A resistência LGBT é uma luta política
Com um homofóbico na presidência da República, nosso dever é ir às ruas, apoiar a Parada LGBT e todos os eventos em prol da comunidade, que sofre com os desmandos desse governo
É impossível precisar o início da luta LGBT no Brasil e no mundo, uma vez que a discussão acerca da sexualidade e identidade de gênero é tão antiga quanto a humanidade. Mas uma coisa dá para afirmar sem medo: a resistência LGBT é rigorosamente uma luta política e é feita de marcos históricos, como toda experiência coletiva.
Se a resistência dos gays, no bar Stonewall Inn em Nova Iorque, contra os absurdos policiais e toda a cultura de repressão marcou a noite de 28 de junho de 1969 para sempre, a luta da população LGBT no Brasil, especialmente neste ano de 2019, fortalecerá ainda mais o debate sobre a questão de gênero e sexualidade no país.
O motivo de eu grifar o ano de 2019 é conhecido por todos. Bolsonaro ocupa o cargo mais importante do Brasil, é declaradamente homofóbico e personifica o retrocesso. Sim, eu sei que é um erro primário, em qualquer debate, reduzir questões sociais, quaisquer que sejam, às pessoas ou experiências individuais. Mas quando se trata deste presidente da República, o “erro” é justificável.
Primeiro porque o que se esperaria de um presidente é que ele deixasse de lado suas convicções pessoais e governasse pelo país e pelo povo. Bolsonaro faz o contrário. Logo que assumiu a presidência retirou a população LGBT das diretrizes de Direitos Humanos. Ele também proibiu o uso de palavras ligadas ao universo LGBT em qualquer tipo de peça publicitária e de divulgação do governo.
Ou seja, pajubá não pode, mas dizer que ter filho gay é falta de porrada pode?
Aliás, o tom homofóbico do presidente influencia alguns lunáticos e preconceituosos, que o apoiam e se sentem autorizados a cometer crimes de ódio. Só para me ater a um caso mais recente, vejam o que está acontecendo com David Miranda, meu amigo e companheiro de bancada, e seu marido, o jornalista Glenn Greenwald. Depois que Glenn publicou pelo site The Intercept Brasil trechos de conversas privadas entre o então juiz Sérgio Moro e procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, entre eles Deltan Dallagnol, o casal sofre inúmeras ameaças de morte. David, inclusive, relatou tudo à Polícia Federal.
O Brasil é o país onde mais se mata LGBTs no mundo, segundo dados Grupo Gay da Bahia (GGB). Só neste neste ano, foram 126 homicídios. Portanto, em hipótese alguma, Bolsonaro poderia dizer tantos absurdos, como ele fez em em abril deste ano quando afirmou que ‘O Brasil não pode ser o país do turismo gay’.
Nosso país, ainda bem, não se resume ao presidente. Um estudo do Sebrae mostrou que o público LGBT é um dos segmentos com maior potencial de turismo no país, e o Supremo Tribunal Federal aprovou, no começo deste mês, a criminalização da homofobia. Além disso, o acúmulo histórico de lutas da população LGBT, com o protagonismo dos trabalhadores, promoveu – e segue promovendo – mudanças significativas em nosso país.
Os pequenos avanços devem ser comemorados nesse mar de retrocessos. E como resistir está no DNA de toda população LGBT, convido a todos a ocupar a Avenida Paulista neste domingo para uma das principais manifestações políticas do mundo, que é a Parada LGBT. Além dela, outros eventos importantes como a 2ª Marcha do Orgulho Trans e a XVII Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de SP também merecem destaque e presença.
Aproveito para fazer um convite especial. Neste sábado, estarei com o deputado federal David Miranda, as codeputadas estaduais Monica Seixas e Erika Hilton, da Bancada Ativista, e outros convidados para um debate sobre a luta LGBT e o governo Bolsonaro. O evento será às 18h30, na sede da APEOESP, em São Paulo. Vamos juntos!