
10ª Marcha das Mulheres Negras de São Paulo ocupa o centro da capital nesta sexta‑feira
O ato deste 25 de julho combinará intervenções culturais e políticas.
Na próxima sexta‑feira, 25 de julho, a capital paulista voltará a ser tomada pela força de milhares de mulheres negras que sairão em cortejo da Praça da República a partir das 17 h, rumo ao Theatro Municipal, para realizar a 10ª Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. Com o lema “Mulheres negras em Marcha por Reparação e Bem Viver e contra as violências do Estado”, o ato reafirma a centralidade das pautas de justiça econômica, combate ao racismo e enfrentamento à violência institucional em um momento em que, segundo as organizadoras, “o capitalismo racista segue condenando mulheres negras à precarização, ao adoecimento e ao trabalho análogo à escravidão”.
A marcha deste ano vem ancorada no Manifesto 2025 que denuncia a exclusão que começa ainda na infância, quando meninas negras são empurradas para o trabalho doméstico, e se prolonga até a velhice através de jornadas exaustivas e salários que não chegam à metade do que recebem mulheres brancas no mesmo estado que se gaba de ser o motor econômico do país. Critica‑se, também, a falsa promessa do empreendedorismo como saída individual para problemas coletivos e reivindica‑se reforma tributária que tribute os super‑ricos, jornada de trabalho justa e políticas de economia solidária. Ao lado dessas demandas está a luta contra o genocídio da juventude negra, simbolizada pela lembrança recente da Chacina do Guarujá, e a defesa intransigente da cultura periférica que insiste em ocupar as ruas apesar de tentativas de censura e criminalização, como as recentes restrições ao funk.
Ato em São Paulo
O ato deste 25 de julho – data que celebra Tereza de Benguela e marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino‑Americana e Caribenha – combinará intervenções culturais e políticas. O bloco Ilu Obá de Min, o Bando de Teatro Macuas e apresentação da Casa Laffond de cultura Ballroom estão confirmadas. Durante a caminhada, lideranças entregarão a versão impressa do manifesto a todos os presentes, um documento que exige reparação histórica que inclua acesso à terra, moradia digna, soberania alimentar e enfrentamento ao racismo ambiental que transforma periferias em ilhas de calor, zonas de enchentes e depósitos de lixo tóxico. As organizadoras também pretendem transformar o trajeto em um grande chamado à justiça climática diante da COP 30 que acontecerá em Belém, lembrando que não haverá solução para a crise do clima sem protagonismo de povos negros, indígenas e ribeirinhos.
“Somos herdeiras de Dandara e Tereza de Benguela; marchamos porque nossos corpos seguem vistos como descartáveis, mas também porque carregamos a potência de um futuro que quer Bem Viver para todas as pessoas”, afirma Juliana Gonçalves, da coordenação paulista. Para a jornalista Luciana Araújo, que integra o grupo de comunicação, “a arte e a música que ecoarão no centro da cidade desafiam séculos de silenciamento; cada tambor que bate expõe a negligência histórica do Estado e convoca a sociedade a assumir outro projeto de país”.
A concentração ocorrerá na Praça da República e contará com intérpretes de Libras, audiodescrição e equipe de acompanhantes para pessoas com deficiência. Ao longo do trajeto haverá distribuição de panfletos em português. Nas redes, a mobilização pode ser acompanhada pelo perfil @marchamulherenegrassp, que transmitirá flashes ao vivo e recolherá depoimentos de participantes.
Enquanto houver racismo e desigualdade, reafirmam as organizadoras, haverá marcha – sempre com punhos erguidos, passos firmes e o horizonte do Bem Viver como direito e não privilégio.
Principais pautas 2025
● Reparação econômica e histórica — reforma tributária justa, taxação dos super‑ricos, fim da escala 6 × 1;
● Direito ao território e à moradia — enfrentamento à gentrificação, racismo ambiental e violência policial em periferias;
● Justiça climática — participação efetiva de povos negros e indígenas na COP 30, combate ao “PL da Devastação”;
● Fim do genocídio da juventude negra — demilitarização da vida, investimento em educação e cultura;
● Acessibilidade e interseccionalidade — inclusão plena de mulheres negras com deficiência e população LGBTQIAPN+.