes e criar contexto de força para novas obras, nos parece que temos como missão acompanhar aquilo que cineastas mais estabelecidos tem vindo a fazer e que o Doclisboa possa ser também uma janela para a apresentação desses filmes. Mas também isso acontece em um contexto de que, em Portugal, não existe distribuição de documentários. Ou seja, espero que haja filmes em distribuição comercial, mas é muito incomum um filme desses ir para a sala de cinema. Então o Doclisboa é um espaço para que o público possa assistir a estes filmes no seu contexto que é a sala de cinema”.

A programação também integra filmes historicamente marcantes do cinema brasileiro. Neste ano, Paula Gaitán faz parte do Jury da competição e é também diretora convidada da sessão “Riscos”, apresentando 2 filmes: O Canto das Amapolas e Noite. A presença de Gaitán é sempre uma honra, contagiando as projeções e manifestando um olhar e posicionamentos relevantes durante os debates.

“Há uma relação contínua e de contato permanente, fora esses onze dias de festival, entre o festival e o cinema brasileiro, ou seja, cineastas, produtores e atores do cinema brasileiro. Temos redes e relações muito fortes e por várias razões: partilha de língua, partilha de história, entre outras. E essas várias razões fazem com que tenha um interesse muito grande por parte do público. O Doclisboa assume então esse papel como um dos espaços importantes para a apresentação do cinema brasileiro na Europa e no mundo. E com esse acompanhamento regular, todos os anos nos chegam muitos filmes brasileiros. Alguns cineastas já têm reconhecimento por parte do público, mas também exercemos o papel de apresentar pela primeira vez novas vozes e novos olhares do cinema brasileiro e isto é o que acontece este ano uma vez mais”, comenta Miguel.

O filme Tudo o que vi era o Sol, dirigido por Leonardo Amaral, Pedro Maia de Brito e Ralph Antunes, está em estreia europeia. O filme tem como protagonistas Gil e Kátia, frequentadores do bar da avó de Ralph. O documentário toca as bordas da ficção e do experimental ao imergir no universo onírico do casal. Os diretores Ralph Antunes e Pedro Maia de Brito pretendem dar continuidade à abordagem deste território se aproximando de outras questões subjetivas e culturais locais que envolvem os clientes e amigos que vivem e frequentam o bar. Este desejo se concretizará em um próximo filme ainda em fase de desenvolvimento intitulado O Oráculo do Templo Escarlate, cuja escrita e desenvolvimento foi contemplada com o Prêmio Selina do projeto Arché.

Foto: André Cordeiro

Dentre os demais seis filmes brasileiros que integram a programação, se destacam quatro estreias mundiais: A Câmara, dirigido por Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão; Yvy Pyte – Coração da Terra, dirigido por Alberto Álvares e José Cury; Entre Rios, dirigido por Yohanan Khodr e Diário de um Crime, dirigido por Pavel Tavares. O Doclisboa’23 conta também com Pirenopolynda, dirigido por Izzi Vitório, Bruno Victor e Tita Maravilha em estreia internacional e Guarda Vieja 3458 timbre 3/6, dirigido por Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes em estreia portuguesa.

Para quem está em Portugal, fica o convite de comparecer ao festival, que acontece nas salas da Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal. Vamos ocupar as salas de cinema de Lisboa com as nossas mais distintas sensibilidades e discutir o que está na tela, colocando nossas ideias, teorias e pontos de vista!