— Reprodução/Globo Play (@gramichvideos) April 24, 2021
Ontem na festa do BBB Gil chorou com Camila. Foi no BBB que Gil se assumiu homossexual e, desde algum tempo no jogo, tem refletido sobre as violências e inseguranças a respeito da sua comunidade de fé. Não é a primeira vez que Gil fala coisas importantes e fortes para a reflexão sobre a religião cristã e sobre as violências com a comunidade LGBTQiA+. Ontem, vendo o vídeo, só penso como gostaria que ele lesse isso aqui.
Sabe Gil, eu também já chorei pensando que eu nunca mais poderia ir em um acampamento da igreja e já abracei muitos que, como eu e você, passaram exatamente por isso. A coisa que eu mais gostava era estar com meus amigos, com os jovens. Aquelas coisas de igreja que só quem viveu a comunidade intensamente sabe, aquelas memórias que só quem já viveu essa experiência intensa, metafísica e social de estar nas comunidades de fé cristã, sabe. Do nada, tiram isso de nós.
É violento mesmo se reconhecer LGBTQIA+ nesses espaços porque te violentam duas vezes: querem que você negue quem você é e ainda querem te arrancar a única coisa que é individual na fé cristã – a experiência pessoal da espiritualidade, a sua certeza de que há um Deus.
Como você teve Camilla De Lucas pra te dizer que sua vida é revolução, eu também tive pessoas que me disseram isso, mas eu te entendo Gil. É difícil mesmo fazer revolução num espaço que nos diz que só há um caminho. Romper, no nosso caso, não é uma escolha nossa, né? É escolha deles, e isso dói.
Eu tomei decisões de vida que não se encaixavam na institucionalização fundamentalista da religião e de forma silenciosa, violenta e silenciosa, fui sendo jogada para fora de espaços que antes me acolheram, me formaram, me deram senso de comunidade e amor de família. Quando isso aconteceu comigo, eu comecei a perceber como muitas pessoas que eu amo passavam pelas mesmas coisas e inclusive escolhiam se calar, porque tinham MEDO, sentiam CULPA. Pessoas que se viam presas em relacionamentos abusivos, que tinham posicionamentos políticos e sociais fortes, pessoas que lidavam com a sexualidade de outras formas, pessoas que escolheram sobre seus corpos, pessoas que por pouco desviaram do falso “único caminho, única verdade”. É louco porque nessa horas percebemos que fazemos parte dessa família até mostrar quem realmente somos, e quando mostramos temos que escolher apenas dois caminhos: mudar e se adaptar a vontade da ”família” ou ir embora. E isso dói mesmo. Por isso que quando te vejo chorar dói em mim também. A igreja nos machuca de tantas formas!
Lembro que decidi romper de vez com essa loucura quando percebi que o discurso: “to falando isso porque eu te amo” violava tudo o que eu aprendi sobre amor, era antibíblico. Era abuso, não era amor.
Existe uma forma de ser na igreja, imposta no nosso meio, que é passiva, agressiva demais, não nos cabe, não nos gosta e não serve e é justo que tenhamos medo porque essa foi a única forma de conhecer a Deus – pelo temor. Mas sabe, Gil, nosso Deus é um Deus que lança fora o medo, acaba com a culpa, liberta e ama incondicionalmente. O medo é uma manobra para nos manter controlados numa estrutura de poder.
A violência de excluir nossos corpos da “graça de Deus” é também estratégia política dessas instituições – a certeza de que é possível ser amado, amada e amade por Deus, independente da moral, é uma das únicas coisas que não podem nos arrancar e isso os apavora pois enfraquece o discurso de poder de outrora.
Você, em rede nacional, sendo, nas suas palavras, uma “bicha, bandida, perigosa, cachorra e evangélica” é um serviço essencial num país que enfrenta a maior tragédia religiosa do últimos tempos – um governo cristofascita, que mata em nome de Deus pessoas como nós. Já diria nossa irmã Ventura Profana: “As que confiam na trava são como os montes sião que não se abalam”.
Nós anunciamos um Deus plural, insubmisso, livre. Que coisa linda!
Deus é como nós, Gil! Não como eles.
No fim dessa jornada, eu quero acampar com você!