Por Renata Teles e Vinícius Rodrigues

Quando os Jogos Paralímpicos começaram? O Brasil já disputou quantas Paralimpíadas? Quantas medalhas os atletas paralímpicos brasileiros conquistaram ao longo dos Jogos? Quais foram as edições que o Brasil melhor ficou colocado? Quais modalidades os atletas paralímpicos brasileiros se destacam? Essas são perguntas que rapidamente podem surgir quando acontecem os jogos paralímpicos a cada quatro anos. São questões interessantes e que permitem pensar a visibilidade e a valorização dos paradesportos e dos paratletas no Brasil ao longo de uma história de décadas desde a inserção destes no circuito internacional de competições esportivas e de inúmeras conquistas.

Mesmo os Jogos Paralímpicos sendo um megaevento de esporte de alto rendimento, as Paralimpíadas de Tóquio 2020, realizadas em 2021 devido à pandemia da Covid-19, tem tido uma pequena cobertura da mídia televisa e digital brasileira e, devido a isso, há muitos questionamentos e reflexões dos telespectadores e internautas acerca da história da participação brasileira nos Jogos Paralímpicos. As respostas são pouco conhecidas do público geral, bem como as premiações conquistadas desde a primeira participação efetiva dos atletas paralímpicos brasileiros.

Os Jogos Paralímpicos foram, oficialmente, realizados pela primeira vez no ano de 1960 em Roma, na Itália, contando com 23 países participantes, 400 atletas e 8 esportes, todavia, o Brasil só começou a participar das Paralimpíadas 12 anos depois, em Heidelberg, Alemanha Ocidental, com 20 atletas da delegação (todos homens). Disputando quatro das dez modalidades que compunham o programa de competições (Atletismo, Basquete em cadeira de rodas, Natação e Tiro com arco), não chegou a conquistar nenhuma medalha, contudo, ali já se concretizava o sonho dos atletas com deficiência do Brasil de participar de uma competição de projeção internacional nos moldes das olímpiadas, que já eram realizadas décadas antes, mas sem nenhum destaque para pessoas com deficiência.

Desde a primeira participação das equipes brasileiras nas Paralimpíadas em 1972, o Brasil já participou de 12 edições e, a cada ano, vem mostrando um desempenho significativo entre modalidades disputadas para chegar hoje Jogos Paralímpicos de Tóquio estando entre as principais potências paralímpicas do mundo, em virtude de ter ficado entre os dez primeiros colocados do quadro de medalha nas últimas três edições do megaevento, respectivamente ficando em 9º, 7° e 8° colocado nas Paralimpíadas de 2008, 2012 e 2016 (Gráfico 1).

gráfico em linhas sobreposto no gráfico em colunas, representando os números de medalhas brasileiras em cada edição dos Jogos Paralímpicos, bem como os números de modalidades em cada edição e a colocação geral. Heidelberg-1972: Brasil disputou quatro modalidades, não conquistou medalhas e não teve colocação. Toronto-1976: Brasil disputou 9 modalidades, conquistou uma medalha e se classificou em 31ª posição no quadro geral. Arnhem-1980: Brasil disputou três modalidades, não conquistou medalhas nesta edição e sua colocação foi 42º. Stoke Mandeville (Reino Unido) e Nova York (EUA) – 1984: duas modalidades, 28 medalhas, 24ª colocação. Seul-1988: 5 modalidades, 27 medalhas e 25ª posição. Barcelona-1992: 6 modalidades, 7 medalhas e 32ª colocação. Atlanta-1996: 10 modalidades, 21 medalhas e 37ª colocação. Sydney-2000: 9 modalidades, 22 medalhas e 24ª posição. Atenas-2004: 13 modalidades, 33 medalhas e 14ª colocação. Beijing-2008: 17 modalidades, 47 medalhas e o Brasil se classificou em 9ª colocação. Londres-2012: 18 modalidades, 43 medalhas e 7ª colocação. Rio-2016: 22 modalidades, 72 medalhas e o Brasil se classificou em 8º lugar.

Fonte e elaboração: Portal Comitê Paralímpico Brasileiro

De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), até a última edição, Rio 2016, o número de medalhas conquistadas pelos/as atletas brasileiros/as impressiona: são ao todo 301 medalhas, sendo 87 de ouro, 112 de prata e 102 de bronze, o que demonstra o alto nível dos atletas paralímpicos do Brasil (Gráfico 2).

Descrição do gráfico 2: gráfico em formato de pizza dividido em três partes apresentando o total de medalhas do Brasil nos Jogos Paralímpicos; a parte dourada representa as 87 medalhas de ouro, a parte cinza representa as 112 medalhas de prata e a parte amarronzada representa as 102 medalhas de bronze.

Fonte: Portal Comitê Paralímpico Brasileiro. Elaborado pelos autores.

Na segunda participação do Brasil nos Jogos Paralímpicos veio a conquista da primeira medalha brasileira e da participação de duas atletas mulheres. O país disputou nove das treze modalidades que compunham o programa de competições (Atletismo, Basquete em cadeira de rodas, Lawn bowls, Levantamento de peso, Natação, Sinuca, Tênis de mesa, Tiro esportivo, Tiro de dardo). O primeiro pódio brasileiro aconteceu nas Paralimpíadas de Toronto em 1976, no Canadá, onde a dupla Luiz da Costa e Robson de Almeida (ambos atletas que usam cadeira de rodas) obteve o segundo lugar no Lawn Bowls, conhecido como Boliche na grama, esporte semelhante à bocha (atualmente, a modalidade não faz mais parte do programa paralímpico).

Da sua estreia até a última edição dos Jogos Paralímpicos, Rio-2016, a delegação brasileira subiu ao pódio em quase todas as edições, com exceção da sua primeira e terceira participação; Jogos Heidelberg-1972 e Jogos Arnhem-1980. Já nos jogos realizados em Nova York, EUA, e Stoke Mandeville, Reino Unido, em 1984, EUA, contando com 29 atletas, sendo seis mulheres, o Brasil subiu 28 vezes ao pódio. Foram sete de ouro, 17 de prata e quatro de bronze, sendo as seis medalhas faturadas em N.Y. por Márcia Malsar (antiga classe C6 – paralisia cerebral) e Anelise Hermany (antiga classe B2 – deficiência visual); um ouro, três pratas e dois bronzes no Atletismo. Nas provas em Stoke Mandeville, o Brasil ganhou 22 medalhas, sendo seis de ouro, 14 de prata e duas de bronze, onde Amintas Piedade (antiga classe 1C – deficiência física) e Luiz Cláudio Pereira (antigas classes 1C – deficiência física e THW4) levaram, cada um, dois ouros e duas pratas no Atletismo, e Miracema Ferraz (antiga classe 1A – deficiência física) um ouro e cinco pratas na Natação.

Em Seul-1988, o Brasil conquistou um total de 27 medalhas, nivelando o desempenho geral dos Jogos de 1984 nos EUA. Além do sucesso brasileiro no atletismo e na natação, subindo, respectivamente, 16 e 9 vezes ao pódio, Jaime de Oliveira, Júlio Silva e Leonel Cunha Filho foram os primeiros atletas do Brasil a conquistar uma medalha paralímpica no Judô (modalidade é disputada por atletas com deficiência visual), ambos conseguiram o bronze em suas categorias.

O atleta paralímpico brasileiro Luiz Cláudio Pereira pode ser citado como o primeiro grande atleta paralímpico brasileiro, visto que, depois de conquistar duas medalhas de ouro e duas de prata nos Jogos de 1984, ele se consagrou bicampeão paralímpico em arremesso de peso e lançamento de dardo em Seu-1988. Além disso, conquistou ouro em lançamento de disco, quebrou o recorde mundial do peso e do dardo e o recorde paralímpico do disco. Concluindo sua participação nas Paralimpíadas de 1988, Luiz repetiu a prata no pentatlo.

Posteriormente, nos jogos de Barcelona-1992, o Brasil infelizmente subiu ao pódio apenas 7 vezes. Apesar disso, Luiz Cláudio Pereira se despediu dos jogos ganhando sua 6ª medalha de ouro paralímpica ao vencer a prova do arremesso de peso e quebrou o recorde mundial com 9,03m; e, Suely Guimarães (antiga classe THW7) conquistou o ouro no lançamento de disco estabelecendo um novo recorde mundial da prova com a marca de 22,4m.

Já em Atlanta-1996, o Brasil ganhou 11 medalhas no Atletismo, nove na Natação e, pela primeira vez, pela primeira vez, conquistou o ouro no Judô com Antônio Tenório. Ademais, as Paralimpíadas de Atlanta são lembradas pela delegação brasileira contar com 19 mulheres na equipe; o recorde até aquela edição do megaevento.

Nas disputas de Sydney-2000, os atletas brasileiros conquistaram seis medalhas de ouro, dez de prata e seis de bronze, totalizando 22 medalhas. A subida ao pódio foi graças ao Atletismo, Natação, Judô e, pela primeira vez, graças ao Futebol de 7, conquistando o bronze na modalidade.

A partir das Paralimpíadas de Atenas-2004, foi possível constatar a importância que teve a Lei Agnelo/Piva (Lei nº10.264) para o desporto e paradesporto nacional; lei esta que garantiu recursos de forma perene para o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e para o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Usufruindo de melhores condições e mais estrutura para treinar, os/as atletas paralímpicos dobraram a quantidade de medalhas de ouro às dos últimos jogos, com 14 medalhas, alcançando a primeira com o Futebol de 5. No total, a delegação brasileira obteve 33 medalhas, estabelecendo um recorde nacional.

Além da Lei Agnelo/Piva, adicionaram-se outros Programas do Governo Federal para o incentivo do esporte, como o Patrocínio da Caixa Econômica Federal e convênios com o, hoje extinto, Ministério do Esporte e apesar de os recursos em sua maioria ainda se constituírem em recursos públicos, e os patrocínios privados serem a menor parte, os incentivos privados se expandem, bem como a demanda por mais incentivo público, pois o montante ainda está longe do necessário a nível nacional. Contudo, o Brasil, com uma estrutura geral um pouco melhor demonstrou a importância do incentivo material, estando entre as dez maiores potências dos Jogos Paralímpicos de Beijing-2008. Ao todo, foram conquistadas 47 medalhas, sendo 16 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze, nos mais diversificados esportes: Atletismo; Bocha; Futebol de 5; Hipismo; Judô; Natação; Tênis de Mesa; e, Remo.

Os nadadores Daniel Dias (classe S5 – grau de funcionalidade física) e André Brasil (classe S10 – grau de funcionalidade física); e, o corredor Lucas Prado (classe T11 – deficiência visual) juntos responderam por 11 das 16 medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil na China. Ainda nesta edição do megaevento em Beijing, o paulista Antônio Tenório sagrou-se tetracampeão paralímpico, consolidando-se como o maior judoca paralímpico do Brasil e único, até aqui, a ter conseguido obter tal desempenho na modalidade nos Jogos Paralímpicos.

Embora o total de medalhas brasileiras tenha oscilado (de 47 para 43) nas Paralimpíadas Londres-2012, o Brasil bateu o recorde de medalhas de ouro em toda a sua campanha na história dos Jogos Olímpicos. Ao todo, foram 21 medalhas de ouro, correspondendo nove para a Natação, sete no Atletismo, três com a Bocha, um no Futebol de 5 e, estreando a primeira medalha, uma para a Esgrima em cadeira de rodas. O Brasil reforçou a sua condição de uma das potências mundiais do paradesporto em Londres ficando em sétimo lugar do quadro de medalhas.

Novamente, os nadadores Daniel Dias e André Brasil fizeram história nas Paralimpíadas:  Daniel Dias venceu em todas as seis provas individuais que disputou, em vista disso, se tornou um fenômeno na Natação Paralímpica, somando 15 medalhas nos Jogos, sendo 10 de ouro; já o nadador André Brasil somou mais três ouros com as quatros conquistadas em Beijing; além dos ouros, André conquistou duas pratas.

No Atletismo, o brasileiro Alan Fonteles venceu a prova dos 200m (antiga classe T44 – amputados de membros inferiores com prótese) com o tempo de 21s45. Um ano depois, em 2013, Alan Fonteles se consagraria como o grande velocista paralímpico do momento. Naquele ano, passou a ser o atual recordista mundial dos 100m e dos 200m. Já Terezinha Guilhermina faturou em Londres-2012 a quinta medalha dourada nos 100m e 200m na classe T11 (deficiência visual).

Sendo sede das Paralimpíadas Rio (2016), o Brasil não apenas bateu o recorde no total de medalhas, somando 72 medalhas (14 de ouro, 29 de prata e 29 de bronze), como também contou com a delegação com mais mulheres na equipe (106). Sobre esses jogos, os pontos que necessitam ser destacados são: o Atletismo realizou sua melhor campanha em todos os tempos; a Natação igualou a melhor marca anterior no quesito número de pódios; Daniel Dias é hoje o maior medalhista masculino da história da Natação Paralímpica, com a conquista de 24 medalhas nos Jogos; e, o Brasil esteve representado em 13 pódios, quatro deles de forma inédita – canoagem, ciclismo, halterofilismo e vôlei sentado.

Fonte: Portal Comitê Paralímpico Brasileiro. Elaborado pelos autores.

­­­É possível constatar, a partir dos dados na tabela 1, que o Brasil se destaca no Atletismo, contabilizando 142 medalhas em Jogos Paralímpicos, das quais 40 são de ouro, 61 são de prata e 41 são de bronze. A Natação é, depois do Atletismo, a modalidade onde o país mais se destacou, sendo que nesta modalidade, ao todo, soma 101 medalhas, sendo 31 de ouro, 34 de prata e 36 de bronze. Praticado por atletas com deficiência visual, o Judô perde apenas para o Atletismo e a Natação entre as modalidades que mais renderam medalhas ao Brasil. E, para finalizar a citação das modalidades em que o Brasil ganhou muitas medalhas douradas, o Futebol de 5, que entrou para o programa dos Jogos Paralímpicos a partir da edição de Atenas-2004, e, desde a estreia, todas as edições foram vencidas pelo Brasil.

Os Jogos Paralímpicos de Tóquio começaram e o Brasil é um dos 162 países que disputam medalhas no evento representado por 260 atletas (incluindo atletas sem deficiência como guias, calheiros, goleiros e timoneiros, sendo 164 homens e 96 mulheres) que vão competir em 20 das 22 modalidades; é a maior delegação do País no exterior. Como já supracitado, o Brasil conquistou 87 medalhas douradas ao longo da história dos Jogos Paralímpicos e, analisando o seu progresso significativo nas últimas edições, tem grandes chances de conquistar a 100° medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.

*Nota: até o final da produção desta matéria, seis medalhas de ouro haviam sido conquistadas, aproximando ainda mais o País do feito de alcançar 100 medalhas douradas.

Fontes para leitura:

Paralimpíada em números: quantas medalhas o Brasil já conquistou?, por CPB – Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro.

Medalhistas brasileiros em Jogos Olímpicos, por Rede do Esporte.

O Brasil nos Jogos Paralímpicos, por Rede do Esporte.

Jogos Paralímpicos de Verão e sua história. O esporte ao alcance de todos, por R Shimosakai.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Márcio Santilli

‘Caminho do meio’ para a demarcação de Terras Indígenas

NINJA

24 de Março na Argentina: Tristeza não tem fim

Renata Souza

Um março de lutas pelo clima e pela vida do povo negro

Marielle Ramires

Ecoturismo de Novo Airão ensina soluções possíveis para a economia da floresta em pé

Articulação Nacional de Agroecologia

Organizações de mulheres estimulam diversificação de cultivos

Dríade Aguiar

Não existe 'Duna B'

Movimento Sem Terra

O Caso Marielle e a contaminação das instituições do RJ

Andréia de Jesus

Feministas e Antirracistas: a voz da mulher negra periférica

André Menezes

Pega a visão: Um papo com Edi Rock, dos Racionais MC’s

FODA

A potência da Cannabis Medicinal no Sertão do Vale do São Francisco

Movimento Sem Terra

É problema de governo, camarada