Por Lucas Souza

A resiliência e o sofrimento do povo diante das dificuldades impostas pela seca inspiraram diversos músicos a utilizar do poder de conscientização e propagação de ideias de que a música dispõe para refletir e protestar contra o abandono dessa população. Nessa data, Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação, selecionamos algumas obras que refletem criticamente a questão da seca e seus desdobramentos na vivência popular.

Vozes da Seca – Luiz Gonzaga

A letra é um apelo direto às autoridades, criticando a assistência oferecida na forma de esmolas e clamando por soluções estruturais que possam aliviar o sofrimento e a pobreza crônica da região. O autor argumenta que com as medidas adequadas, a região poderá prosperar e contribuir significativamente para a riqueza da nação. A música termina com uma nota de esperança, sugerindo que o destino do Nordeste está nas mãos das autoridades, mas também na capacidade de superação do próprio povo. Composição: Luiz Gonzaga / Zé Dantas.

Seca do Nordeste – Clara Nunes

Representando a realidade árida e desafiadora enfrentada pelos habitantes do sertão nordestino, a imagem do lavrador lutando contra o solo duro é uma metáfora para a luta incessante e muitas vezes infrutífera dos agricultores contra a seca implacável. No auge do desespero, alguns se revoltam contra Deus, enquanto outros rezam com fervor. Composição: Gilberto de Andrade / Waldir De Oliveira.

Seca – Djavan

O desdém do poder fingido refere-se à indiferença das autoridades e do governo, que muitas vezes prometem ajuda, mas raramente cumprem. A felicidade é um conceito distante para essas pessoas, e viver se torna uma experiência assustadora, marcada pela incerteza e pelo medo. Djavan aponta para um céu azul, o mesmo céu que cobre outras partes do país, sugerindo uma igualdade fundamental que é ignorada pelas circunstâncias. Composição: Djavan.

Segue o Seco – Marisa Monte

A descrição de uma paisagem onde tudo é seco não apenas pinta um quadro da seca física, mas também sugere uma secura emocional/espiritual. O título pode ser interpretado como uma crítica à indiferença diante de um problema tão grave. A música também toca na questão da água como recurso finito, destacando que a busca desenfreada por água pode levar a mais destruição. Composição: Carlinhos Brown.

A Seca – Alceu Valença

A música transmite a dor e o sofrimento dos sertanejos, que choram diante da impotência frente à natureza implacável. A Asa Branca, símbolo da esperança e da resistência nordestina, é mencionada em contraste com a realidade árida. A água desaparece dos poços, e a morte se torna uma presença constante. A roça, que antes era verde e produtiva, agora é apenas um campo seco e estéril. Composição: Alceu Valença.

Maringá – Inezita Barroso

A letra, homenageando a resiliência do povo sertanejo, conta a história de uma cabocla chamada Maringá, que se torna uma retirante, alguém que precisa deixar sua terra natal em busca de melhores condições de vida. A canção destaca a tristeza que se abate sobre a cidade de Pombal após sua partida e a imaginação de um futuro onde a saudade possa ser aliviada. Composição: Joubert de Carvalho.

Pedido a Padre Cícero – Ary Lobo

Diante dos desafios impostos pela seca, se expressa o desespero frente à necessidade de chuva para a sobrevivência de seu povo. O desaparecimento constante da cor verde no sertão é comparado ao desaparecimento da imagem simbólica da esperança no imaginário da população, que passa a encontrar água somente nas lágrimas derramadas meio à escassez de alimento. Composição: Gordurinha.

Chuva de Honestidade – Flávio Leandro

Criticando a corrupção e a ineficiência dos políticos, a “mão boba” que engana o povo é uma metáfora para a desonestidade dos que deveriam gerir os recursos hídricos e promover o desenvolvimento da região. A música expressa o desejo por “chuva de honestidade”, uma metáfora para ações íntegras e justas que realmente beneficiem a população. Composição: Flavio Leandro.

Quede Água? – Lenine

Lenine critica o lucro a curto prazo, o uso de agrotóxicos e combustíveis fósseis, e a urbanização desenfreada que contribuem para a degradação ambiental. Ele descreve um futuro sombrio onde a selva se torna savana, o mangue vira lixão, e o sertão se transforma em deserto, enfatizando que a tragédia da seca afetará principalmente os pobres, que já sofrem com a falta de recursos.Composição: Carlos Rennó / Lenine.

Fonte: Letras.mus.br.