O Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos em suas lavouras: aproximadamente 500 mil toneladas de agrotóxicos por ano (Ibama, 2019). Entre 2019 e 2022, mais de 1600 produtos agrotóxicos foram liberados para uso no Brasil, moléculas antigas, obsoletas, muito tóxicas e já banidas em outros países. O indicador é de que 81% dos agrotóxicos permitidos no Brasil são proibidos em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); 34% dos alimentos analisados pelo Para/Anvisa contêm misturas de agrotóxicos, cujos efeitos aditivos são intensificados pela mistura de diferentes produtos químicos, variando de 45% a 95% de misturas, sendo que em alguns alimentos chega-se a se detectar até 21 tipos diferentes de produtos tóxicos (FRIEDRICH et al, 2022).

Diante desse cenário tóxico, notam-se desigualdades gritantes na regulamentação sanitária quanto à presença dessas substâncias na água considerada potável, que nos fazem refletir sobre o caráter político dos regramentos sobre limites toleráveis. Segundo Bombardi (2017), os limites de agrotóxicos permitidos na água potável no Brasil são maiores que na União Europeia, na seguinte magnitude: 20 vezes maiores para Atrazina, 1200 vezes maiores para Carbendazim, 600 vezes maiores para Malationa, 130 vezes maiores para Paraquate e 5000 vezes maiores para Glifosato.

Mato Grosso é o estado brasileiro que mais utiliza agrotóxicos em suas lavouras, cujo perfil de produção predominante são as commodities agrícolas. Aproximadamente 80% do território agricultável do estado é ocupado por monoculturas de soja, algodão, milho e cana, sendo os princípios ativos Glifosato, 2,4-D, Atrazina, Malationa, Mancozebe, Acefato, Paraquat, Clorpirifós, Imidacloprido, Clorotalonil, Metalocloro, Cipermetrina, Carbendazim e Carbosulfano, os mais utilizados no estado no ano de 2019.

Segundo relatório da ONG Public Eye, 20% dos agrotóxicos mais tóxicos utilizados no mundo são utilizados no Brasil, muitos dos quais já proibidos em outros países por seu grau de toxicidade à saúde humana e ambiental.

Segundo dados do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), dos oito princípios ativos proibidos em países da União Europeia, OCDE, China e Índia, a Atrazina, o Acefato, o Paraquate, o Malation e o Carbendazim estão entre os 10 mais utilizados no estado de Mato Grosso.

Entidades científicas como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco); Instituto Nacional do Câncer (Inca); Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), universidades públicas, além de movimentos sociais organizados, como a Campanha Contra os Agrotóxicos e pela Vida e o Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, que mobilizam ministérios públicos e entidades do judiciário, têm se posicionado com relação aos impactos negativos à saúde, ambiente, alimentos e águas.

Diversas denúncias são sistematicamente apresentadas por essas organizações e não é à toa: 67% do volume de agrotóxicos comercializados no Brasil vem de produtos que causam câncer e danos hormonais para humanos e ambiente.

Longe de ser um debate local ou leigo, há farta evidências científicas que sustentam a afirmação de que os agrotóxicos, substâncias largamente utilizadas pelo agronegócio, causam sérios danos à saúde humana.

Nesse sentido, especialistas das Organização das Nações Unidas (ONU) estimam um total de 25 milhões de casos graves de intoxicação, que resultam em 220 mil mortes por ano no mundo. Eles expressaram uma “preocupação grave” a respeito do impacto da exposição crônica a agrotóxicos, incluindo câncer, alzheimer e parkinson, alterações hormonais, disfunções de desenvolvimento, esterilidade e efeitos na saúde neurológica (PUBLIC EYE, 2019). 

 
Fonte: Nota pública do NEAST/ISC/UFMT contribuição ao debate sobre os impactos socioambientais e sanitários do agronegócio