A crise econômica que assola o Brasil é uma das mais prolongadas da nossa história e parece estar longe do seu fim. Indicadores econômicos seguem estagnados com desemprego e informalidade recordes. Para completar, a renda média do trabalhador continua caindo, dificultando ainda mais a recuperação da economia.

Dados da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) indicam que 2020 pode ser um ano tão ruim ou – até pior – do que 2019 em termos econômicos. Investimentos estrangeiros continuam escassos, obrigando o governo a torrar as nossas reservas cambiais para impedir uma fuga descontrolada de dólares e o consequente colapso da nossa economia.

A saída de capitais do país em 2019 foi a maior das últimas quatro décadas, somando mais de 60 bilhões de dólares. Paralelamente, o Banco Central vendeu 36 bilhões da nossa reserva em moeda norte-americana. O valor equivale a aproximadamente 10% das reservas estimadas em 2016, quando atingiram o montante de 327 bilhões de dólares.

Mesmo assim o governo não consegue conter a disparada das moedas estrangeiras. Pela primeira vez desde a criação do plano real, o dólar ultrapassou a barreira dos R$ 4,40. O Euro segue a mesma tendência e as incertezas com Brexit tendem a aumentar a tensão cambial.

O cenário é desolador e as medidas tomadas até agora não ajudaram a melhorar o ambiente de negócios e retomada de investimentos. O descontrole cambial e a disparada no preço dos combustíveis são evidências do despreparo do governo para lidar com a crise. E o povo sente no dia-a-dia as consequências da falta de ação.

Para coroar o caos, temos em meio a isso tudo um presidente da República que diariamente flerta com o arbítrio e afronta a democracia, além de fazer questão de demonstrar seu desprezo por mulheres, indígenas, população negra e homossexuais.

Não é absurdo afirmar que Jair Bolsonaro sintetiza em si e seu governo todas as ameaças pelas quais o regime democrático sofre neste rápido processo de mudanças do século XXI. Demagogo e populista, usa e abusa de um falso moralismo para imprimir retrocessos na sociedade e beneficiar o seu grupo político, com reiterados ataques à liberdade democrática.

O problema é que a conduta de Jair Bolsonaro no exercício da Presidência da República não fere apenas a honra e decoro do cargo, mas também contribui para a piora dos índices sociais e dificulta a retomada da economia. Afinal, quem investiria em um país cujo presidente atenta diuturnamente contra a Democracia e as liberdades individuais?

Não é preciso muito esforço para raciocinar. Todo investidor quer ter segurança de que o seu dinheiro renderá lucros, assumindo os riscos de mercado inerentes ao fluxo de capitais. Entretanto, para isso é preciso segurança jurídica e respeito ao cânone democrático, princípios indissociáveis do liberalismo econômico.

Mas diferentemente do esperado, o que investidores encontram no Brasil é um presidente que jamais desceu do palanque e que trata adversários políticos como inimigos a serem eliminados. Críticas ao seu governo são interpretadas como ataques pessoais e a resposta sempre se dá de forma truculenta, não raro eivada de preconceito.

Diante disso, fica a pergunta: você investiria em um país cujo presidente trabalha de forma incansável pela corrosão da Democracia e alheio aos princípios constitucionais? Provavelmente não, e talvez seja esta a razão para a escassez de investimentos e fuga de capitais que caracterizam a gestão econômica do governo de Jair Bolsonaro.

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