“Quando acolhemos nossos filhos, estamos fortalecendo-os para encarar o preconceito que, infelizmente, irão encontrar”

Angela Moysés e a filha Thaís. Foto: Divulgação

Por Kaio Phelipe

O Mães Pela Diversidade (MPD) é uma organização não governamental formada por mães e pais de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ e possui como objetivos o acolhimento e a luta por direitos civis e contra o preconceito, usando o amor familiar e a informação como poderosas ferramentas políticas.

Nesta entrevista, nós ouvimos Angela Moysés, mãe de Thaís, e participante do grupo Mães Pela Diversidade desde o início.

Como o Mães Pela Diversidade surgiu?

Angela Moysés – O Mães Pela Diversidade surgiu em 2014, por uma iniciativa da Majú Giorgi, que convidou algumas mães inconformadas com a violência e o preconceito que seus filhos, filhas e filhes estavam sofrendo e que queriam dialogar com mães e pais que viviam a mesma situação. As coisas foram caminhando e crescendo e hoje estamos presentes em todos os estados do país. Somos mais de 2 mil mães e pais cadastrados. O grupo se uniu pelo desejo de se impor contra a violência e nós sabemos que muitas vezes a agressão começa dentro de casa. Nossa ideia, então, foi levar informações corretas para dialogar com essas famílias e harmonizar o assunto, ou seja, acolher mães e pais para fazer uma troca correta de referências e fazê-los refletir sobre essa questão e se desconstruir. Também acolhemos mães e pais que não possuem dificuldades em relação ao assunto e buscam o grupo para lutar pelos direitos dos filhos. Quando acolhemos nossos filhos, estamos fortalecendo-os para encarar o preconceito que, infelizmente, irão encontrar.

Quem pode fazer parte do MPD e em qual momento mais buscam o grupo?

Angela Moysés – No início, o grupo era formado basicamente por mães. Hoje temos vários pais que integram, mas é importante preservar o nome inicial. Geralmente, o grupo é procurado quando o filho sai do armário ou quando a mãe ou o pai possui alguma dúvida em relação ao assunto. Por exemplo, quando minha filha me contou que é lésbica, eu não entendia nada em relação a isso e quando meu marido e eu começamos a pesquisar, vimos os horrores que aconteciam. Eu não podia ficar parada diante de tantos absurdos. Dentro do grupo, nós temos mães e pais que perderam o filho para a violência LGBTfóbica. É importante frisar que o Mães Pela Diversidade não quer ocupar o lugar de fala da comunidade. Nosso lugar de fala é como mães e pais. Não temos nenhum requisito quanto à identidade de gênero ou orientação sexual de pais e mães. A única condição para participar é ter um filho, filha ou filhe LGBTQIAPN+. A melhor forma para encontrar informações sobre nossas reuniões de acolhimento e sobre o grupo do seu estado é através do canal oficial de acolhimento, via WhatsApp, pelo número (11) 97362-1805.

Como funciona a rotina de atividades?

Angela Moysés – Cada estado possui uma mãe na coordenação para o desenvolvimento de ações dentro do grupo e também fora dele, como participação em seminários, ativismos políticos suprapartidários e palestras em empresas, escolas e universidades, lugares fundamentais para levantar a discussão sobre o bullying LGBTfóbico. Cada estado também propõe um cronograma de acordo com a agenda do próprio território e com as necessidades locais. Participamos das paradas do orgulho nos estados, onde espalhamos nosso lema: tire seu preconceito do caminho, que vamos passar com o nosso amor. Nosso contato para convites e propostas é o e-mail [email protected].

Os filhos participam em algum momento? Como essas ações refletem nas relações dentro de casa?

Angela Moysés – Sim, acontecem reuniões nas quais os filhos, filhas e filhes participam. É importante também que haja essa interação. O amor maternal é uma ferramenta política poderosíssima. Quando uma mãe fala, as pessoas parecem escutar mais. Temos um papel importante na sociedade. Todas as mensagens do grupo são passadas repletas de afeto. Usando a relação que vivencio em casa, gosto muito de trabalhar o conceito de acolhimento. Todo filho merece ser acolhido. Quando falamos em aceitação, para mim, parece que estou fazendo uma concessão para amar. Quando acolho, não há restrição. Cada uma de nós, disseminando informações corretas no cotidiano, está afastando a violência do lugar onde estão nossos filhos.

Quais são as maiores conquistas do grupo?

Angela Moysés – Quando conseguimos levar para as famílias informações corretas sobre orientação sexual e identidade de gênero e essas famílias compreendem e acolhem seus filhos, filhas e filhes, e os vemos bem, fortalecidos e felizes, essa, com certeza, é a nossa maior conquista. Em questões institucionais, participamos de várias lutas, como a criminalização da LGBTfobia pelo STF [Supremo Tribunal Federal], equiparando-a ao racismo. As mães do DF [Diatrito Federal] compareceram a todas as sessões da votação e entregaram uma carta aos ministros explicando a necessidade da lei. Temos parceria firmada com o Ministério Público de São Paulo desde dezembro de 2021, quando assinamos um acordo de cooperação para favorecer a permanente reflexão, o diálogo, a troca de informações e a execução de ações articuladas, conjuntas e estratégicas de combate às manifestações de ódio e de intolerância de caráter LGBTfóbico.