Por Daniele Agapito

Cocalzinho de Goiás é daqueles lugares que muitos gringos conhecem, mas poucos brasileiros ouviram falar. No coração do país, em pleno cerrado — a “caixa d’água” do Brasil — a cidade abriga o maior lago subterrâneo da América Latina. A pouco mais de 100 km de Brasília, é porta de entrada para o apoteótico Parque Estadual dos Pireneus e para uma paisagem esculpida por pedras de quartzo pré-cambriano, cenário perfeito para a prática de boulder — esporte de escalada sem cordas que atrai aventureiros da Europa e de outras partes das Américas.

Agora, nos dias 29 e 30 de agosto, Cocalzinho se prepara para receber outro tipo de público: a galera do audiovisual.

Cinema onde o povo está

Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. Ou melhor: Maomé vai até o Morro do Cabeludo — que se transforma em sala de exibição ao ar livre. Escaladores estendem seus crash pads no chão, agora não para subir pedra, mas para assistir a filmes sob um céu estrelado. Enquanto isso, moradores de assentamentos, quilombos e áreas rurais da região chegam em ônibus fretados para curtir a pré-abertura da Mostra ao pôr do sol, no Parque dos Pireneus. Vale lembrar: a cidade não tem sala de cinema e muitos moradores jamais assistiram a um filme em tela grande. Iniciativas de fomento à sétima arte quase nunca alcançam as zonas rurais com essa intensidade.

A programação da Mostra é imersiva: exibições gratuitas de cinema ao ar livre, cobertura com fotografia analógica, shows de trap, oficinas de cinema de bolso e de artesanato em barro, brasilidades, reggae, visitas guiadas no campo, além de queijinhos artesanais e vinhos produzidos em vinhedos locais. Tem também grafite, lambe-lambe e uma competição nacional que estimula a criatividade e impulsiona novos talentos do audiovisual pelo Brasil.

“3 Minutinhos”: criatividade em alta tensão

A disputa acontece na mostra “3 Minutinhos”, um desafio para cineastas — amadores ou profissionais — contarem uma história em até 180 segundos. O prazo para inscrição vai até 24 de agosto. É a chance de impressionar uma curadoria de peso, formada por:

  • Érico Rassi, cineasta premiado com mais de 40 troféus em festivais nacionais e internacionais, diretor de Oeste Outra Vez, destaque no Festival de Gramado 2024;
  • Jorge Paz, ator e produtor nordestino, protagonista de O Sequestro do Voo 375, que lhe rendeu o Grande Otelo;
  • Letícia Benavalli, bióloga, documentarista e fundadora do Instituto Pró-Onça, com pesquisas sobre mudanças climáticas em Oxford;
  • Rodrigo Rangel, diretor de fotografia, escalador e morador de Cocalzinho, em destaque no cinema de montanha e aventura.

As categorias são:

O Que a Terra Não Come
Para tudo que o planeta não consegue engolir: plásticos, rejeitos, lixo eletrônico, poluição e excessos humanos. Vale ficção, clipe, videoarte.
Duração: 1 a 3 min • Prêmio: R$1.000

Entre Causos e Caminhos
Um causo, um saber, uma memória. Histórias passadas de boca em boca, captadas com celular.
Duração: 1 a 3 min • Prêmio: R$1.000
Categoria exclusiva para filmes feitos com celular!

Para se inscrever, clique aqui.

A Mostra e seus caminhos

A ideia da Mostra nasceu em 2024, idealizada por Larissa Corino em parceria com Chiara Luiza e comigo, Daniele Agapito, que vos escreve. Nosso propósito é equipar a comunidade rural para contar suas próprias histórias e promover um intercâmbio entre o campo, a cidade grande e o exterior. A iniciativa se inspira nas boas práticas de inclusão e diversidade que vivenciamos na Cine Ninja e na Nave Coletiva.

Foto: Divulgação

Acesse também o site do evento.