Chafurdando no cruzeiro escatológico das grandes fortunas

Cena de Triângulo da Tristeza. Foto: Divulgação.

Por Carolina Martins para a Cobertura Colaborativa Cine NINJA do Oscar 2023

Como descrever “Triângulo da Tristeza” em uma frase? A produção com uma das mais longas sequências escatológicas já vista. Talvez perca para a “A Centopeia Humana” (2009), mas acho que esse é insuperável.

O sueco Ruben Östlund, diretor e produtor do filme, é conhecido pelas cenas incômodas e desconfortáveis. O celebrado “The Square: A Arte da Discórdia” (2017) levou o prêmio principal de Cannes 2018 e chegou ao Oscar no mesmo ano, indicado como Melhor Filme Estrangeiro. A dobradinha se repete agora com “Triângulo da Tristeza” – que já conquistou a Palma de Ouro de Cannes e está na lista do Oscar 2023 como Melhor Filme.

Vale assistir pela linha crítica que é construída – uma sátira em torno da elite financeira global e da nova carreira do momento: os influenciadores digitais.

As cenas incômodas e desconfortáveis foram pelo caminho do exacerbado. Há soluções de mesmo impacto e menos nojentas para passar a mesma mensagem? Há. Mas, se é o exagero que gera interesse, exageremos.

De forma geral, o filme é um pouco arrastado: as cenas são longas, algumas repetitivas e que não acrescentam nada ao roteiro. Os diálogos são marcados por hiatos de silêncio – alguns simbólicos, outros, maçantes.

Ponto positivo para as piadas ardidas, ressaltando as camadas de privilégios, e para o choque geracional que constrange os “bem sucedidos”: idosos milionários que fizeram fortuna com a indústria da guerra versus modelos “desconstruidões” que usufruem dos mesmos luxos mas sem ter tanto dinheiro – tudo agora é permuta.

Destaque também para a sátira às relações de poder estabelecidas por gênero e dinheiro. Mas o filme ficou ficou devendo na questão racial – contemplada apenas por uma breve e solitária menção.

Boa parte da história se passa em um iate de luxo, durante um cruzeiro onde toda essa gente rica se encontra e contrasta com a tripulação – muitos trabalhadores imigrantes. É nesse cenário que se dá a metáfora escatológica: na hora do enjoo em alta mar, não importa quantos diamantes tem o seu colar.

É quase um chafurdar, ao som de um repertório de citações ‘capitalistas’ e ‘marxistas’, uma batalha protagonizada pelos eixos da Guerra Fria, mas ao contrário: um russo milionário do ramo de fertilizantes que aplaude o capitalismo contra o capitão do iate, um estadunidense defensor de Marx, que faz críticas diretas ao próprio país.

Não é um debate profundo, não traz nenhuma novidade, mas a metáfora funciona.

Indicações ao Oscar 2023:
Melhor Filme
Melhor Roteiro Original

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023