Por Ana Villaça

Você sabe o que é classificação? Sabe para que serve e qual a importância dela no paradesporto? Então acompanha aqui no texto que vamos explicar tudo para você ficar por dentro dos Jogos Paralímpicos.

A classificação esportiva é uma forma de categorização do esporte paralímpico e se assemelha a outras formas de categorização presentes também no esporte olímpico, como idade, peso e gênero e serve para que todos os atletas tenham igualdade de condições ao competir.

Primeiro precisamos entender que são considerados aptos ao paradesporto atletas que possuam deficiência permanente e tenham verificável limitação funcional com impacto em seu desempenho esportivo. Nem todos os tipos de deficiência são contemplados nos Jogos Paralímpicos. Além disso, cada modalidade esportiva requer diferentes habilidades e por isso contemplam deficiências específicas e necessitam de uma classificação funcional própria.

10 deficiências consideradas elegíveis para os Jogos Paralímpicos

Força Muscular Limitada
Deficiência em membro(s)
Diferença no comprimento de pernas
Baixa Estatura
Hipertonia
Ataxia
Atetose
Limitação de Amplitude de Movimento Passivo
Deficiência Intelectual
Deficiência Visual

A classificação existe para definir a elegibilidade do atleta, ou seja, se ele está elegível para competir e também para agrupar os atletas elegíveis de acordo com a sua deficiência e grau de comprometimento.

Para que a competição seja o mais justa possível, os atletas são avaliados e classificados em grupos, que são chamados de classes. As classes são nomeadas com uma letra e um número e quanto menor o número maior o grau de comprometimento do atleta. Já as letras são as iniciais da modalidade ou da deficiência. Exempo: S (swimming) para as provas de natação, F (field) para as provas de campo no atletismo, B (blind) para atletas cegos no caso do judô, goalball e futebol de 5.

Nem todas as pessoas com deficiência estão permitidas a competir. Existem alguns atletas que ficam em uma espécie de limbo na classificação. Elas possuem uma deficiência que não permite que possam competir em igualdade no esporte convencional, mas ao mesmo tempo não conseguem encontrar uma classe para disputar as competições paralímpicas. Esses atletas são considerados inelegíveis. Foi o que aconteceu com o nadador brasileiro e multimedalhista paralímpico André Brasil. Ele, que já estava na última classe da natação, a S10, foi reclassificado e se tornou inelegível para competir.

Lembrando que ao ser reclassificado ou até mesmo ao se tornar inelegível, o atleta não perde as suas medalhas anteriores. Isso NÃO é um dopping. A reclassificação funciona para que o competidor esteja sempre em uma classe justa, considerando que o grau de comprometimento pode aumentar ou diminuir por diversos motivos ao longo de sua carreira.

Processo de Classificação

Os atletas são avaliados por classificadores, profissionais treinados e certificados pelas federações internacionais e que variam de acordo com a modalidade, podendo ser médicos, psicólogos e educadores físicos.

Os classificadores devem responder 3 perguntas durante o processo de classificação:

  • O atleta possui uma deficiência elegível para essa modalidade esportiva?
  • A deficiência do atleta reúne o critério mínimo de deficiência do esporte?
  • Qual classe descreve com maior precisão a limitação para a atividade desse atleta?

Como cada modalidade possui características próprias e exige que os atletas realizem diferentes atividades, o impacto da deficiência em cada modalidade também varia. Por isso a classificação deve ser específica para cada modalidade e levar em consideração as características de cada uma. Dessa forma, um mesmo atleta pode reunir os requisitos para competir em uma modalidade e não para outra.

Após determinar que o atleta está elegível para disputar aquele esporte, o painel de classificação deverá indicar em qual classe ele deve competir. A classe não é diferenciada pela deficiência e sim pela limitação que o atleta tem para executar a atividade exigida naquela modalidade.

Por esse motivo, podemos ver em algumas modalidades atletas com paraplegia disputando na mesma classe que atletas com amputações, porque as diferentes deficiências causam uma limitação similar na execução daquela atividade.

Por conta da natureza progressiva de algumas deficiências e seus impactos nas atividades físicas, alguns atletas passam por esse processo de classificação várias vezes ao longo de suas carreiras, podendo ser reclassificados para outras categorias.

Espero que você tenha entendido como funciona a classificação no paradesporto e consiga acompanhar com mais facilidade os Jogos Paralímpicos.

Abaixo explicamos de maneira mais detalhada as classes por modalidade.

Classes por modalidade

Cinco atletas paraolimpicos correm em uma pista de corrida

Foto: CPB/divulgação

Atletismo

T/F11-T/F 13 – Deficiência Visual

T/F20 – Deficiência Intelectual

F31, T/F32-T/F38 – Hipertonia, Ataxia e Atetose

T/F40 e T/F41 – Baixa Estatura

T/F42 – T/F46 e T47 – Deficiência em membro(s)

T51-54 e F51-57 – Força Muscular Limitada, Limitação de Amplitude de Movimento Passivo e Diferença no comprimento de pernas

A sigla T está relacionada às provas de pista e F às provas de campo.

Destinado a todas as deficiências.

Quatro jogadoras de basquete em cadeira de rodas estão em quadra disputando uma bola que está na mãos de uma das atletas. Duas delas vestam o uniforme da seleção brasileira, incluindo a que está com a bola na mão e as outras duas são da seleção australiana.

Foto: Bruno de Lima / CPB

Basquete em cadeira de rodas

1,0 – 1,5 – Não possuem controle de tronco

2,0 – 2,5 – Podem inclinar-se para frente e girar o corpo até certo ponto

3,0 – 3,5 – Podem girar totalmente e inclinar-se para frente

4,0 – Podem girar totalmente, inclinar-se para frente e parcialmente para os lados

4,5 – Possuem o menor comprometimento elegível e não têm restrição no tronco

Destinado a deficiência físico-motora. Todas as classes jogam juntas e o somatório da equipe em quadra não pode ultrapassar 14.

Foto de dois competidores em ação, sobre cadeira de rodas, durante torneio de bocha. A primeira uma jogadora com camisa da seleção japonesa, o segundo do Brasil.

Foto: Alaor Filho / CPB

Bocha

BC1 – Hipertonia, Ataxia e Atetose

BC2 – Hipertonia, Ataxia e Atetose

BC3 – Hipertonia, Ataxia e Atetose

BC4 – Deficiência de origem não cerebral: distrofia muscular, lesão na medula espinhal e amputação dos quatro membros

Todos competem em cadeiras de rodas.

Destinado a atletas com elevado grau de paralisia cerebral ou deficiências severas.

Foto de atleta de canoagem remando sobre canoa. Ele usa óculos e veste o uniforme verde da seleção brasileira.

Foto: Tania Rego / Ag Brasil

Canoagem

KL1 – Usa somente os braços na remada

KL2 – Usa tronco e braços na remada

KL3 – Usa braços, tronco e pernas na remada

Destinado a atletas com deficiência físico-motora.

Imagem de um ciclista sobre bike com uniforme da seleção brasileira

Foto: Divulgação

Ciclismo

H1 – H5 (Handbikes) – Paraplegia e Tetraplegia

T1 e T2  (Triciclos) – Paralisia cerebral

C1 – C5 (Convencionais) – Amputados e outras deficiências físico-motoras

Tandem – Deficiência Visual

Destinado a deficiências visual, físico-motora e paralisia cerebral.

Foto de arena com dois lutadores de esgrima sobre cadeira de rodas, um apontando uma longa espada pontiaguda sobre o outro. O primeiro tem cadeira de rodas com símbolo da Inglaterra, o segundo, do Brasil.

Foto: Bruno de Lima / CPB

Esgrima em cadeira de rodas

A – Atletas com mobilidade no tronco, amputados ou com limitação de movimento

B – Menor mobilidade no tronco e equilíbrio

C – Tetraplegia, comprometimento Fo movimento do tronco, mãos e braços

Destinado a atletas com deficiência motora.

Imagem com quatro jogadores de futebol em campo, todos com venda branca nos olhos. Eles vestem o uniforme amarelo da seleção brasileira.

Foto: Agencia Brasil

Futebol de 5

B1 – Cegos totais ou com pouca percepção de luz

Destinado somente a deficientes visuais. 

Foto de uma quadra esportiva com 3 jogadores no chão, com vendas pretas no olhos e uma bola azul em direção ao rede de gol no fundo.

Foto: TV Brasil

Goalball

B1 – Cegos totais ou com pouca percepção de luz

B2 – Atletas com percepção de vultos

B3 – Atletas que conseguem definir imagens

Destinado somente a deficientes visuais (B1, B2 e B3 jogam juntos)

Atleta deitada em um banco carrega um peso e grita. Ela veste o uniforme verde da seleção brasileira.

Foto: Graziella Batista / MPIX / CPB

Halterofilismo

Classe Única – Deficiência física nos membros inferiores, baixa estatura e paralisados

Destinado a atletas com deficiência física nos membros inferiores, baixa estatura e paralisados

Foto: CPB

Hipismo

I – Cadeirantes com comprometimento severo nos quatro membros

I – Cadeirantes ou andantes com boa funcionalidade dos braços e atletas com comprometimentos unilateral severo ou cegos.

III – Andantes com comprometimento unilateral, moderado nos quatro membros ou severo nos braços e atletas com deficiência visual severa

IV – Comprometimento leve em um ou dois membros. Atletas com deficiência visual moderada

V – Comprometimento leve em um ou dois membros. Atletas com deficiência visual leve

Destinado a atletas com deficiência física nos membros inferiores, baixa estatura, deficientes visuais e paralisados.

Foto com duas atletas de judô, uma derrubando a outra.

Foto: CPB

Judô

B1 – Cegos totais ou com pouca percepção de luz

B2 – Atletas com percepção de vultos

B3 – Atletas que conseguem definir imagens

Destinado somente a deficientes visuais (B1, B2 e B3 jogam juntos)

Foto: Getty Images

Natação

1-10 – Atletas com limitações físico motoras

11-13 – Atletas com deficiência visual

14 – Atletas com deficiência intelectual

A sigla S está relacionada aos nados livre, costa e borboleta, SB ao nado peito e SM ao nado medley. O atleta pode ter classificações diferentes para cada estilo de nado.

Destinado as deficiências físico-motora, visual e intelectual.

Um jogador de parabadminton golpeia uma peteca com uma raquete. Ele veste o uniforme da seleção brasileira.

Foto: Takuma Matsushita

Parabadminton

WH1 e WH2 – Cadeira de rodas

SL3 e SL4 – Atletas com deficiências nos membros inferiores que andam

SU5 – Atletas com deficiência nos membros superiores

SH6 – Baixa estatura

Destinado a atletas com deficiência física

Dois atletas de parataekwondo

Foto: Ale Cabral / CPB

Parataekwondo

K43 – Atletas com amputação bilateral do cotovelo até a articulação da mão, dismelia bilateral.

K44 – Atletas com amputação unilateral do cotovelo até a articulação da mão, dismelia unilateral, monoplegia, hemiplegia leve e diferença de tamanho nos membros inferiores.

Destinado a atletas com deficiência física.

Foto de atleta visto do alto. Ele rema sobre a canoa

Foto: CPB

Remo

PR1 – Função mínima ou nenhuma função de tronco

PR2 – Uso funcional dos braços e tronco

PR3 – Função residual nas pernas e atletas com deficiência visual

Destinado a deficiência física e visual.

Foto mostra dois jogadores de rugbi sobre cadeiras de rodas disputando uma bola

Foto: Daniel Zappe / CPB / MPIX

Rúgbi em cadeira de rodas

0,5 – 1,0 – Funções significativamente limitadas em ombros, braços e mãos

1,5 – 2,0 – Função razoável de braço

2,5 – 3,0 – Boa estabilidade de ombro e função de braço

3,5 – Boa estabilidade de ombro e função de braço e mão

Todas as classes competem juntas, mas uma equipe deve somar no máximo 8 pontos com o time em quadra.

Destinado a atletas com tetraplegia e outras deficiências que causam limitações nas funções dos braços e pernas.

Foto mostra três atletas do tiro com arco, um deles sobre cadeira de rodas. Dois deles preparam o arco para atirar.

Foto: Alexandre Resende

Tiro com arco

W1 – Atletas com deficiência grave, em três ou quatro membro

Open – Atletas com deficiência em um membro ou dois membros

Destinado a Amputados, paralisados, paralisados cerebrais, doenças disfuncionais e progressivas, lesionados da coluna e múltiplas deficiências.

Foto de atleta apontando uma arma para executar o tiro

Foto: Tomas Faquini/CPB/MPIX

Tiro esportivo

SH1 – Atiradores que não requerem suporte para a arma

SH2 – Atiradores que necessitam de suporte para arma

Destinado a atletas com deficiência física.

Dois atletas sobre cadeira de rodas em disputa no tenis de mesa

Foto: CPB

Tênis de mesa

1 – 5 – Para cadeirantes

6 – 10 – Para andantes

11 – Para andantes deficientes intelectuais

Destinado a deficiência físico-motora.

Foto mostra uma jogadora de tenis sobre cadeira de rodas, em quadra, preparando a raquete para golpear uma bola de tenis

Foto: Divulgação / CPB

Tênis em cadeira de rodas

OPEN – Deficiência nos membros inferiores

QUAD – Deficiência nos membros inferiores e superiores

Destinado a atletas com deficiência de locomoção

Atleta de costas corre sobre um handcycle

Foto: CBTri

Triatlo

PTWC1 e PTWC2 (Handbikes) – Cadeirantes

PTS2-PTS5 – Deficiências físico-motoras e paralisia cerebral andantes

PTVI1-PTVI3 – Deficiência Visual

Destinado a cadeirantes, amputados, paralisados cerebrais e cegos.

Foto mostra dois times de volei em quadra, todos sentados, disputando uma bola durante partida

Foto: Divulgação / CPB

Vôlei sentado

MD – Deficiência com menor interferência nas funções essenciais do vôlei sentado

D – Deficiência que tem maior impacto nas funções essenciais

Destinado a atletas que possuam alguma deficiência física ou relacionada à locomoção. As classes jogam juntas, porém a equipe só pode ter em quadra 1 atleta da classe MD, ou outros cinco obrigatoriamente devem ser da classe D.

Texto produzido para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube