Por Mariana Grilli, especial para NINJA

As recentes queimadas vivenciadas pelo Pantanal reforçam a tendência de que 2024 será o ano de pior crise hídrica no bioma. É isso o que aponta um estudo inédito publicado este mês, pela ArcPlan e WWF-Brasil. Com o Pantanal cada vez mais seco, aumenta também a preocupação com a biodiversidade, a exemplo das araras azuis.

Símbolo do bioma, a espécie de aves tem sofrido com incêndios desde 2019. Naquele ano, dos 110 ninhos monitorados pelo Instituto Arara Azul em uma área controlada, quase 50% foi afetado direta ou indiretamente, levando à queima dos ninhos, perda de ovos e óbito dos filhotes.

“Pior do que tudo isso, foi verificar que o efeito dos incêndios não cessou após o término do fogo. Eles persistiram por mais de quatro anos, afetando a reprodução das araras azuis, que tiveram baixa imunidade e começaram a apresentar lesões na pele, com maior perda de filhotes e menor número de juvenis sobrevivendo”, conta Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul e vice-presidente do Conselho Regional de Biologia de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo.

Foto: Instituto Arara Azul

Bióloga da conservação e estudiosa das araras azuis desde 1990, Neiva Guedes conta que ainda não há levantamento sobre as consequências do atual alastramento de fogo. No entanto, equipes do Instituto Arara Azul já avaliam áreas queimadas no município de Miranda (MS).

A estiagem é um ponto crítico, inclusive para a recuperação da fauna e flora após a incidência do fogo. Em 2024, de acordo com o estudo encomendado pela WWF, o Pantanal não teve período de cheia. Nos primeiros quatro meses do ano, quando deveria ocorrer o ápice das inundações, a média de área coberta por água foi menor que a do período de seca do ano passado.

Segundo dados do MapBiomas, o Pantanal foi o bioma que mais secou desde 1985, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e econômicos. O ano de 2023 foi 50% mais seco que 2018, que foi a última grande cheia no bioma. Diante da sucessão de anos com poucas cheias e secas extremas, o receio dos especialistas é que haja uma mudança permanente no ecossistema do Pantanal.