Apresentação contou com sequência de hits com Dr Dre, Snoop Dogg, Eminem, Kendrick Lamr, Mary J Blige e participação de 50 Cent

Foto: Gregory Shamus/Getty Images

Uma figura surge em um ponto do palco. O público delira, mas do outro lado do estádio, outra pessoa com o mesmo figurino também emerge em meio a um show de luzes e depois, no centro do palco, o verdadeiro e lendário Rei do Pop, Michael Jackson faz a aparição que mudaria para sempre a história do intervalo do Super Bowl. Durante dois minutos o astro fica impassível, estático e se fosse só isso já seria o bastante para o público presente e em casa, mas em seguida vem o desfile de hits como ‘Jam’’, “Billie Jean”, “Black Or White”. Era 1993 e até aquele momento, os shows do evento passavam longe da grandiosidade que tem hoje, tanto em questões de audiência, quanto em patrocínio. Estreava o primeiro Halftime Show de lá para cá o show do intervalo do Super Bowl

Para se ter uma ideia dos números exorbitantes envolvidos, o Super Bowl 2020 gerou faturamento de US$ 448,7 milhões (R$ 2,4 bilhões) na compra de intervalos comerciais e no mesmo ano foram 102 milhões de espectadores só nos Estados Unidos, então faz sentido que artistas de peso sigam a trilha deixada por Michael.

No último domingo (13) aconteceu o que alguns veículos de mídia e o público consideram um dos melhores shows da história do megaevento. No intervalo da partida entre Los Angeles Rams e Cincinnati Bengals, Dr. Dre, Snoop Dogg, Mary J. Blige, Kendrick Lamar e Eminem apresentaram uma sequência de hits clássicos que marcaram a história do rap e R&B dos anos 2000. Diante de um público eufórico que lotou o SoFi Stadium, em Los Angeles, “The Next Episode”, uma das faixas mais tocadas de Dre e Dogg abriu os trabalhos em uma reunião já considerada histórica. A celebração foi uma homenagem a Dr Dre, um dos maiores produtores e compositores da história do rap e a apresentação no maior evento esportivo norte-americano mostra que entre ascensão de divas pop, talentos teen e o trap, o bom e velho Hip-Hop continua poderoso e com apelo às massas.

2pac foi lembrado no clássico “California Love”, parceria com Dre e então o banho de nostalgia ganhou mais poder com 50 Cent entoando “In da Club”, primeira parceria de sucesso com o produtor homenageado.

A Rainha do Soul, Mary J. Blige, cantou “Family Affair”, também feita sob o toque de midas de Dre. Sem tempo para respiro na memória afetiva, Kendrick Lamar emendou três pedradas, entre elas “Alright”, sucesso de 2015. Enquanto a montagem e movimentação do palco impressionava, Eminem incendiou de vez a apresentação com “Lose Yourself”, tema do longa “8 Mile” e vencedora do Oscar de melhor canção original em 2003. “Still D.R.E”, parceria icônica de Snoop Dogg e Dr Dre fechou a conta.

Ter artistas do Hip-Hop com esse peso, cantando músicas que falam sobre violência policial, preconceito e vida nos guetos é emblemático, visto que a NFL tem sido notícia por coibir protestos dos atletas, tendo como caso mais notável a censura feita a Colin Kaepernick por se ajoelhar em protesto contra casos de racismo e violência policial. O gesto foi repetido por Eminem durante o show.

Se a apresentação dos rappers não trouxe a estrutura de palco colossal vista em outras edições, acertou por apostar no poder dos clássicos produzidos por Dr Dre. O produtor foi considerado pela Revista Rolling Stone um dos 100 maiores nomes da música em todos os tempos e não à toa. Nos anos 80 foi um dos responsáveis pela ascensão do rap como forma de denúncia da violência policial e da vida nos guetos norte-americanos. Junto a DJ Yella, MC Ren, Ice Cube e o próprio Eazy E, fundou o NWA, grupo de rap que moldou uma geração e ditou muito do viria a ser feito depois no Hip-Hop, inclusive influenciando o grupo brasileiro Racionais MCs.

Sem a megalomania de astros pop, apenas com música e a boa velha e nostalgia, uma parte da história foi feita pelas mãos do Hip-Hop. A apresentação já conta com quase 40 milhões de visualizações no Youtube até o momento do fechamento dessa matéria.