Por Diogo Nogueira

As paralimpíadas começaram nos anos de 1960 e, de lá pra cá, inspira milhares de pessoas pelo mundo, incluindo as que têm deficiências visuais. Nestes Jogos de Tóquio 2020, não é diferente. Variadas implementações foram adotadas neste ano em relação aos esportes praticados por atletas cegos, com baixa visão ou outras deficiências visuais. Confira mais sobre algumas das modalidades paralímpicas com estas especificidades:

Atletismo

Esporte que exige demasiado treinamento, divide as classes da forma devida a que se acredita que seja a ideal. O nome técnico para a categorização é a acuidade visual, de acordo com o grau de deficiência, com provas na pista, campo e rua.

Classificação: A disputa de pista (velocidade, meio fundo, fundo e saltos) e de rua (maratona) são definidas pela palavra T de Track. T11 a T13 são deficientes visuais. Já as provas de campo (arremessos, lançamentos e saltos) a identificação fica pela letra F de Field para competidores. Seguindo exemplo da pista e da rua, o F11 a F13 são os respectivos a deficiência visual.

2 atletas negros brasileiros, um deles uma óculos e está ao lado de seu atleta-guia, que o auxilia na corrida referente a modalidade do atletismo. Ambos ligados um ao outro no punho com uma fita.

Foto: Reprodução Instagram / Jackson Silva

Atletas-guia e de apoio: regras tendo a classe funcional como critério

Em provas de 500m, de 10.000m, e maratona, os atletas das categorias T11 e T12 têm a opção de serem guiados por até 2 atletas-guia, com a troca sendo feita durante a competição, garantindo pódio ao ajudante que também recebe a medalha, tal feito permitido apenas em 2011, nos jogos Parapan-Americanos de Guadalajara. Dentro da T13 não há opção de atleta-guia e apoio no uso de salto.

Os atletas guias usam uma corda que une ele ao competidor, correndo juntos mantendo o foco no auxílio profissional, sem empecilhos.

Guias indicadores: tem o objetivo de orientar os atletas nas provas de salto e nos lançamentos de disco, analisando o momento exato de início para alertar o competidor. Segundo a federação da modalidade, as únicas provas que não há meio de auxílio para competir são as de obstáculos, corridas com barreiras, e o salto em altura.

Goalball

O goalball traz uma especificidade bem inclusiva e significativa: é o esporte criado para deficientes visuais em geral, diferente de outras modalidades, e por isso, é o mais praticado entre o grupo.

Foto de uma atleta durante o jogo de Golbol, ela usa a venda preta e agarra uma bola azuul, com os braços levantados.

Foto: CPB

A quadra onde são realizados os jogos tem a mesma dimensão da quadra do voleibol (9m de largura, 18 de centímetro), dividida pelas áreas de defesa, neutra (área separativa) e ataque (ação ofensiva). O contato com a bola no solo é permitido apenas até a linha que separa o ataque da área neutra de cada time, para que os defensores tenham tempo de ouvir e perceber a movimentação do jogo. As partidas têm dois tempos regulamentares de 12 minutos cada, com 3 minutos de intervalo, as equipes com 3 titulares e 3 reservas, sendo possível 3 substituições. Todos da equipe trabalham pela defesa e ataque, defendendo e arremessando. Ao criar uma jogada a bola deve ir para o gol de forma rasteira, ou tocar ao menos uma vez nas áreas obrigatórias.

O esporte goalball foi criado em 1946 com o objetivo de oferecer maior capacidade aos que se tornaram pessoas com deficiência visual decorrente da Segunda Guerra Mundial. É baseado na percepção auditiva e tátil, dessa forma, não é permitido barulho no local enquanto as equipes jogam e estudam, buscando atacar. Nas paradas oficiais, há espaço para interação. A bola das partidas possui um guizo que serve para os jogadores ficarem alertas ao recebê-la, medindo 76 cm de diâmetro, um peso maior que a de basquetebol.

Classes no goalball: as divisões B1, B2 e B3 competem juntas. O critério seguido é estabelecer o melhor olho e a possiblidade máxima da correção do problema de cegueira.

B1 – Cegos por completo ou com percepção da luz, mas sem ter o reconhecimento do formato de uma mão a qualquer distância

B2 – Atletas com percepção de vultos

B3 – Atletas que conseguem definir imagens

Observação importante: Se uma equipe impor 10 pontos de vantagem, o jogo é encerrado.

Penalidades individuais e coletivas

Individuais: Somente um jogador da equipe, ou seja, o que cometeu o pênalti permanece na quadra para defender o lance quando há penalidade. O que costuma mais gerar a ocorrência é o contato com a bola no solo após a área de ataque, e defender a bola fora da área de defesa.

Coletivas: O jogador que realizou o último lançamento da sua equipe é o encarregado de tentar defender a penalidade. Acontece frequentemente em casos de demora de mais de 10 segundos para o arremesso de bola após o contato defensivo.

Arbitragem: Função importante que vai além de apitar, o árbitro narra as ações da partida, cooperando pra compreensão do ritmo dos jogos, guiando as equipes.

Nadador deficiente visual dentro de uma piscina frente a natação, com uma touca amarela, sendo guiado por seu ajudante com um instrumento chamado de "tapper".

Foto: Ale Cabral / CPB

Natação

É uma modalidade adaptada às largadas, viradas e chegadas. Há a necessidade de avisos do “tapper”, técnicos ou voluntários dispostos a alertar por meio de um bastão com ponta de espuma a sua chegada a suas respectivas bordas. As regras limitam qualquer tipo de acessórios durante os nados, diferente de outras federações. A separação é analisada pelo grau e tipo de deficiência, o que nos traz às classes na natação:

As classes dentro desta modalidade sempre começam com a letra S (Swimming), que significa natação em inglês, podendo ter variações de acordo com seu nado. O livre, categorizado por 50m, 100m, 200m e 400m, o de costas com 50m e 100m, e borboleta com 50m e 100m (S); de peito com 50m (SB); o de medley com 150m e 200m (SM), e por fim, contendo o revezamento. Quanto maior a deficiência, menor o número de classe. A referência para deficientes visuais são as classes S11 a S13.

As largadas podem ser feitas na própria água, no caso de atletas de classes mais baixas, podendo partir da lateral ou da parte de cima do bloco quando se é de classe mais alta.

Dependendo da deficiência, os atletas podem solicitar ajuda a alguém da equipe dando apoio na borda da piscina ao entrar e sair da água. Durante as provas há um sistema de fiscalização para definir se as normas estão sendo seguidas devidamente, também estabelecendo um controle de tempo, e parciais contadas a partir do momento que os nadadores tocam os sensores nas paredes das piscinas, que seguem o mesmo padrão olímpico.

2 atletas competindo no ciclismo em cima de uma bicicleta com 2 bancos, usando capacetes brancos, representando o Brasil com uma camisa amarela e branca.

Foto: Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB

Ciclismo

O ciclismo paralímpico surge nos anos 1980, inicialmente inclusivo especialmente a deficientes visuais, para no próximo evento em 1984, ser ampliado. A estreia para o Brasil se dá de forma atrasada, acontecendo em 1992, em Barcelona. As adaptações feitas pela União Internacional de Ciclismo (UCI) contêm poucas diferenças comparado ao modelo olímpico.

Provas: De pista (velódromo), ou de estrada:

Pista – É variado para três tipos diferentes de provas: Contrarrelógio, perseguição e velocidade.

Estrada – Percurso que pode chegar aos 120 quilômetros, categorizados de acordo com as cores de seus capacetes.

Há diferentes tipos de bicicletas para cada deficiência. A denominada Tandem é destinada a desfavorecidos de visão, que são acompanhados de seus guias, com o meio de transporte possuindo 2 bancos e 4 pedais, a pessoa com visão na frente e a de incapacidade visual atrás, estando sincronizados nas pedaladas.

A classe para ciclistas deficientes visuais é definida pelo mesmo nome: Tandem, carregando a letra B.

Futebol de 5

Esporte conhecido por ser o mais popular no Brasil, o futebol na versão paralímpica é chamado de Futebol de 5, aparecendo nos Jogos de Atenas em 2004. Mais uma modalidade focada em deficientes visuais, os jogos são em uma quadra adaptada, estilo futsal. Porém, desde os jogos de Atenas passou a ser praticado em gramas sintéticas também.

Cada time é estruturado por 5 jogadores, 4 na linha, e o goleiro, que é o único atleta sem deficiência visual que atua junto a seus companheiros vendados. As partidas são realizadas sempre sem qualquer barulho, para assim frisar a concentração na audição, senso fundamental para o grupo. Jogo com 2 tempos de 25 minutos (durando 50 minutos), e intervalo de 10. Não há cobranças de escanteios e laterais.

Os jogadores usam vendas a todo momento e, se houver algum toque, o atleta comete uma falta. Ao completar um total de 5 infrações, o mesmo é expulso da partida e pode ser substituível. As bolas possuem guizos internos servindo para os jogadores ouvir seu disparo.

Três jogadores homens presentes em um gramado sintético, usam venda preta de futebol de 5 nos olhos, na disputa por uma só coisa: a bola

Foto: Matsui Mikihito/CPB

Guia (chamador): localizado atrás do gol alertando as circunstâncias no jogo, dizendo onde os jogadores devem se posicionar e pra onde devem chutar. Permitido a auxiliar em certa zona da quadra, determinada por uma marcação colocada na banda lateral, dividindo a quadra em 3 partes, fazendo o técnico e goleiro também participarem na orientação. Respectivamente responsáveis quando se firma a parte da área da defesa (goleiro), centro (técnico) e ataque (chamador).

O futebol de 5, apesar de ter uma essência inclusiva, ainda é restrito quando se fala em gênero e há um amplo debate pela defesa pela categoria feminina nesta modalidade.

Classes no futebol de 5: Atletas divididos em 3 classes, referidas a letra B (blind, cego em inglês). Separação feita em B1 (Cegos totais ou com percepção da luz), B2 (Com percepção de vultos) e B3 (Conseguem definir imagens). No torneio paralímpico, contudo, é válida apenas a participação da classe B1.

Agora, vamos a algumas menções importantes ao judô, hipismo, remo e triatlo.

Curiosidades

Por que dentro das modalidades para deficientes visuais, as vendas são regras a serem seguidas?

O uso da peça é obrigatória na maioria das disputas entre cegos, mantendo uma relação de igualdade, evitando margem de hipóteses de vantagem na hora da competição por medalhas. Uns atletas até personalizam da forma que gostariam, mas se não usarem corretamente são punidos ou desclassificados. Em cada modalidade, há uma determinada adaptação às vendas, como visto nas modalidades abaixo:

Natação – Os próprios óculos de uso na natação tapam os olhos, exercendo a proteção que a venda entregaria. Eles trazem a opção de customização cobrindo as lentes com fitas adesivas pretas ou tinta. Ao terminar a prova, o árbitro verifica se não passou luz pelos óculos do competidor, validando seu uso.

Futebol de 5 – A venda faz parte do uniforme de futebol 5, impondo um equilíbrio a diferentes variações presentes nas classes entre todos os cegos, havendo indivíduos com cegueira parcial, entre outras.

Atletismo – No atletismo, a adaptação assegurada é um tampão cirúrgico, repreendendo qualquer luz para o campo de visão. Apenas podendo tocar na peça com autorização do árbitro.

Atleta branco de cabelo loiro americano com blusa representando seu país. Ele está dentro do pódio e ergue sua medalha na altura do ouvido para escutá-la

Foto: Buda Mendes / Getty Images

Medalhas com guizos: Ideia que transparece empatia a deficientes visuais

Uma novidade que surgiu recentemente nas paralimpíadas do Rio, em 2016, são as medalhas com guizos. Elas proporcionam um melhor sentido a cegos, que cumpriram bem suas provas e chegaram ao pódio.

A cena incrível de pessoas balançando a medalha perto de seus ouvidos nos torneios paralímpicos é capaz de tocar o coração de todo fã de esporte que sonha com oportunidades de crescer no ramo, destacando um espírito guerreiro e emocionante.

O efeito sonoro é emitido por meio de bolhinhas de metal, chamadas de guizos que, de acordo com a quantidade, deixa a percepção de qual medalha seja, tal inovação possível graças a uma caixa metálica de ressonância instalada aos discos que formam a medalha. A de ouro tem 28 pequenas esferas em seu interior, a de prata contém 20, e a de bronze 18, cada uma soando diferente, quando comparadas. Uma prática a favor da inclusão que o mundo do esporte precisa, desse jeito, podemos evoluir.

As fitas das medalha são realizadas por meio de quase 50% de fios de garrafa PET recicladas, e o ouro em especial, é sem mercúrio, valorizando o meio ambiente.

Texto produzido para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

 

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