Eleitas pelo PSOL, ambas fizeram história nos estados de São Paulo e Minas gerais ao conquistar milhares de votos

Com a vitória de Célia e Sônia, a representatividade da mulher indígena cresceu 100% desde a última eleição (Jornalistas Livres)

O movimento indígena celebra a vitória de duas candidatas indígenas à Câmara Federal: Sônia Guajajara (SP) e Célia Xakriabá (MG), ambas, eleitas pelo PSOL. No Acampamento Terra Livre (ATL) deste ano, o projeto de demarcação de espaços ganhou ainda mais vulto com o projeto de “aldeamento político”, uma forma de garantir representatividade indígena nos espaços de poder. E Sônia e Célia são lideranças expressivas no movimento. Agora, consagradas pelas urnas.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) aponta que o saldo representa um crescimento de 100% em relação à eleição de 2018, ocasião em que Joênia Wapichana tornou-se a primeira mulher indígena eleita para o Congresso.

Sônia tornou-se a mulher mais votada do Brasil, conquistando 156.963 e a primeira mulher indígena a ser eleita em São Paulo. “São 156.963 pessoas que acreditam que os povos indígenas devem estar no Congresso Nacional, ocupando os espaços de decisão. Isso é muito emocionante! Acreditam que podemos construir um futuro diferente, que respeite a vida das pessoas e da Mãe Terra”, disse ela ao agradecer os votos de confiança.

Ela é formada em Letras e Enfermagem e é coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), e integrante do Conselho da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais do Brasil. Foi candidata ao cargo de vice-presidente da República na chapa de Guilherme Boulos, em 2018, do PSOL.

Célia, por sua vez, obteve 101.154 votos. “Hoje entramos para a história. Primeira deputada federal indígena eleita pelo estado de Minas Gerais e iniciamos um novo momento da história da democracia neste país.  Vamos com tudo para esse novo ciclo de luta, ARIÃTÃ!”, disse ela em agradecimento.

A nova deputada federal é professora e sua pauta é a defesa dos territórios indígenas e de ações que atenuem as mudanças climáticas. Foi da primeira turma de Educação Indígena da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2013.

Reparação histórica

O número de mulheres candidatas indígenas neste ano foi expressivo, com um aumento de 189% desde 2014, passando de 29 para 84 candidaturas. O crescimento dos candidatos homens nesse período foi de 78,5%.

O coordenador executivo da Apib, Kleber Karipuna, descreveu que esta é uma articulação “por uma reparação histórica que vem para romper com avanço do projeto genocida e de privilégio de lucros e exploração da natureza em detrimento da vida”.

A pressão do movimento indígena tem sido estratégica para conseguir frear o avanço do Projeto de Lei 191/20, sobre a mineração em Terras Indígenas, cujo regime de urgência foi aprovado pelo plenário da Câmara no mês de março, a partir de uma manobra que partiu do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), passando com 279 votos a favor.

Ambientalistas de todo o país sabem que tem em Sônia e Célia, duas importantes aliadas para somar à resistência contra o retrocesso da legislação ambiental.