A amostragem de pessoas com deficiência na premiação se assemelha a um ato de caridade da qual a premiação parece se orgulhar

CODA – No ritmo do coração. Foto: Divulgação

Por Andy Rodriguez para cobertura colaborativa Cine NINJA dos Oscars 2023

Oriundo de um Oscar repleto de novas e merecidas conquistas, o sentimento de frustração nesse ano é inevitável.

Em 2022, a categoria mais esperada da noite teve como vencedor o filme CODA (No Ritmo do Coração). O longa retrata uma família e suas adversidades cotidianas perante a deficiência auditiva de todos (pai, mãe e irmão), menos da filha mais nova, que carrega consigo responsabilidades resultantes de uma sociedade totalmente despreparada para conviver com sua família.

Voltando em mais um ano (2021), na categoria de Melhor Documentário, tivemos Crip Camp concorrendo. O documentário que conta a história e o retrato político que o festival de mesmo nome provocou em jovens com deficiência que começaram a ter conversas estimulantes e semelhantes, das quais veio a surgir um forte movimento de exigência a visibilidade e humanização.

Ainda no mesmo ano, O Som do Silêncio concorria a 6 categorias na noite, incluindo a de Melhor Filme. O Som do Silêncio conta a história de Ruben, que começa a perder a audição já na vida adulta. Esse conflito se torna ainda mais intenso ao se tratar de um músico (baterista). No elenco, grande parte dos atores são surdos. Porém, até mesmo suas exceções tem um papel significativo para a narrativa, como Paul Raci (Joe), que apesar de poder ouvir, cresceu com pais surdos e sabe usar a língua de sinais, além de ser um grande ativista na causa.

O Som do Silêncio. Foto: Divulgação

Seguindo na mesma noite de premiação, também tivemos Feeling Through concorrendo à Melhor Curta-Metragem, trazendo no protagonismo juntamente com Steven Prescod, o ator cego-surdo Robert Tarango. O filme é baseado numa história real, que aconteceu com o próprio diretor do filme Doug Roland.

Neste ano, contudo, não encontramos o que fez os meus e vários olhos brilharem nesses últimos dois anos. Como mulher lésbica, pcd, atriz e diretora, a noite do dia 12 de março não será mágica. Minha torcida será amenizada pela ausência de representatividade que a cerimônia trará. No time de apresentadores conseguimos ver um pouco mais do que fará falta:

14 mulheres, 10 negros, 03 asiáticos, 02 latinos, 02 não binárias e 01 PCD.

Pois é, 1.

Infelizmente a comunidade PCD é exacerbadamente excluída, inferiorizada, tratada com desumanização e invisibilidade. Somos indiferentes. Não somos amados, não somos odiados, não somos lembrados, não somos vistos.

Há quem justifique a nossa ausência como ausentes, como se realmente fôssemos um número tão pequeno que não valha a pena discutir ou lutar. Seja nos meios mais conservadores, seja no próprio meio ativista, como no caso da produtora Porta dos Fundos que tem como meio de linguagem a quebra do sistema conservador e seus preconceitos, mas que já teve como ponto de humor a ridicularização de um personagem com a voz anasalada, retratado no filme Peçanha. O vídeo poderia ter sido alvo de críticas já que sustenta uma legião de fãs que também lutam pelas mesmas causas e quebra do sistema que fere a existência de muitos, mas pelo visto, não de todos.

Por fim, me visto de esperança ao acreditar que a exceção seja a premiação desse ano, que não temos pessoas com deficiência nas categorias, nem mulheres na categoria de melhor direção, ou atrizes negras na categoria de melhor atriz. Que esse ano seja a exceção dos próximos anos em que seremos novamente vistos.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023