Com 12 horas de evento e mais de 30 atrações, o Festival reuniu importantes nomes da cena artística nacional e outros convidados especiais em apresentações intimistas e exclusivas

— Natália Bretas e Marcelo Argôlo
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Não é live, é festival! Esse foi o Coquetel Molotov .EXE, versão totalmente online do festival pernambucano, que permitiu o evento acontecer mesmo em meio à pandemia. No sábado (11) o encerramento da edição foi uma maratona musical que reuniu importantes nomes da cena artística nacional e convidados especiais em apresentações intimistas, energéticas e exclusivas.

Desde 1º de julho o Coquetel realizou oficinas e experiências que envolveram conhecimento, bem estar, interatividade virtual e, claro, muita música. O evento foi gratuito, com ingressos solidários revertidos. O dinheiro arrecadado pelo Coquetel foi doado para a Ecovida Cooperativa Palha de Arroz, que é formada apenas por mulheres catadoras de materiais recicláveis de Recife. A Palha de Arroz conta com 20 cooperadas e já recebeu projetos como o Pimp Nossa Cooperativa, além de oficinas técnicas aliadas a formações sociopolíticas em gênero e empoderamento feminino.

Mc Tha – Foto: Nina Quintana

O Coquetel Molotov .EXE reuniu nomes com presença carimbada em suas versões físicas, como a banda Boogarins, além de grandes artistas que se dividiram em 4 palcos virtuais: Itaipava, TNT, ¼ e o Lounge do Senta, com atrações diversas completamente diferentes de tudo que já vimos nessa quarentena. Foram 12 horas de evento e mais de 30 atrações que se apresentaram através do Zoom. Tássia Reis, MC Tha, Giovani Cidreira, Rayssa Dantas e Deborah dos Falsetes estavam entre os artistas que se apresentaram no Festival.

Ana Garcia, diretora e uma das fundadoras do Coquetel Motolov, destacou a proposta de incluir outras formas de manifestação no evento, o que sempre foi uma marca do projeto.

“O Coquetel nunca foi só música. A gente sempre tenta trazer algo que faça sentido ou que esteja comunicando com o nosso público no momento. Então, nessa edição de quarentena, trouxemos toda essa programação para a galera poder se libertar”, afirmou.

O festival foi uma realização da Coda Produções, com apoio da Mídia Ninja e cobertura online, colaborativa e em tempo real do S.O.M. 

Otto – Foto: Nina Quintana

Destaques da programação

Quem abriu o último dia de festival, no Palco Itaipava, foi Leo da Bodega, novo nome da cena trap de Pernambuco. O artista se lançou no meio da quarentena com os singles “Lareira” e “Anjo”, e já se destacou. Direto da Bodega do Veio, espaço icônico do centro de Olinda, essa foi a primeira apresentação oficial do artista e que bela estreia. Rimas afiadas, beats potentes, presença contagiante. Com o beatmaker Kleyton Abraão no comando das bases, Leo botou a galera pra dançar e prometeu uma mixtape com músicas inéditas nos próximos meses.

O segundo show ficou por conta da catarinense Gab Ferreira. Acompanhada dos músicos Fabiano Benetton e Roberto Kramer, a cantora apresentou as canções da sua mixtape “Lemon Squeeze”, lançada em 2018. Entre os sucessos, a artista cantou uma versão diferenciada para a faixa “Summer Love”, canção que na versão original tem a participação da YMA. Imersos numa atmosfera colorida e intimista, o trio embalou o fim de tarde do público.

Logo depois, quem comandou foi a banda Boogarins, que fez um show interestadual. A apresentação começou com o guitarrista Benke Ferraz em Pernambuco, que mandou até um cover de Nirvana para o delírio do público online. Na sequência, o cantor Dinho Almeida e o baixista Fefel tocaram direto de São Paulo. Presença certa nas edições presenciais do Festival, a banda goiana não fez diferente e embalou os fãs com sucessos como “Foi Mal” e “Infinu”.

Luna Vitrolira – Foto: Nina Quintana

Em uma experiência imersiva e no jogo de palavras, a poeta recifense Luna Vitrolira foi a quarta atração. Todo seu repertório é oriundo de seu livro, intitulado “Aquenda – O amor às vezes é isso”. A artista resolveu enfatizar, em uma performance minimalista, sentimentos virados do avesso e versos carregados de corpo e protesto contra o sistema patriarcal e, consequentemente, opressor. Além das recitações, Luna escancara as dores do feminicídio, além da atuação corporal. Seu olhar expressivo e os gestos das mãos compuseram na performance um conjunto preciso harmonizando com as métricas livres dos discursos das suas poesias.

Giovani Sidreira – Foto: Nina Quintana

Logo depois foi a vez do baiano Giovani Cidreira, com sua irreverência, um cenário futurista montado na sua casa e a voz marcante de sempre. O cantor e compositor fez um passeio pelas canções do seu repertório com todos os trecos eletrônicos que tem direito, bem no estilo do seu álbum “Mix$take”, mas sem deixar de lado o violão. Uma mistura entre os climas eletrônicos e o minimalismo das versões acústicas. Teve sampler de frank ocean, “Vai Chover”, “Pode me Odiar”, “Pássaro de Prata”, entre muitas outras.

Tássia Reis – Foto: Nina Quintana

Quem também agitou a noite do Palco Itaipava no Coquetel Molotov .EXE foi a rapper Tássia Reis. O show foi carregado de força feminina e apresentou o repertório do álbum “Próspera”, que traz temas como quebra de padrões, vida, autocuidado. O trabalho foi considerado um dos melhores discos de 2019.

Romero Ferro – Foto: Nina Quintana

O pernambucano Romero Ferro foi a penúltima atração do palco, em um show recheado de hits e sua mistura de ritmos, que vai do brega ao pop. Também não faltou projeções incríveis para dar o clima da apresentação. O cantor de 28 anos tem dois álbuns lançados e, para o Festival, trouxe um repertório misto, mas com destaque para o trabalho mais recente, “Ferro”. A influência dos anos 80 é clara e ganham destaque elementos como o new wave, que também exalta o amor e a liberdade.

Para fechar a noite do Palco Itaipava, Mc Tha chegou pedindo licença com “Abram os Caminhos” e depois emendou um show que não deixou ninguém parado. Ela, que traz um som autêntico com uma mistura de MPB, funk, Umbanda e batuques da capoeira, tocou faixas do seu disco lançado de forma totalmente independente, no ano de 2019, o “Rito de Passá”.

Já no Palco TNT os destaques foram as apresentações de Rayssa Dias, Deborah dos Falsetes e Dj Cleiton Rasta. “Preta, periférica, cantora de Brega e sapatão”. Foi assim que Rayssa, representante do brega funk no Coquetel abriu sua apresentação. Sem esquecer do álcool em gel, a cantora e compositora fez uma apresentação forte e colocou todo mundo pra dançar. Os versos da artista trazem o romantismo típico do brega, mas vão além e trazem letras políticas sobre autonomia feminina e da mulher negra. A artista que tem ganhado visibilidade fora do brega funk, chegou a se apresentar no Rec Beat no Carnaval de Recife de 2020, e lembrou essa ascensão durante a apresentação: “Rayssa Dias, mais uma que explodiu!”.

Deborah dos Falsetes, por sua vez, soltou seus agudos e fez um repertório variado. Agradou o público LGBTQIA+ e ainda levantou discursos a favor da bandeira. Além disso, homenageou sua grande inspiração, Mariah Carey, e trouxe canções que fazem parte da sua carreira, como “Deixa Eu Ser Seu Anjo”, parceira com o grupo de pagode Sampa Crew.

O reggae também esteve presente com DJ Cleiton Rasta, de Alagoas. No set, clássicos de Bob Marley,  a banda Vibrações Rasta e, claro, o seu clássico remix da música “Cabeça de Gelo”, de Shalon Israel.

A programação também contou com pop-ups surpresas. No meio dos shows, a produção divulgava nos chats links para outras salas com atrações não divulgadas. Teve música, performance e até tarot. Um dos destaques foram as duas aparições de Otto. Na primeira, o cantor e compositor pernambucano apresentou um pouco do que vem no seu próximo projeto, um álbum todo produzido no Garageband. Apenas com beats e o celular na mão, Otto fez uma apresentação pra lá de nonsense cheia de improvisos de tecladinho e outros instrumentos sintetizados no aplicativo.

Na segunda, fez um bate-papo aberto com o público. “Nunca mais reclamo de ficar em casa. Estou conversando com Otto.”, escreveu um fã no chat. Ainda nas pop-up, o poeta Fred Caju recitou uma série de fortes poemas que tratam sobre uma questão fundamental: o racismo!. “Sangue de preto na calçada é mais procurado que sangue de preto dentro das suas próprias veias”, dizia um dos versos.

Boite Senta – Foto: Felipe Qualquer

Fechando a última noite de Coquetel Molotov .EXE, aconteceu a Boite do Senta, uma festa adulta e liberta, onde qualquer expressão corporal é permitida. A programação começou com a Instalação SENTA com Vídeo-arte por Lucas Sá, no Lounge, e as participações de Linda Green, DJ Pleasure, DJ Bae e performances de EdiyPorn. Lembrando que, para toda a programação do Festival, a classificação indicativa foi para maiores de 18 anos e todos os presentes na Boite assinaram um termo de participação e ganharam certificado de piranha no final.

 

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