Por Leila Monnerat

No México, o observatório #ChatarraInfluencer, promovido pela organização El Poder del Consumidor (@poderdelc) em parceria com a Tec-Check A.C. (@teccheckmx) vem ganhando destaque por combater perfis de influenciadores digitais que promovem o consumo de alimentos ultraprocessados entre as crianças. A iniciativa visa conscientizar a população sobre os perigos da publicidade disfarçada e a necessidade de regulamentar a atuação desses influenciadores que, muitas vezes, não divulgam a natureza comercial de seus conteúdos.

A campanha tem como foco principal os influenciadores digitais que utilizam suas plataformas para promover alimentos de baixa qualidade nutricional, atingindo diretamente um público jovem e vulnerável. Essa prática, que se aproveita da confiança e da intimidade construída com os seguidores, tem levado a um aumento significativo no consumo de ultraprocessados entre as crianças, contribuindo para problemas de saúde como obesidade e diabetes​​.

Dados recentes mostram que muitos influenciadores, com milhares de seguidores, estão sendo utilizados por grandes marcas para promover seus produtos sem uma clara indicação de que se trata de publicidade paga. Essa prática, conhecida como “marketing boca a boca digital”, tem se mostrado extremamente eficaz, mas também altamente enganosa, uma vez que os seguidores muitas vezes não percebem que estão sendo alvos de propaganda​​.

O México vem continuamente alterando sua legislação para reduzir o consumo de ultraprocessados. Sua política tarifária com taxação extra das bebidas açucaradas iniciada em 2014 fez cair a venda desses produtos. Já em 2020, o país implementou o sistema de rotulagem frontal nos alimentos e passou a alertar os consumidores sobre produtos com elevados níveis de ingredientes prejudiciais à saúde, como açúcar, sódio, gorduras saturadas e trans, além das calorias excessivas. Em 2022 foi passou a valer a lei que proíbe a venda de ultraprocessados em escolas. Esse investimento pesado na mudança da legislação se dá pelo fato de 1/3 da população mexicana ser afetada pelo sobrepeso e a obesidade.

Com relação aos conteúdos divulgados em redes sociais, as organizações El Poder del Consumidor e Tec-Chec Mx detectaram – a cada 45 minutos de gravação – 69% de publicidade de comida ultraprocessada em conteúdos veiculados por influenciadores através de plataformas como Instagram, TikTok e Facebook. Com base nisso, elas estão exigindo a alteração na legislação de modo a impedir esse tipo de campanha, pois o país possui as maiores taxas de obesidade infantil e sobrepeso do mundo, segundo dados de 2022.

O projeto Ley Influencer e sua tag #LeyInfluencerJa, juntamente com a tag #ChatarraInfluencer, buscam educar pais e responsáveis sobre a importância de monitorar o conteúdo consumido pelas crianças nas redes sociais. Além disso, pressiona as autoridades a implementarem regulamentos mais rígidos sobre a publicidade infantil, especialmente no que tange aos produtos alimentícios. A meta é que influenciadores sejam mais transparentes sobre os conteúdos patrocinados e que haja uma redução na promoção de alimentos prejudiciais à saúde​​. Bimbo, Danonino, Snickers, McDonalds e Krispy Kreme estão entre as marcas patrocinadoras de publicidades e fora listadas pelo observatório que recebe denúncias de todo o país através de seu site. Mães influenciadoras digitais que promovem campanhas publicitárias de fórmulas infantis também estão na mira das entidades.

A campanha não apenas alerta sobre os perigos desse tipo de publicidade, mas também propõe medidas concretas, como a criação de uma legislação específica que regule a atuação dos influenciadores e a publicidade direcionada a crianças. O objetivo é garantir um ambiente digital mais seguro e saudável para os jovens, protegendo-os da influência negativa dos alimentos ultraprocessados​​.

Com a crescente popularidade dos influenciadores digitais, a campanha #ChatarraInfluencer ressalta a urgência de se discutir e regular essa nova forma de publicidade. Ao conscientizar a sociedade e pressionar por mudanças legislativas, “El Poder del Consumidor” e “Tec-Check” esperam reduzir o impacto negativo dos ultraprocessados na saúde das crianças mexicanas, promovendo hábitos alimentares mais saudáveis e uma infância livre da influência prejudicial da propaganda disfarçada​​.

O México é o 3° lugar na América Latina com a maior quantidade de influenciadores, seguido por Argentina e Brasil.