Como o esporte tem ajudado pessoas com deficiência e os jovens de baixa renda a vencerem suas lutas contra os obstáculos de suas caminhadas

Por Luiza Diniz

De acordo com o IBGE, o Brasil está na lista dos 10 países mais desiguais do mundo. A concentração de renda nas mãos de seletos habitante gera uma problemática ainda sem solução em nosso país e impossibilita o acesso igualitário às oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional para grande parte da população. Sem acesso a ferramentas e sem visibilidade, grandes talentos somem na multidão e perdem a chance de realizarem seus sonhos, mudando suas narrativas.

Por isso, é necessária a procura por investimentos em medidas que possam abrir novos horizontes para esses grupos sociais que são invisibilizados, excluídos e até marginalizados pela sociedade. Ao longo dos anos, um caminho tem obtido sucesso na busca por uma nova realidade social. Abrindo um leque de oportunidades, a prática de esportes tem sido protagonista nas histórias de superação dessas minorias.

O recomeço através do esporte

O exercício esportivo carrega consigo a capacidade de agregar valores importantes aos que o desempenham. Muito além do lazer, a prática de esportes traz em sua essência uma lição de empatia, de organização, de disciplina, de superação dos medos e em alguns casos, é fator determinante para o início de uma nova vida. À luz dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, onde o espírito esportivo e a conquista dos atletas está sob os olhos de tantos espectadores, é essencial tornar evidente a trajetória de esportistas com algum tipo de deficiência, sejam elas físicas, sensoriais ou mentais. O esporte adaptado, que consiste na mudança de regras e de estruturas a fim de permitir a participação plena de PCD’s (Pessoas com deficiência), possibilitou a redescoberta do potencial dessa parcela da população, atuando na recuperação da autoestima, na melhoria da qualidade de vida e incentivando a autoconfiança. A atividade que tinha como objetivo incentivar pessoas com deficiência em sua busca por independência, apesar das limitações, tornou-se uma alavanca para realização de sonhos e possibilitou o surgimento de grandes atletas ao redor do mundo.

A conquista do Olimpo

Em 1948, o neurologista alemão Ludwig Guttmannem decidiu utilizar o esporte como um novo modelo de tratamento para seus pacientes. O médico, que trabalhava na recuperação de pessoas com lesões graves na coluna, promovia pequenas competições que se tornaram o esboço para o surgimento oficial dos chamados Jogos Paralímpicos em Roma, no ano de 1960. Atraindo cada vez mais participantes, o evento abriu mão de seu caráter terapêutico, garantindo a profissionalização e se tornando uma competição de alto nível. Ao longo das edições, os atletas brasileiros foram ganhando destaque. De acordo com os dados do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), desde sua primeira participação em 1972 na Alemanha até os jogos do Rio em 2016, o Brasil conquistou 301 medalhas, sendo 87 de ouro, 112 de prata e 102 de bronze, garantindo o 19° lugar no ranking geral de países que mais subiram ao pódio na história das Paralimpíadas.

Cada medalha conquistada representa a vitória de um atleta ao enfrentar os obstáculos de sua narrativa. É o caso do nadador brasileiro Daniel Dias, nascido com uma má formação nos membros superiores e inferiores, teve seu primeiro contato com a natação em 2004, aos 16 anos. Hoje, aos 33, o esportista coleciona 24 medalhas paralímpicas, 14 títulos, 6 recordes mundiais e dois troféus Laureus, considerado o “Oscar” do esporte. Dias é um dos grandes nomes da natação brasileira, dando um show de talento nas piscinas e silenciando os capacitistas, o atleta é um dos inúmeros responsáveis por trazer visibilidade para a causa das pessoas com deficiência.

“Daniel é um jovem especial, não por ser deficiente, mas por ser como é. Você é nosso orgulho, com você aprendemos cada dia mais”, disseram os pais do atleta em carta aberta, publicada em seu site.

Escola de Surf no Ceará. Foto: Davi Pinheiro / Gov do Ceará

Escrevendo uma nova história

O esporte também proporciona mudanças na vida de jovens de baixa renda, que veem na atividade uma oportunidade de sonhar mais alto. Unindo diversão e compromisso, o trabalho desenvolvido por projetos sociais em comunidades brasileiras é responsável pela descoberta de diversos talentos do cenário esportivo atual. Rafaela Silva, judoca brasileira medalhista de ouro no Jogos Olímpicos do Rio em 2016, se iniciou no esporte através do Instituto Reação, projeto criado pelo ex-judoca Flávio Canto. Outro exemplo de sucesso é o canoísta Isaquias Queiroz, ganhador de três medalhas nos Jogos do Rio.

O esportista foi descoberto aos 11 anos através do extinto projeto Segundo Tempo do Ministério do Esporte. Ambos de origem humilde, enfrentaram diversas dificuldades no caminho até o pódio, caminhada essa que não teria sido iniciada se não fosse o apoio de ONGs que incentivam a inclusão social. É urgente que sejam criadas políticas públicas de incentivo ao esporte, para que a próxima geração de Isaquias, Rafaelas, Ítalos, Silvanas e tantos outros talentos, não percam a chance de reescrever suas histórias.

Texto elaborado em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube.

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