Folashade Oluwafemiayo quando quebrou o recorde mundial feminino acima dos 86 kg. Foto: Alex Pantling Getty Images via IPC

 

Por Tácio Santos

Durante os Jogos Paralímpicos, é comum observar diferentes tipos de comparação entre o desempenho esportivo de atletas e paratletas. No entanto, existem diversos fatores que se não forem devidamente considerados, podem tornar as comparações inadequadas.

Além de características físicas específicas do paratleta, também há possível interferência de suas órteses ou próteses, e das próprias demandas esportivas, que podem ser diferentes na versão adaptada de um esporte, ou em um paradesporto sem equivalente nos esportes regulares.

Contudo, no levantamento de peso básico, estas interferências são minimizadas. Apesar desse tradicional esporte não integrar o programa olímpico, há uma versão paralímpica que ocorre sem grandes adaptações. Assim, o levantamento supino, que é feito somente com a parte superior do corpo, e que admite paratletas com deficiência no quadril ou nas pernas, permite uma comparação razoável.

Foto: Hiroki Nishioka via World Para Powerlifting

Para tanto, examinemos dados recentes de dois grupos de competidores com características semelhantes, ou diferenças passíveis de correção. Um deles é composto por atletas regulares no âmbito da International Powerlifting Federation, e o outro, por paratletas no âmbito da World Para Powerlifting.

O primeiro grupo foi descrito em um estudo realizado por pesquisadores da Eslovênia e do Reino Unido em 2021, e o segundo, em um estudo conduzido na Universidade Federal de Sergipe em 2020. Ambos são representados pelos valores médios.

Os atletas regulares tinham 26 anos, três anos e meio de experiência, e pesavam 93 kg. Já os paratletas estavam com 26 anos, dois anos e meio de experiência, e 78 kg. O peso máximo erguido pelos atletas regulares no levantamento supino foi 151 kg, e pelos paratletas, 136.

À primeira vista, os atletas regulares apresentam um desempenho 11% superior ao dos paratletas. Entretanto, quando corrigimos estes valores para o peso corporal de cada grupo, a situação se inverte, e uma diferença também de 11% ocorre a favor dos paratletas. Os atletas regulares levantaram 1,61 kg para cada quilograma do seu peso corporal, e os paratletas, 1,80.

Mariana D’Andrea ganha a primeira medalha de ouro do Brasil no Para Powerlifting. Foto: Koki Nagahama / Getty Images via IPC

Deste modo, é possível observar que em condições similares, e com as devidas correções, paratletas podem apresentar um desempenho superior ao de atletas regulares. Tal fato se enquadra no confeito de eficiência: fazer mais com o mesmo; ou fazer o mesmo com menos.

Trata-se de uma constatação de fácil entendimento no esporte, principalmente naqueles em que o desempenho é dado em unidades de medida, como no levantamento de peso básico, que o contabiliza em quilogramas. Porém, existem inúmeras demonstrações de eficiência dadas diariamente por pessoas com deficiência que não são quantificáveis com a mesma exatidão, mas que podem ser identificadas se nós também fizermos o devido ajuste na forma de analisar as coisas.

Texto produzido para a cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube

 

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