18ª CineOP enaltece a cultura preta e firma seu compromisso com a preservação do audiovisual brasileiro
A equipe da Cine NINJA esteve presente no evento; confira os destaques
Ouro Preto, a histórica cidade mineira, foi palco de um dos eventos mais esperados da agenda audiovisual brasileira, a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, que neste ano completou 18 anos. A edição mais que especial teve como tema “Memória e criação para futuro”, dando foco para a música preta brasileira, que encabeçou a Mostra História intitulada “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)”.
Já na abertura do evento, realizada no dia 22 de junho, foi possível perceber a potência que seria esta grande celebração do cinema e cultura brasileira de maneira geral. A cerimônia contou com a apresentação de Alexandre de Sena e Lira Ribas, além de uma performance audiovisual liderada pelo incrível Maurício Tizumba. A abertura girou em torno dos eixos principais desta edição: preservação, história e educação.
Outro destaque da abertura oficial foi a cerimônia de homenagem ao lendário ator e cantor Tony Tornado, que no auge dos seus 93 anos de vida, subiu ao palco com seu filho Lincoln Tornado para receber o reconhecimento. Tony recebeu o Troféu Vila Rica, destinado aos homenageados da CineOP.
A banda mineira Diplomattas, a cantora Silvia Gomes, e a DJ Black Josie, animaram e esquentaram a noite gelada de Ouro Preto com muita música.
Fechando a abertura oficial com chave de ouro, o longa “Baile Soul”, de Cavi Borges, fez sua pré-estreia mundial. O filme documenta um período entre anos 60 e 70, quando as equipes de som realizavam bailes black em centenas de clubes espalhados pelo subúrbio do Rio de Janeiro, dando origem ao movimento “Black Rio”. O fenômeno colaborou para a consolidação do movimento negro em todo o país.
Ao longo da programação, que aconteceu entre os dias 21 e 26 de junho, filmes como “Caixa Preta”, de Daskia e Bernardo Oliveira, “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente, “Ijó Dudu, Memórias da Dança Negra na Bahia”, de José Carlos Arandiba “Zebrinha”, “Lupicínio Rodrigues: Confissões de Um Sofredor”, e “As Linhas da Minha Mão”, de João Dumans, abrilhantaram a mostra com suas exibições.
Destaque também para a exibição da cópia restaurada de “A Rainha Diaba” (1974), de Antônio Carlos da Fontoura. A nova versão digital do clássico foi recentemente digitalizada a partir dos negativos em 35mm preservados no Arquivo Nacional e de uma cópia 35mm preservada pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv). Estrelado por Milton Gonçalves, “A Rainha Diaba” é considerado um marco do cinema da década de 1970, sendo uma grande referência para o cinema queer brasileiro.
Sem falar na pré-estreia mundial do filme “Lô Borges – Toda Essa Água”, dirigido por Rodrigo de Oliveira e com codireção e produção de Vania Catani. O documentário acompanha o cantor, compositor e músico Lô Borges, que trabalha em um novo disco de músicas inéditas enquanto circula pelo Brasil com a turnê que resgata o repertório que compôs em 1972 para os míticos “Clube da Esquina”, com Milton Nascimento, e o “Disco do Tênis”, seu primeiro disco solo.
Entre o garoto de 20 anos e o experiente músico que acaba de ultrapassar os 70, uma trajetória de brilhos, medos, sonhos e o eterno desejo pela estrada e pela aventura fazem parte da composição. Ao final da exibição, Lô e a equipe do filme foram ovacionados pelo público presente.
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Audiovisual e política
Sete anos após o lançamento do Plano Nacional de Preservação Audiovisual (PNPA), a 18ª CineOP sediou e promoveu reuniões e encontros do setor da preservação e do audiovisual visando a atualização do Plano de Preservação numa construção coletiva que tornou possível a entrega oficial ao Ministério da Cultura/Secretaria do Audiovisual, no encerramento do evento.
“Esta entrega representa um marco histórico para a CineOP, enquanto Fórum eleito para ações, diretrizes e encaminhamentos no campo da preservação e também para o setor da preservação que anseia e trabalha para que a preservação tenha uma Política de Estado representativa do setor”, destaca Raquel Hallak, coordenadora geral da CineOP.
A presença de Joelma Gonzaga (secretária do Audiovisual) e Daniela Fernandes (diretora de Preservação e Difusão Audiovisual da Sav), garantiu uma interlocução direta com o setor e a explicitação de suas necessidades. Joelma anunciou a volta da revista Filme Cultura, que vai ser retomada a partir da edição 64 com textos de temática LGBTQIAPN+, além da presença de um representante da preservação no Conselho Superior de Cinema. A definição do nome, que será chave no encaminhamento de políticas na área dentro do governo federal, virá de uma lista tríplice a ser apresentada ao MinC.
Joelma Gonzaga disse que a preservação é considerada uma prioridade na atual gestão e que uma série de ações serão lançadas nos próximos meses que poderão ser bem aproveitadas pelo setor. “É urgente traçar políticas estruturantes para que a preservação seja tratada com a importância que ela tem”, afirmou.
Entre mais novidades, estão a suplementação de 70% do valor do contrato de gestão da Cinemateca Brasileira; regulamentação do Plano Nacional de Preservação Audiovisual, finalizado na CineOP; instituição da Rede Nacional de Acervos e Arquivos Audiovisuais; levantamento de equipamentos culturais e seus acervos audiovisuais; e inserção da preservação na Lei Paulo Gustavo.
Além de representantes do MinC, a mostra contou também com a presença de Denise Pires de Carvalho, secretaria Nacional de Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), que fez apontamentos acerca do audiovisual no contexto da educação pública brasileira.
Shows
Tratando-se de um evento que celebrou a música preta brasileira, a programação da 18ª CineOP foi repleta de apresentações musicais inesquecíveis. O grande homenageado do evento, Tony Tornado, realizou uma apresentação histórica com muita soul music.
Os eventos noturnos contaram também com shows da banda Diplomattas, formada por Gabriel Martins, Heberte Almeida, Kim Gomes e Robert Frank, que convidaram Maurício Tizumba para a apresentação; do grande rapper Rincon Sapiência, que levantou o astral de todos; de uma das matriarcas do samba, Leci Brandão; e da banda SambaPretoChoroJazz. Sem falar dos DJs Pátrida e DJAHI, que ficaram encarregados de abrir e esquentar a pista.
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