15 de Maio: Celebrando o Orgulho Trans e Travesti no Brasil
A data marca o nascimento da Associação de Travestis e Liberados (Astral), no Rio de Janeiro, em 1993, considerada como a base para a criação do movimento de pessoas trans e travestis no Brasil
Por Helena Crestan
O Dia Nacional do Orgulho Trans e Travesti, celebrado em 15 de maio, tem raízes profundas na história do movimento LGBTǪIAPN+ no Brasil. Vamos explorar essa jornada desde os primeiros registros até os dias atuais, destacando figuras importantes e desafios enfrentados pela comunidade trans.
Xica Manicongo: A Primeira Travesti do Brasil
Em 1591, Xica Manicongo, travesti negra escravizada, tornou-se um símbolo de resistência. Moradora da Baixa do Sapateiro, em Salvador, Xica desafiou as normas de gênero da época e se tornou a primeira travesti documentada no Brasil. Sua coragem e determinação pavimentaram o caminho para futuras lutas.
Jovanna Cardoso: Presidenta da FONATRANS
Também conhecida como Jovanna Baby, nasceu no extremo sul da Bahia e cresceu em Vitória (ES), onde iniciou a jornada pelos direitos da população trans e travesti no Brasil. Idealizou e fundou os grupos Damas da Noite, ASTRAL e ANTRA, pioneiros na luta pela dignidade de travestis e transexuais. Desde 2014, ela dirige o Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros, que alia discussões sobre identidade de gênero à questão racial, pressionando o poder público para desenvolver políticas que garantam dignidade à população trans negra.
João W. Nery: O pioneiro
Nascido no Rio de Janeiro em 1950, João foi o primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no país, em 1977, mesmo quando o procedimento ainda não era reconhecido oficialmente. Sua coragem e determinação o transformaram em um símbolo importante na luta pelos direitos da população transmasculina.
Avanços Médicos e Cirúrgicos
Em 1971, ocorreu a primeira cirurgia de mudança de sexo genital em uma mulher trans no Brasil. Seis anos depois, um homem trans também passou pela mesma operação. Esses marcos médicos foram essenciais para a afirmação da identidade de gênero e a busca por direitos e reconhecimento.
A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, publicada em 2011, ainda não foi completamente implementada. Organizações como o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT) e a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) continuam a pressionar pelo acesso adequado à saúde para a comunidade trans. Em 2023, a ANTRA também abordou especificamente as pautas de saúde e atendimento de crianças trans.
Desafios Contínuos
Apesar dos avanços, a comunidade trans ainda enfrenta desafios significativos. A luta pelo uso de banheiros e a segurança contra homofobia e transfobia são questões urgentes. O Brasil, infelizmente, lidera as estatísticas de assassinatos de pessoas trans no mundo. A expectativa de vida de uma pessoa transgênero no país é de apenas 35 anos.
Representatividade e Orgulho
Nomes como Roberta Close, a primeira modelo trans a posar nua para a Playboy, e figuras políticas como Erika Hilton, Thabatta Pimenta, Indianarae Siqueira, Bruna Benevides e muitas outras, outros e outres continuam a inspirar e lutar por visibilidade e direitos. O Dia Nacional do Orgulho Trans e Travesti é uma oportunidade para celebrar essas conquistas e reafirmar nosso compromisso com a igualdade e a diversidade.
Que neste 15 de maio possamos honrar a coragem daqueles que vieram antes de nós e fortalecer a luta por um mundo mais inclusivo e respeitoso para toda a diversidade da existência humana.