Traduzido por Lilianna Bernartt para a cobertura colaborativa Cine NINJA

Em 1936, o roteirista Dudley Nichols se tornou a primeira pessoa na história a recusar um Oscar. A Academia tentou enviar o prêmio para ele duas vezes, mas ele continuou mandando de volta.

 Nos últimos anos, o Oscar foi repleto de drama e glamour. Desde a controvérsia em torno da indicação de Andrea Riseborough para Melhor Atriz em 2023 até o infame incidente do tapa entre Will Smith e Chris Rock, toda cerimônia traz novos escândalos.

Como o Oscar já tem quase 100 anos, você pode pensar que nos primeiros anos havia mais decoro. No entanto, você provavelmente ficaria surpreso com a quantidade de drama realmente ocorrido dentro e fora do palco naquela época.

Separamos 17 dramas e escândalos do Oscar da Era de Ouro de Hollywood:

  1. Em 1930, Mary Pickford recebeu uma indicação por sua atuação (mediana) no filme “Coquette”. Em um dos primeiros escândalos de campanha de prêmios, ela supostamente convidou os cinco membros do Conselho de Juízes, responsáveis por decidir os vencedores na época, para um chá em sua luxuosa propriedade, Pickfair.Em agradecimento, eles a premiaram como Melhor Atriz.

A indignação com suposto suborno gerou protestos, que por sua vez, levaram a Academia a adotar o sistema de votação utilizado até hoje, permitindo que todos os membros votem nos vencedores.

 

 

 

  1. As irmãs Olivia de Havilland e Joan Fontaine tiveram uma rixa que praticamente começou com o nascimento de Joan. Em 1942, ambas concorreram ao prêmio de Melhor Atriz, e a mídia apelidou de:  “A batalha das irmãs”. Quando Joan, que era menos conhecida na época, ganhou o prêmio, ela “sentiu que Olivia iria pular sobre a mesa e agarrá-la pelos cabelos”.

 

Em seu livro de memórias No Bed of Roses”, de 1978, Joan escreveu: “Todo a animosidade que sentíamos uma pela outra quando crianças, os puxões de cabelo, as lutas selvagens, a vez em que Olivia fraturou minha clavícula, tudo voltou correndo em um caleidoscópio de memórias. Minha paralisia foi total… Eu me senti com 4 anos de idade, sendo confrontada por minha irmã mais velha e pensei: ‘Droga, eu incorri em sua ira novamente!’ 

 

 

  1. Quando Olivia de Havilland finalmente ganhou seu primeiro Oscar em 1947, Joan Fontaine se adiantou para parabenizá-la. No entanto, Olivia rejeitou sua irmã.

Na época, o relações públicas de Olivia disse: “Isso acontece há anos e anos, desde que eram crianças”.

  1. Quando Chill Wills foi indicado a Melhor Ator Coadjuvante em 1960, ele contratou o publicitário W.S. Wojciechowicz para fazer uma campanha para ele. O grande plano do profissional era veicular um anúncio listando todos os outros membros da Academia em que o ator já havia votado.

 

Outro anúncio nomeando todos os membros veio com uma mensagem pessoal do ator, que dizia “Ganhar, perder ou empatar, vocês são todos meus primos e eu amo todos vocês.”

 Em resposta, Groucho Marx publicou um anúncio próprio, que dizia: “Caro Sr. Chill Wills, estou encantado por ser seu primo, mas votei em Sal Mineo.”

Um anúncio final da campanha dizia o seguinte: “Nós, do elenco de Alamo, estamos orando mais do que os verdadeiros texanos oraram por suas vidas no Alamo para Chill Wills ganhar o Oscar de melhor ator coadjuvante. A atuação do primo Chill foi ótima.”

Chill finalmente perdeu. Na cerimônia, Bob Hope brincou: “Eu não sabia que havia alguma campanha até que vi minha empregada usando um broche do Chill Wills.”

  1. Embora tenha sido indicada a Melhor Atriz no Oscar de 1936, por seu papel no filme Perigosa”, Bette Davis não queria estar lá. O chefe do estúdio, Jack Warner, a forçou a ir na cerimônia como forma de protesto contra a formação do SAG, então ela usou um vestido simples de uma fantasia antiga para mostrar seu despeito. Para piorar a situação, Franchot Tone, seu colega de elenco e objeto de sua afeição não correspondida, levou sua esposa Joan Crawford, que à época era a maior rival de Bette. Joan teria ficado de costas quando Bette foi anunciada como a vencedora.

 

Quando Franchot chamou Joan por sua grosseria, ela supostamente zombou: “Querida Bette! Que vestido lindo.”

 A rivalidade de Bette e Joan foi ainda mais complicada pelo fato de que Franchot se casou com Joan durante as filmagens de “Perigosa”, com Bette, que sentiu que Joan tirou Franchot dela “friamente, deliberadamente e com total crueldade”.

  1. Em 1945, Joan Crawford realmente queria interpretar o papel principal em Mildred Pierce, mas o estúdio estava de olho em Bette Davis. No entanto, depois que Bette recusou, Joan os convenceu a deixá-la ficar com ela – então ganhou o prêmio de Melhor Atriz em 1946. Ela aceitou o prêmio da cama.

 

 Em suas memórias, Joan escreveu: “Na noite da premiação, eu estava com febre de 104. Eu estava com gripe na semana passada, filmando Humoresque . Gripe, junto com a tensão nervosa de ser elegível para um Oscar, me deixou tremendo de calafrios e febre… Nós festejamos a efervescência naquela noite, e eu estava tão excitada que a febre baixou.”

Mais tarde, ela admitiu que seus nervos desempenharam um papel muito maior do que ela estava disposta a admitir. Falando com a biógrafa Charlotte Chandler para o livro Not the Girl Next Door, ela disse: “A tensão é tão terrível quando você está sentada lá, esperando. Esperar por Melhor Atriz significa sentar quase a noite inteira. Você tem que manter a compostura  e aplaudir em todos os momentos certos … Então, quando você perde, e eu tinha certeza que perderia, você tem que permanecer sentada lá durante os últimos prêmios, vestindo sua melhor cara … Eu não saberia que papel desempenhar depois de ouvir as palavras que outra pessoa havia vencido, provavelmente Ingrid [Nelson].”

  1. A rivalidade de décadas entre Bette Davis e Joan Crawford chegou ao auge quando elas co-estrelaram “O que terá acontecido a Baby Jane?”. Em 1962. No ano seguinte, apenas Bette foi indicada ao Oscar, então Joan decidiu sabotá-la de duas maneiras – ela fez uma campanha pesada contra ela e se ofereceu para aceitar o prêmio de Melhor Atriz em nome de qualquer indicada que não pudesse comparecer à cerimônia.

Anne Bancroft venceu e Joan alegremente foi ao palco aceitar o Oscar em seu lugar. Ela inclusive posou para fotos com os demais vencedores, no lugar de Bancroft.

 

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  1. Depois que seu marido Mike Todd morreu em um acidente de avião, Elizabeth Taylor começou um caso com Eddie Fisher, marido de sua amiga Debbie Reynolds. Depois que Eddie se divorciou de Debbie, tanto o estúdio quanto o público ficaram do lado dela. Elizabeth foi impiedosamente mal falada pela imprensa e rotulada como “atriz sedutora”, uma imagem que seus próximos dois filmes utilizaram em suas campanhas de marketing. Quando ela tinha o último filme sobrando em seu contrato com a MGM, o estúdio insistiu que ela fizesse “Disque Butterfield 8”, o que ela não queria por ser mais um filme que explorava sua vida pessoal. No entanto, ela seguiu em frente e ganhou um Oscar pelo filme em 1961.

 

Antes da premiação, ela contraiu um caso “grave” de pneumonia. No entanto, um médico realizou uma traqueostomia de emergência, que a ajudou a respirar e ela conseguiu andar pelo tapete vermelho.

Em seu discurso de aceitação ao Oscar, ela disse: “Não sei como expressar minha gratidão por isso e por tudo. Tudo o que posso dizer é obrigada, obrigada de todo o coração”.

  1. Em 1940, Hattie McDaniel se tornou a primeira mulher negra a vencer o Oscar de Coadjuvante por seu papel no filme “E o Vento Levou”. No entanto, o Hotel em que a cerimônia foi realizada era segregado na época e o produtor David O. Selznick teve que solicitar permissão especial para que a atriz pudesse comparecer à cerimônia. Depois de caminhar pelo tapete vermelho, ela foi forçada a se sentar no fundo da plateia, ao invés de sentar na mesma mesa de seus colegas de elenco indicados.

 

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Graças ao vazamento de uma lista de vencedores, ela já entrou sabendo que havia vencido e em seu discurso de aceitação, disse: “Sempre o manterei como um farol para qualquer coisa que eu possa fazer no futuro. Espero sinceramente que sempre seja um orgulho para minha raça e para a indústria cinematográfica.”

Após sua morte, ela deixou seu Oscar para a Universidade – Howard University. Ele ficou em exibição no complexo de belas artes da universidade por algum tempo, mas desapareceu entre o fim dos anos 60 e início dos anos 70.

  1. Em 1943, a distribuidora RKO tentou emplacar o filme “Mulheres de ninguém” como candidato ao Oscar, realizando prévias em dois cinemas da Califórnia, que coincidentemente eram chamados de “Academia. Em seguida, eles veicularam anúncios com slogans como: “Reação da academia: é o melhor filme do ano”. No entanto, a Academia original não se empolgou com o filme, que acabou por não receber indicações.

 

 

  1. Em 1957, Robert Rich ganhou o Oscar de Melhor História Original pelo filme “Arenas Sangrentas”, mas ele não estava lá para aceitá-lo. Durante dias, a Academia tentou rastreá-lo, mas ninguém conseguiu encontrá-lo porque ele não existia.

Bettmann / Bettmann Archive / Via Getty

Os produtores alegaram que ele era um ex-GI que conheceram na Alemanha, mas não estavam mais em contato com ele. Eles também descreveram como ele era para a revista Life, que publicou uma ilustração do misterioso homem.

No entanto, descobriu-se que “Robert Rich” era na verdade um heterônimo utilizado por Dalton Trumbo, o roteirista mais notável da “lista negra de Hollywood”, o que o tornava inelegível para um Oscar em seu próprio nome. Ele já havia sido preso por desacato ao Congresso depois de se recusar a responder a perguntas sobre seus possíveis laços com o comunismo.

Ele se utilizou da controvérsia de “Robert Rich” para criar uma crise de relações públicas para a Academia, com uma série de protestos contra a famosa lista negra. Ele até escreveu um poema sobre isso, que depois enviou à revista Life. Dizia: “Volte, Robert Rich, onde quer que você esteja / Volte para que o fantasma possa ser encolhido. / Você vive na lua? Você vive em uma estrela? / É lá que suas lendas são escritas?”

 

12. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foi fundada em 1927 como “uma liga de nações para Hollywood”. No entanto, durante o movimento trabalhista dos anos 30, sindicatos como o Screen Actors Guild e o Screen Writers Guild foram formados em oposição à Academia. Essas novas coligações encorajaram seus membros a boicotar o Oscar e renunciar à Academia. Foi quase a queda da Academia.

No entanto, o então diretor Frank Capra anunciou que a Academia não faria mais mediações ou negociações, deixando que os sindicatos assumissem esse importante trabalho para seus membros. Essencialmente, ele absteve a Academia de todas as suas funções, exceto o Oscar.

  1. Em 1936, o roteirista Dudley Nichols se tornou a primeira pessoa na história a recusar um Oscar. Ele recuso o prêmio que ganhou pelo filme O Informante. Como membro fundador do Screen Writers’ Guild, ele também faltou à cerimônia como forma de protesto, porque a Academia se recusou a reconhecer vários sindicatos independentes que haviam se formado recentemente. Eles tentaram enviar o prêmio para ele duas vezes, mas ele o devolveu em todas.

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Em uma carta à Academia, ele escreveu: “Como um dos fundadores do Sindicato dos Roteiristas, que foi concebido em revolta contra a Academia e nascido da decepção com a forma como a mesma funcionava, de forma contrária ao talento do empregado, acima de qualquer circunstância. Lamento profundamente não poder aceitar este prêmio. Aceitá-lo significaria virar as costas para quase 1.000 membros do Screen Writers’ Guild.”

Somente quando o conselho nacional de relações trabalhistas certificou o swg em 1938, ele finalmente aceitou seu Oscar.

  1. A partir de 1933, Katharine Hepburn, ganhou quatro Oscars de Melhor Atriz, algo sem precedentes. Entretanto, ela nunca apareceu para aceitar um único Oscar. Ela teria dito: “Para mim, prêmios não significam nada. Meu prêmio é meu trabalho.”

Ela finalmente apareceu em uma cerimônia do Oscar em 1974, usando suas roupas de jardinagem.

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Em 1944, Margaret O’Brien, de sete anos, recebeu o prêmio de Melhor Atriz Infantil. No entanto, a empregada de sua família levou o prêmio para casa para limpá-lo e nunca mais o devolveu. Durante décadas, Margaret sonhou em reencontrá-lo. Quando a empregada morreu, seus filhos encontraram o Oscar, pensaram que era falso e o venderam para um antiquário. Quando estava prestes a ir a leilão, a Academia impôs suas regras de que o Oscar não pode ser vendido e então, em 1995, foi finalmente devolvido a sua legítima dona.

Margaret disse à Fox News: “Sou uma das poucas pessoas que foi representada com o mesmo Oscar duas vezes! A Academia me deu uma pequena cerimônia. Minha vida tem sido uma grande aventura. Tenho sorte.”

 

16. Apesar de hoje ser considerado o “maior filme de todos os tempos”, Cidadão Kane perdeu o prêmio de Melhor Filme para “Como era verde o meu vale, em uma surpresa surpreendente em 1942. A história ainda é considerada como uma dos maiores esnobadas do Oscar. Na verdade, Cidadão Kane não conseguiu ganhar oito dos nove prêmios aos quais foi indicado, levando apenas para casa a categoria de Melhor Roteiro Original.

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17. Por último, em 1938, Alice Brady ganhou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, mas não pôde aceitar o prêmio pessoalmente porque estava em casa com o tornozelo quebrado. Na cerimônia, um homem misterioso pulou no palco, aceitou em seu nome e fugiu com ele. Pelo menos era como a história era contada.

Depois de receber uma bolsa para pesquisar a tradição perdida do Oscar, a estudante de doutorado Olivia Rutigliano investigou essa história. Ela enviou um e-mail à Academia, que a informou que o mistério havia sido resolvido, mas suas descobertas não tinham sido divulgadas publicamente.

Depois de vasculhar recortes de jornais antigos, no entanto, ela descobriu que o “homem misterioso” era na verdade o diretor Henry King, que entregou o prêmio a Alice depois. A pesquisadora descobriu que a história falsa remontava à antologia de 1986 chamada “Por dentro do Oscar”, e que o prêmio havia sido leiloado em Dallas em 2008.

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Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023