Por Maria Vitória Teixeira

No dia 10/06/2024, o Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo tornou pública a lista final de jornalistas selecionados para participar da Rede de Jornalistas Climáticos de Oxford (Oxford Climate Journalism Network). Foram selecionados 600 jornalistas de 122 países diferentes, dentre os quais destacam-se 32 brasileiros.

A Rede de Jornalistas Climáticos, criada em janeiro de 2022, é um programa da Universidade de Oxford cujo objetivo é apoiar a comunidade global de repórteres e editores ambientais, a fim de aumentar a qualidade, a compreensão e o impacto da cobertura ambiental ao redor do globo. Além de fornecer instrumentos que podem auxiliar o trabalho operacional dos jornalistas, a Rede de Jornalistas Climáticos também  apoia os líderes das redações na identificação e abordagem de uma série de questões culturais e éticas que abrangem as histórias sobre o clima, ajudando-lhes na expansão da cobertura desta questão. 

O programa, cujas inscrições abrem semestralmente, aceita não somente jornalistas cuja área de trabalho seja especificamente a cobertura ambiental e climática, mas também jornalistas de qualquer outra vertente que estejam interessados em acrescentar a dimensão ambiental aos tópicos que cobrem atualmente. 

A Rede de Jornalistas Climáticos parte da premissa de que as mudanças climáticas não são somente um tópico a ser coberto jornalisticamente, mas, acima de tudo, uma questão sistêmica, que tem efeitos sobre diversas esferas da sociedade, a exemplo da saúde, tecnologia e educação. A iniciativa foi fundada em parceria com o Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo e, desde 2022, tem trazido efeitos significativamente positivos para o desenvolvimento de repórteres e editores de todo o globo, além de trazer maior notoriedade para a temática ambiental e climática no âmbito jornalístico. 

A fim de conhecer mais sobre a Rede de Jornalistas Climáticos, bem como entender melhor os impactos positivos que o programa tem sobre o aumento da visibilidade das questões ambientais e climáticas, convidamos o jornalista amazonense e reporter da Mídia NINJA, Cley Medeiros, para falar a respeito da iniciativa da Universidade de Oxford. Cley faz parte do seleto grupo de 32 jornalistas do Brasil selecionados para integrar a Rede de Jornalistas Climáticos, além de ser o primeiro repórter brasileiro fora do eixo sul-sudeste a alcançar essa posição. Confira abaixo a entrevista completa:

Como foi o processo de seleção para a Rede de Jornalistas Climáticos de Oxford e o que significa para você ter sido um dos brasileiros selecionados?

O processo começou em dezembro, por meio de uma chamada pública do Instituto Reuters, que coordena o programa em parceria com a Universidade de Oxford. Foram mais de 700 inscrições. Neste segundo semestre, a sexta turma de membros foi nomeada em junho de 2024. Durante seis meses, o programa se dedica a capacitar e fomentar a troca de informações e produções dos jornalistas ao redor do mundo, com o objetivo de ampliar conteúdos e conhecimento sobre emergência climática. Uma das grandes expectativas é que o programa também aproxima jornalistas da rede, com fontes de pesquisadores disponíveis na universidade.

Fazer parte da rede carrega um grande significado. Nessa edição, fui um dos cinco jornalistas brasileiros selecionados, mas apenas o único de um veículo de comunicação da Amazônia. Isso traz muita responsabilidade. 

Você acredita que o jornalismo ambiental pode gerar um maior engajamento da população a respeito de questões climáticas?

O jornalismo ambiental funciona como um lembrete de que precisamos falar sobre emergência climática. É só ligar a televisão e o que a gente vai ver é o drama cotidiano doo noticiário policial competindo com o ciclo de tragédias de vidas perdidas e biomas destruídos devido enchentes, deslizamentos e outros fenômenos que colocam populações inteiras em risco. Eu acredito que uma das funções do jornalismo que se preocupa com esse tema é também observar como este tema se comunica com outros, quando falamos da falta e acesso ao saneamento básico, por exemplo, que é uma realidade de grande parte da Amazônia. 

Falando um pouco sobre educação ambiental, como você acha que a educação brasileira pode ser utilizada para aumentar a conscientização dos estudantes sobre temas relacionados ao meio-ambiente e a crise climática atual?

Eu fui pequeno guia em um projeto do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), no Bosque da Ciência, em Manaus. Eu devia ter 10 – 11 anos. O projeto era focado na formação de pequenos educadores ambientais da própria comunidade ao redor do bosque, por meio da explicação para turistas dos pontos de visita, como o aquário do peixe-boi, viveiro das ariranhas, casa da ciência… e outras atrações do bosque. 

Esse projeto que me alcançou naquela idade foi responsável por criar uma consciência mais ativa para o tema ambiental, e observar como ele faz parte de todos os outros temas do nosso dia a dia. Acredito que governos, municípios e organizações deveriam expandir métodos desse tipo. É importante para o nosso futuro como humanidade.