Indicado a Melhor Filme no Oscar 2023, “Tár” propõe discussões sobre a política do cancelamento e abuso de poder para favorecimento sexual

Foto: Divulgação

Por Deyse Reis para cobertura colaborativa da Cine NINJA

Se você ainda não conferiu Tár, protagonizado por Cate Blanchett e dirigido por Todd Field, listamos três bons motivos para assisti-lo.

1 – Política do cancelamento

O público está cada vez mais exigente em relação aos seus artistas e suas condutas morais. Em uma era digital, ficou mais fácil acompanhar opiniões, traições, posicionamentos políticos. Quem se desvia do caminho ético, recebe automaticamente o chamado “cancelamento” e suas redes sociais perdem seguidores, os patrocinadores abdicam de contratos e a enxurrada de comentários e críticas se iniciam. Para evitar estragos, alguns artistas apostam na desculpa midiática e voltam atrás. Outros, acabam mesmo sendo esquecidos.

O fato é que o cancelamento compromete o legado e a obra desses artistas. Lydia Tár, personagem vivido por Cate Blanchett, é uma maestro renomada e aclamada pelo público e pela crítica, mas que usa do seu poder e prestígio para tirar proveito de fãs e aspirantes na profissão. Isso a assombra pois teme que tudo o que ela construiu seja posto à prova quando seu comportamento for exposto. Assim como na ficção, na vida real casos semelhantes têm surgido, como J. K. Rowling, autora de Harry Potter, que tem feito comentários transfóbicos; Roman Polanski, diretor de O Bebê de Rosemary, que confessou um envolvimento íntimo com uma garota de 13 anos; Kevin Spacey, ator e protagonista de House of Cards, que drogava e estuprava rapazes. O questionamento que o longa traz – em uma cena marcante e de plano sequência, que acontece durante uma aula – é: ainda que o artista seja cancelado pelos seus atos, o valor da sua obra profissional deve ser esquecido?

2 – Abusos sexuais / Me too

Em meio a tantos escândalos sexuais em Hollywood e o surgimento do Me Too, Tár instiga o diálogo por um outro viés. O abuso por parte de quem ocupa posições de poder ocorre em qualquer área, até mesmo naquelas que não imaginamos, como o mundo da música clássica, tão formal e refinado. E o abusador em questão não é um homem, mas sim uma mulher. E, talvez exatamente por esse aspecto, a mensagem seja transmitida com mais eficiência. O nojo pela conduta de Lydia ainda existe, o desgosto pela personagem ainda existe, mas a reflexão sobre os seus atos e suas consequências tem mais força. O filme deixa claro para o espectador o que ocorre, mas o foco é analisar cada nuance de dúvida, culpa, consciência e derrocada da maestro.

Foto: Courtesy of Focus Features

3 – Cate Blanchett

Considerada pela crítica como a maior atriz viva da atualidade, Cate Blanchett faz jus às suas oito indicações ao Oscar (conquistando dois até o momento), além do Globo de Ouro, Critics Choice e Bafta nesta temporada de premiações. Alguns especialistas afirmam que sua atuação em Tár é a maior de sua carreira. E talvez seja mesmo! Blanchett entrega uma performance forte e visceral, cheia de nuances, tornando a personagem Lydia Tár em uma mulher complexa. A maestro é tão bem construída que boa parte do público acreditou se tratar de uma biografia e que Lydia de fato existia. A atriz precisou aprender alemão, a tocar piano e sanfona, além de reger uma orquestra sinfônica. As cenas, assim como a trilha sonora do filme, são conduzidas verdadeiramente pela australiana. Apesar de um elenco coadjuvante muito bom, Blanchett carrega o filme sozinha com maestria. Literalmente!

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023