Banquetaço reúne movimentos sociais e sociedade civil pela volta do Consea
O ato pela volta do conselho alimentar ocorreu na Praça da República, em São Paulo, e em mais de 40 cidades do Brasil.
Por Ana Mosquera, de São Paulo
Nessa quarta-feira, dia 27 de fevereiro, o vão entre as usuais barracas de artesanato e o imponente prédio da Secretaria da Educação, na Praça da República, amanheceu aos poucos, mas não menos enérgico do que o Centro de São Paulo sempre foi. Desde às 9h da manhã, tendas, faixas, totens, camisetas pintadas, plantas, mesas, caixas de comida e de som foram sendo posicionados por aqueles que vestiam camisas de movimentos, voluntários à paisana, muitos portadores de câmeras e celulares, além de transeuntes curiosos, todos prestes a se integrar em nome de uma só luta: a volta do Consea.
Com o objetivo de questionar a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional pelo presidente da República Jair Bolsonaro em seu primeiro dia de mandato, membros de movimentos sociais e da sociedade civil se reuniram em vários municípios do país para realizar o ato público conhecido como Banquetaço. Além do usual banquete preparado a muitas e carinhosas mãos, a mobilização contou com apresentação musical, sorteio de livros, brincadeiras e teve até ciranda em torno da mesa que alimentou filas de pessoas em um dos principais espaços públicos da capital paulista.
Edvaldo Gonçalves, coordenador estadual do Movimento Nacional População de Rua, que já contou com membros no Consea e também colaborou para a realização do evento, falou sobre a importância do conselho alimentar para a proteção do alimento que chega até às ruas, onde muitos morrem todos os dias por intoxicação. Para Jovenil Ribeiro, outro membro do População de Rua, a discussão sobre o alimento sem veneno é muito importante. “O Consea luta pela alimentação saudável, sem agrotóxico, da agricultura familiar. Agrotóxico é demais no Brasil. Mas a gente luta até o fim, né?”, conclui Jovenil.
O banquete, servido no almoço em quase 1500 recipientes, foi preparado a partir de doações, seja de recursos e/ou de mão-de-obra, como faz questão de lembrar Simone Gomes, membro do coletivo Banquetaço. A cozinheira, ativista e educadora ainda comenta, “O Banquetaço contou com muitos movimentos sociais. Teve apoio da horta da Faculdade de Medicina da USP, das hortas da cidade de São Paulo. Nós recebemos 100 quilos do arroz do MST, farinha de mandioca dos índios guaranis da Cooperativa de Parelheiros. Todos pelo direito humano à alimentação”.
Entre tantos que se mobilizaram para colocar a mão na massa e preparar deliciosos alimentos caseiros para compor o banquete sinônimo de luta, estava a Chef Adriana Vernacci, membro da Aliança dos Cozinheiros e do GT de Educação do Slow Food Brasil. Para Adriana, “é muito importante esse conhecimento sobre alimentação, o que nós estamos comendo, e o governo infelizmente quer tirar o que a gente já conseguiu no Consea. Fazer parte de todo esse projeto é o nosso ativismo, acreditando no alimento bom, limpo e justo.”
No que diz respeito à saúde, uma das principais conquistas do conselho nacional foi a criação do Guia Alimentar para a População Brasileira. Durante o ato, nutricionistas estiveram presentes, explicando e distribuindo folhetos sobre o material tão relevante. Para Tatiana Rocha, nutricionista e gerente técnico-administrativa do Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo, a população perde muito com a extinção. “A gente precisa das pessoas cuidando dessa população. Espero que a gente consiga reverter essa situação, que as pessoas tenham consciência de uma alimentação natural e saudável, e de que a gente precisa desses órgãos e dessas instituições lutando pelos nossos direitos. Alimentação é fundamental”, completa Tatiana.
A iniciativa contou com apoio expressivo da sociedade civil em geral, representada por cozinheiros, chefs de cozinha, comunicadores, pesquisadores, estudiosos, voluntários e curiosos, que tiraram algumas horas de uma quarta-feira comum pré-Carnaval para ajudar a compor a ação. O Banquetaço aconteceu em mais de 40 cidades do Brasil, entre capitais, interior e litoral, todos unidos simbolicamente por um único objetivo, a manutenção de um dos mais importantes canais de comunicação do povo com o governo federal, no que diz respeito às questões alimentares e de saúde da população brasileira.