Rio de Janeiro, 15 de junho de 2023. Esta semana vieram à tona dois casos que chamaram atenção da sociedade. Uma escrivã da Polícia Civil de Minas Gerais cometeu suicídio depois de sofrer pressão psicológica e assédio moral dentro da corporação, e uma campanha do Ministério Público de São Paulo (MPSP) que alerta para assédio e sobrecarga no MP, que levaram ao suicídio de quatro pessoas em menos de um ano, sendo que três casos ocorreram em menos de 24 horas.

Nas corporações da Polícia Militar (PM) a situação não é diferente. Um levantamento realizado pelo Fórum Nacional de Segurança Pública (FNSP) revela que, estatisticamente, policiais cometem até cinco vezes mais suicídio que a população em geral.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública revela que, em 2021, 80 policiais tiraram a própria vida. Especialistas em saúde mental explicam que as principais circunstâncias para o crime capital entre policiais são rotina exaustiva, assédio dentro da corporação, desvalorização profissional, má gestão e risco da profissão.

Em outros casos, já aconteceram de policiais tirarem a vida dos próprios colegas de profissão, como foi o caso de um sargento da Polícia Militar de São Paulo que matou seu comandante, no final do mês de maio deste ano. Ele alegou que era perseguido pelo superior e que estava trabalhando em escalas exaustivas. Crimes como esse se repetiram 13 vezes entre os anos de 2021 e 2023 e envolvem também bombeiros, guarda vidas municipais, policiais civis e penais, além de militares do Exército e guardas municipais.

Por outro lado, os negros fardados têm aumentado nas corporações. Um levantamento realizado para a V Reunião Equatorial de Antropologia, revela que, dos 1.181 policiais militares entrevistados no Distrito Federal, 66,9% se declararam negros, um total de 791 agentes. Segundo a organizadora do artigo “‘Tem que ter raça’: Polícia Militar como ascensão social negra”, Aline Maia Nascimento, para os policias negros, um corpo negro fardado rompe com o mito historicamente construído da população negra como desordeira e conflituosa: “Para eles, a presença massiva de negros na corporação comprova que os mesmos são controladores e mantenedores da ordem social”.

Esses dados revelam o risco que a sociedade corre quando se fala em segurança pública e a importância de tratamento para esses profissionais, uma vez que, quando não se comete o suicídio, o risco é de ir para as ruas, onde veremos cenas como as de um homem amarrado e carregado pelos policiais em São Paulo. Sabemos também que, infelizmente, a população que mais sofre com as abordagens truculentas das polícias são os negros e periféricos.

Estes grupos são marginalizados e tratados de forma diferente de uma abordagem em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca ou no Morumbi.

A saúde mental de quem cuida da sociedade não pode ser negligenciada e precisa, diariamente de tratamento, de cuidados. Os números estão aí para mostrar que a pauta é urgente e quanto mais se demora para tomar providências, mais a sociedade se torna refém de profissionais doentes. Não se pode negligenciar a saúde mental, principalmente de quem anda com armas nas mãos.