Por Lucas Souza

José Bispo Clementino dos Santos, natural do Rio de Janeiro, foi uma das personalidades mais influentes do samba, consagrado intérprete do século do Carnaval carioca na premiação promovida pela Folha de S.Paulo em 1999 e eleito o maior nome da história das escolas de samba em 2012. 

O compositor, intérprete e sambista conduziu o G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira de 1949 a 2006,  tornando-se bicampeão como intérprete logo em seus primeiros dois desfiles e faturando, ao todo, treze títulos. A qualidade de sua voz e a sobriedade de sua interpretação marcaram fortemente os Carnavais durante seus 57 anos de atuação como intérprete e mais de 70 obras de sua discografia, o tornando tecnicamente um dos cantores mais influentes da MPB.

Após precisar trabalhar como engraxate e jornaleiro em sua infância, quando começou a ter os primeiros contatos com a prática de percussão e cavaquinho, foi convidado pelo compositor Lauro dos Santos “Gradim” a se juntar à Estação Primeira de Mangueira como tamborinista, onde,  em 1968, Integrou a comissão de compositores, ocupando o cargo pelos próximos 35 de sua vida, sempre em atividade.

Embora tenha se destacado em sua relação com as Escolas de Samba, Jamelão se tornou famoso como cantor do rádio e crooner, gravando diversos discos de samba canção com grande sucesso. O cantor iniciou o trabalho com a música em pequenas gafieiras, algumas sem microfone, onde demonstrou a potência de sua voz ao precisar competir com o naipe dos metais. A grande extensão vocal e o timbre metálico, alinhados a uma dicção clara e um bom trabalho de respiração, foram fatores que contribuíram para a preservação da qualidade de sua voz até uma idade avançada. Em 1947 vence o concurso da Rádio Clube do Brasil e, após trabalhar com a rádio por um ano, é contratado como crooner pela Orquestra Tabajara.

Pioneiro na gravação de samba-enredo e partido-alto, Jamelão conseguiu explorar as mais diferentes vertentes musicais do gênero e se estabelecer como expoente dos dois estilos mais extremos: o samba-canção (de notas mais extensas) e o samba-enredo (cantado de forma mais acelerada), além de conciliar, sem diferenciações, os sambas “de morro” e os “de boate”, como foi expresso no disco “O Samba É Bom Assim (O Morro e a Boate na voz de Jamelão)”.

O cantor vascaíno observou que “o artista negro sempre encontra uma barra mais pesada”, tendo em vista que “no meio musical todo mundo quer o crioulo, mas para fazer figuração, para tocar pandeiro e agogô e as mulatas para sambar”, mas “para ser estrela não serve, tem de ser branco e de preferência boa pinta”. O que o fez reconhecer que já foi “deixado de lado em função de outros caras só porque eram brancos”, no entanto, declarou manter sua confiança, “porque sei que as pessoas que hoje me desprezam vão me amar”.

Em 1998 Jamelão conquistava seu sexto Estandarte de Ouro como Intérprete do carnaval carioca e já no ano seguinte foi nomeado Intérprete do século. Dois anos adiante, se torna o presidente de honra da Mangueira e no mesmo ano recebe a Medalha da Ordem do Mérito Cultural. Em eleição realizada em 2012, José Bispo Clementino dos Santos foi eleito o maior nome da história das escolas de samba, superando ícones como Cartola, Ivone Lara, Joãosinho Trinta e Paulo da Portela. 

Jamelão faleceu em 2008, nesse dia, 14 de junho, aos 95 anos, vítima de uma infecção generalizada. O presidente de honra de 2001 foi homenageado pela Mangueira no enredo de 2022, ao lado de Cartola e Delegado. Conforme o que diz no Hino de Exaltação à Mangueira, “A Mangueira não morreu e nem morrerá”, Jamelão também será imortal, pois “teu passado de glória está gravado na história”.