Texto por Laura Süssekind

Karim Aïnouz é um dos mais renomados diretores brasileiros da atualidade. Duas vezes indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, com ‘Firebrand’ (2023) e ‘Motel Destino’ (2024), recebeu mais de doze minutos de aplauso no evento. Cearense, filho de uma mãe brasileira e de um pai argelino, mas criado por sua mãe e sua avó, Karim é conhecido por seu trabalho no audiovisual que explora personagens desvalorizados e oprimidos na sociedade.

Com filmes como ‘Madame Satã’ (2002), ‘O Céu de Suely’ (2006) e ‘Praia do Futuro’ (2014) em seu catálogo, o diretor utiliza seu espaço na área em que atua para marcar firmemente suas posições, explorar variadas culturas e levar a cultura cearense para o mundo, trazendo sensibilidade, beleza, alegria e vida às telas.

Em discurso sobre o seu mais recente longa-metragem, declarou: “Depois de quatro anos de terror, estou muito feliz por ter podido voltar a filmar no Brasil e fazer um filme que celebra a vida, a alegria e a paz”. Em Cannes, em 2023, reforçou seu apoio ao presidente Lula e chamou atenção para a Argélia, país de seu pai, que passava por um momento político complicado. Disse ao Correio Braziliense em entrevista antes do Festival de 2024: “Lá, saem as verdades, quando a gente está no lugar de fala. O mundo inteiro nos ouve, é o terceiro evento mundial com maior concentração de imprensa, junto com o Oscar e a Copa. Vou falar algo sobre o Rio Grande do Sul. É importante falar disso.”

Ademais, em 2019, seu filme ‘A Vida Invisível’ foi vencedor da mostra ‘Um Certo Olhar’ no Festival de Cannes. Em entrevista para O POVO, no mesmo ano, disse: “Eu sei que é um prêmio inédito para o cinema brasileiro, é a primeira vez que a gente ganha ele na história do Festival de Cannes. Nesse momento especificamente no Brasil – onde existe um certo desejo de se vilanizar quem faz cultura, cinema, todo um movimento de descontinuidade em relação às políticas do audiovisual -, acho que esse prêmio foi recebido com muita alegria no mundo e no país e essa alegria me contamina muito.”

Seu filme inglês ‘Firebrand’, lançado no Festival de Cannes do ano passado, estreia essa semana, dia 14 de junho, nos cinemas norte-americanos. O ‘thriller’ psicológico conta a história de Katherine Parr e como a mesma sobreviveu ao casamento com o monstruoso rei Henrique VIII. Sobre esse projeto, Karim conta achar interessante trabalhar essa história sobre um poder colonial a partir da perspectiva de alguém que vem de dois países que sofreram imensamente com as dominações. Considerou a nova aventura importante e, apesar dos preconceitos sofridos durante o processo, disse à revista ELLE: “Mas eu gosto. Porque a gente está aí para fazer as coisas serem diferentes. ‘Madame Satã’ é muito sobre isso. Você não está me deixando entrar? Então vou quebrar sua porta, não vou pedir licença.”

O diretor desafia os padrões e as limitações de cabeça das pessoas, desde o início da carreira. Com ‘Madame Satã’ (2002) chocou diversos espectadores na estreia, que chegaram a se retirar da sala após cena de sexo entre dois homens. Na época, Karim ficou surpreso com tais reações. No entanto, ele nunca achou a polêmica negativa. Desde então — mais de vinte anos atrás — já reforçava não estar trabalhando para agradar a todos e que tais choques poderiam ser produtivos.

Além disso, ‘Motel Destino’ – filme cearense aplaudido por doze minutos, em Cannes – ganhou data de estreia no Brasil e será exibido a partir do dia 22 de agosto nos cinemas. O longa explora a história de uma mulher em relacionamento abusivo com o dono de um motel, e um jovem que, após fugir da polícia, se esconde no local, transformando o cotidiano e a vida de ambos.