Foto: Reprodução / Twitter

Trechos de uma aula gravada de curso preparatório para a Polícia Rodoviária Federal voltaram a viralizar nas redes após o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, nesta semana, em Umbaúba (SE).

O vídeo, gravado em 2016, mostra um professor do curso rindo e ironizando ao contar que aplicou spray de pimenta no porta-malas de uma viatura para conter um suspeito. Essa foi justamente a forma com que Genivaldo foi assassinado em Sergipe.

No vídeo, ele diz: “Nesse ínterim que a gente ficou lavrando procedimento, ele estava na parte de trás da viatura, ele ainda tentou quebrar o vidro da viatura com chutes. Ficou batendo o tempo todo. O que que o polícia faz? Abre um pouquinho… (deixa eu coisar porque está gravando). Pega o spray de pimenta e taca (faz gestos como se tivesse abrindo o porta-malas e acionando spray). F**a-se. Car***o, é bom pra car***o. A pessoa fica mansinha. Daqui a pouco eu escutei assim: ‘Vou morrer, vou morrer’. Aí, eu fiquei com pena, cara. Eu abri assim. Tortura. E fechei de novo. Enfim, sacanagem. Eu não fiz isso não porque pode ser…”.

Em uma reportagem da BBC News, Ronaldo Bandeira, que lecionava no curso preparatório Alfacon, afirma que o trecho do vídeo em circulação está descontextualizado. Ele afirma que era um exemplo “do que o aluno não deve fazer. Para talvez ficar mais elucidativo, para ficar mais claro, a gente utiliza de meios que fiquem mais claros para o aluno”.

Ele atua na PRF há 11 anos em Santa Catarina e afirmou ainda que a piada e as risadas ao narrar uma situação de tortura seria uma forma de deixar a aula descontraída. “A gente tenta pegar exemplos elucidativos para o aluno tentar entender. Era uma turma cheia, uma turma presencial, [foi feito] para que a aula ficasse mais descontraída”.

“Era somente um exemplo fictício. Quero deixar isso bem claro. Em nenhum momento eu fiz isso na prática ou corroborei com isso na prática ou me omiti em relação a isso.”

Em nota, o curso reforçou que não compactua com as cenas de tortura e informou que Ronaldo Bandeira não faz parte da equipe de professores do curso desde 2018.

Esta, no entanto, não foi a única polêmica envolvendo os cursos da Alfacon. Em 2019, uma reportagem da Ponte Jornalismo expôs outras aulas para concurso de polícia que ensinavam técnicas de tortura e execução.

Confira nota do Alfacon Concursos sobre o caso:

O Alfacon Concursos informa que repudia qualquer tipo de violência, seja física ou psicológica, contra civis. A empresa, tanto por meio da plataforma de cursos como pela editora, acredita que a educação é o motor de transformação social e de estabilidade financeira, promovendo, nos seus 13 anos de existência, acesso de estudantes ao conhecimento técnico necessário para concursos públicos das mais variadas naturezas.

Em que pese o fato de o referido professor não fazer mais parte do curso desde 2018, o Alfacon não compactua com as informações, que não condizem com as políticas e os valores da companhia. Esse discurso tampouco está em alinhamento com os treinamentos pelos quais todos os educadores são submetidos ao ingressarem no corpo docente. O Alfacon preza pela formação dos oficiais, valorizando a carreira policial de forma ética, entendendo a importância desses profissionais para a segurança pública.

Editado no dia 29/05 às 16h15