A batalha pelo impedimento é intimamente ligada à luta pela manutenção da política do distanciamento social, pela renda básica, pela manutenção dos empregos, pela taxação das fortunas, pelo socorro às pequenas empresas.

 

No dia 18 de março, ocorreram os primeiros e vigorosos panelaços contra o presidente Jair Bolsonaro, em meio à atual crise do coronavírus. No momento mais difícil que atravessamos em décadas, milhões de brasileiros, mesmo em isolamento residencial, deram forma à indignação crescente perante a postura do presidente.

Nessa mesma data, na Câmara dos Deputados, eu, Fernanda Melchionna, David Miranda e Luciana Genro, ao lado de mais de 200 artistas, intelectuais e figuras públicas, demos entrada no pedido de impeachment de Bolsonaro. No último dia 31, realizamos em Brasília a cerimônia de entrega das mais de 1 milhão de assinaturas da sociedade em apoio à denúncia.

Não há quem seja capaz de negar os crimes de responsabilidade do presidente. Eles existem aos montes e há bastante tempo. Mas no contexto atual da crise, sua conduta criminosa passou de qualquer limite. Hoje, os crimes de Bolsonaro atentam contra a saúde pública e colocam em risco a vida de milhões de brasileiros, com destaque para os mais pobres, os vulneráveis e os chamados “grupos de risco” para a COVID-19.

A mentalidade criminosa de Bolsonaro combina o apreço pela morte, a negação da ciência e o abandono de  milhões de brasileiros à própria sorte. O governo deveria socorrer os trabalhadores e pequenos empresários numa crise sem precedentes, mas prefere espalhar a confusão e estimular os brasileiros a colocarem suas vidas em risco, saindo do isolamento.

Se a situação é tão desesperadora e absurda, por que alguns ainda hesitam em confiar que depor Bolsonaro seja a solução?

Há um argumento que busca dizer que apresentar o pedido de impeachment seria “fazer o jogo de Bolsonaro”, como se o presidente desejasse esse conflito para recrudescer suas ações. Isto é falso.

Este argumento ignora o fato de que Bolsonaro não precisa de um pedido de impeachment para “jogar”. Seus ataques a tudo e a todos existem desde o primeiro dia de seu mandato. Nenhuma tentativa de moderação, feita aos montes por setores do establishment, mostrou-se capaz de deter suas ações ou de domar seu discurso cínico e autoritário. O que precisamos, agora, não são de infinitas medidas para tentar amenizar o absurdo. Precisamos atacar e derrotar o absurdo maior que nos governa, sob pena de que, a certa altura, seja tarde demais.

Contrariamente ao impeachment, há também os que afirmam que, nesse instante, a prioridade da oposição devem ser as medidas de combate à pandemia e aos seus efeitos nefastos sobre o povo, e não uma ação política contra o presidente.

Trata-se de outro equívoco, facilmente perceptível quando se nota que Bolsonaro é, ele próprio, o maior risco à saúde pública brasileira. Dessa forma, tirá-lo da presidência é condição urgente para que consigamos efetivar as medidas emergenciais de enfrentamento à crise sanitária, econômica e social.

A batalha pelo impeachment de Bolsonaro é intimamente ligada à luta pela manutenção da política do distanciamento social, pela renda básica para os vulneráveis, pela manutenção dos empregos e dos salários, pela taxação das fortunas dos bilionários, pelo socorro às pequenas empresas que não podem quebrar.

Por isso mesmo, ela vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade, como indicou a última pesquisa do Atlas Político, que mostra uma maioria de 47,7% dos brasileiros apoiando o impedimento do presidente. Nossa atenção e nossa esperança devem estar antes de tudo conectados a esses sinais de indignação crescente da sociedade, e não à “correlação de forças” fria do Congresso Nacional, que é um terreno desfavorável e que raramente reflete os anseios populares.

Não temos tempo para esperar por 2022 na ilusão de que, com as eleições, iremos interromper o pesadelo pelo qual passamos. Se essa postura de “esperar” é compreensível por parte de segmentos da classe dominante que se opõem ao presidente mas pensam primeiro em seus negócios, ela não faz sentido entre aqueles que se reivindicam de esquerda e lutam ao lado da classe trabalhadora.

Como disse recentemente o filósofo Vladimir Safalte em artigo: “Se este não é um bom momento para a apresentação do pedido, alguém poderia me explicar o que significa exatamente ‘bom momento’? Quando estivermos todos mortos?”

Para salvar o Brasil e defender a vida dos brasileiros, precisamos tirar Bolsonaro. E é por isso que defendemos seu impeachment imediato.

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