Por Manoela Moura

Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 21 de junho de 1830, em Salvador, Bahia. Filho de uma mãe negra livre, Luísa Mahin, e de um pai branco, cuja identidade permanece desconhecida, Gama viveu uma vida de grandes desafios e conquistas. Sua mãe, uma ativa participante de revoltas de escravizados, influenciou profundamente a trajetória de seu filho. Luís Gama foi vendido ilegalmente como escravo pelo próprio pai aos 10 anos para pagar dívidas de jogo, algo que marcou profundamente sua trajetória de vida.

Quem foi Luís Gama

Levado ao Rio de Janeiro e posteriormente ao interior de São Paulo, Gama encontrou-se em condições de cativeiro. Foi durante esse período que aprendeu a ler, influenciado por um hóspede da casa onde servia. Essa alfabetização inicial foi crucial para que ele começasse a buscar provas de sua liberdade. Em um feito extraordinário, Gama conseguiu provar judicialmente que sua escravização era ilegal, tornando-se um homem livre.

Uma vez livre, Gama alistou-se na Força Pública de São Paulo, onde trabalhou como copista. Em 1856, tornou-se funcionário público na Secretaria de Polícia, período em que começou a ganhar notoriedade por sua habilidade com a escrita e seu fervoroso ativismo abolicionista. Em 1859, publicou seu único livro, “Primeiras Trovas Burlescas de Getulino”.

Embora não tenha sido admitido formalmente na Faculdade de Direito do Largo São Francisco por ser um homem negro, Gama assistiu às aulas como ouvinte e frequentou a biblioteca, adquirindo sólidos conhecimentos jurídicos. Atuou como advogado provisionado, defendendo a liberdade de mais de 500 escravizados, baseando-se na lei de 1831 que proibia o tráfico de escravos.

Defensor do Abolicionismo e da República

Como jornalista, Gama trabalhou em vários jornais, utilizando suas plataformas para denunciar a crueldade do sistema escravagista e promover a igualdade racial. Suas críticas afiadas ao sistema monárquico e à Igreja, que ele acusava de manter o povo na ignorância, foram fundamentais para o movimento abolicionista. Gama também foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista, defendendo a causa republicana e a abolição da escravidão com vigor.

Legado Educacional

Entre 1867 e 1868, Luís Gama escreveu uma série de 14 artigos sobre educação, reunidos na obra “Democracia”. Ele defendia a instrução gratuita e obrigatória, principalmente no nível primário, e a liberdade de ensino. Gama via a educação como um direito sagrado das crianças e um dever do Estado, propondo um sistema educacional abrangente que incluísse escolas em todas as aldeias e colégios em todas as vilas.

Para ele, a educação era a chave para a liberdade individual e o progresso da nação, com educação acessível e sem exceção.

Importância para a Educação

Luís Gama não apenas lutou pela abolição da escravidão, mas também pela democratização da educação no Brasil. Seus escritos e sua atuação como advogado e jornalista foram fundamentais para moldar a consciência pública sobre a importância da educação gratuita e acessível. Sua defesa da liberdade de ensino e a crítica ao controle estatal e religioso sobre a educação foram precursores das discussões modernas sobre o direito à educação.

Luiz Gama faleceu em 24 de agosto de 1882, mas seu legado continua vivo. Em 2020, a Universidade de São Paulo (USP) concedeu-lhe postumamente o título de doutor honoris causa, reconhecendo sua contribuição inestimável à luta pelos direitos humanos e pela educação. Gama permanece uma inspiração, um símbolo de resistência e um exemplo de como a educação pode ser uma ferramenta poderosa de libertação e transformação social.

Comemorando seu aniversário em 21 de junho, celebramos não apenas um abolicionista, mas um visionário que dedicou sua vida a lutar por um Brasil mais justo e educado.