Genocídio de pessoas pretas leva indústria da música a dia de paralisação das atividades comerciais

“O show precisa dar uma pausa”, é este o chamado ao mercado da música feito por Jamila Thomas (diretora sênior de marketing da Atlantic) e Brianna Agyemang (ex-executiva da Atlantic, hoje gerente sênior de campanha do Platoon), em alusão ao termo popular “O show tem que continuar”. O movimento protesta contra o racismo e as ofensivas de supremacistas brancos que estão vendo a resistência nas ruas, com milhares de pessoas manifestando e potencializando suas vozes em repúdio a estas práticas. A onda que tomou os Estados Unidos teve como estopim as mortes consecutivas de George Floyd, Breona Taylor e Ahmaud Arbery que alarmaram a população. Grandes selos e gravadoras e até aplicativos de streaming estão participando.

No Brasil a cada 23 minutos morre um jovem negro, o recente caso do adolescente João Pedro de 14 anos no Rio de Janeiro, agitou a sociedade e ganhou apoio até da atriz e produtora Viola Davis que compartilhou o abaixo-assinado online que pede justiça pela morte do menino.


Artistas também aderiram ao manifesto e postaram imagens pretas vazias em seus perfis

O formato foi criticado por seu esvaziamento de causas, narrativas e do motivo principal dessa onda: o racismo. A interrupção nas atividades comerciais é extremamente válida, mas a opção por tirar um “day off” parece não ser o mais indicado. O alerta é para que todos parem de postar publis, divulgações de marcas, anúncios, fotos de cachorro e selfies por um dia e poste sobre os protestos, o assassinato cruel de George Floyd, João Pedro e as milhares de vidas e também conteúdos que denunciem a violência policial racista. O quadrado preto, sem mais explicações, não cumpre esse objetivo.

 
“Dói muito ver que nada mudou, mas doerá mais ainda nos racistas ao entenderem que nós mudamos e não os deixaremos impunes. Parem de nos matar. “A carne mais barata do mercado é a carne negra, que vai de graça pro presídio e para debaixo do plástico. Que vai de graça pro subemprego e pros hospitais psiquiátricos. A carne mais barata do mercado é a carne negra, que fez e faz história segurando esse país no braço, meu irmão. O cabra aqui não se sente revoltado, porque o revólver já está engatilhado e o vingador é lento, mas muito bem intencionado. Esse país vai deixando todo mundo preto e o cabelo esticado. Mas mesmo assim, ainda guardo o direito de algum antepassado da cor brigar sutilmente por respeito. Brigar bravamente por respeito. Brigar por justiça e por respeito de algum antepassado da cor. Brigar, brigar, brigar ✊🏾 A carne mais barata do mercado FOI a carne negra e agora não é mais”. Não vão nos calar!

– Postou Elza Soares.

Criolo compartilhou:

“A cultura do medo destrói a auto- estima. Por vezes, mesmo em coletivo, nos sentimos sozinhos, fruto de um preparo organizado para nos alçar a essa agonia, abanar os receios que saem da boca da incerteza, acelera o atraso no caminho. Existe um início do mal, uma semente silenciosa que é regada com a crueldade dos covardes. Se o racismo é o prato principal, a indiferença vem na sobremesa.
Num abismo sem alma e sem luz se encontra o Estado que tenta esconder seu total fracasso espalhando ainda mais as desigualdades, fortalecendo assim sua eficaz ferramenta: o medo. A felicidade, que é caminho, passa a não fazer mais sentido.
O mecanismo de valorização da ignorância pavimenta o caminho da crueldade.
A vida não faz sentido para quem prolifera a morte.
Eu quero flores, não para o orvalho nas lápides, mas para formatura. Não para os olhos que visitam o velório, mas para o aniversário. Que as crianças possam ter o direito de viver sem esse padrão que vocês criaram; essa data de validade que é ligada a paleta de cores. Vamos beber nossas lágrimas e mais uma vez apresentar solução no caminho do amor, do afeto, da inclusão e no caminho das pokas idea também. Ser livre e caminhar na poesia de Elizandra Souza na voz de Zinho Trindade na dança infalível de Irineu Nogueira. Na palavra de Antônio Carlos dos Santos, nos livros de poder de Djamila Ribeiro e nos Cabelos Brancos de meu pai. São tantas e tantos mudando vidas elevando nosso espírito e apontando caminhos possíveis e reais de futuro.
Caminhar, reconstruir e amar em tudo de lindo que nosso povo produz. #jovemnegrovivo

O que deveríamos estar fazendo no “Blackout Tuesday”?

Leia o manifesto:

#OShowPrecisaSerPausado

Em resposta aos assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery e incontáveis outros cidadãos negros mortos pela polícia, #OShowPrecisaSerPausado é uma iniciativa criada por duas mulheres negras na música a partir do racismo e da injustiça de longa data existentes das salas de reuniões às avenidas. Nós não iremos realizar contatos comerciais em consideração às vidas negras perdidas neste contexto.

Terça-feira, 02 de junho, é um dia de interrupção intencional dos dias úteis da semana. Segunda-feira sugere uma longa espera até o fim de semana, e nós não podemos esperar até sexta-feira para gerar mudanças. Esta terça-feira é um dia de fazer uma pausa para uma franca, reflexiva e produtiva conversa sobre quais ações precisamos para apoiar coletivamente a comunidade negra.

A indústria da música é uma indústria multibilionária. Uma indústria que tem lucrado predominantemente sobre a arte negra. Nossa missão é sensibilizar a indústria em geral, incluindo as grandes corporações e seus parceiros que se beneficiam dos esforços, da luta e do sucesso do povo negro. Por fim, é uma obrigação dessas entidades protegerem e empoderarem a comunidade negra que tem os feito desproporcionalmente ricos.

Esta não é uma iniciativa com duração de um dia. Nós estamos e estaremos nesta luta à longo prazo. Um plano de ação será anunciado.

Estamos cansados e não conseguiremos mudar as coisas sozinhos. Aos nossos amigos negros e famíliares: por favor, tirem um tempo para vocês e para cuidar da saúde mental de vocês. Aos nossos aliados, este é o momento para ter discussões difíceis com suas famílias, amigos e colegas de trabalho.

Por favor, siga @pausetheshow no Twitter e @theshowmustbepaused on Instagram para atualizações e informações.

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Phillipe Martins e Felipe Qualquer
[email protected]

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