Por Letícia Gomes / S.O.M.

Afrontosas e revolucionárias, Vita Pereira e Isma Almeida, mais conhecidas como Irmãs de Pau (@irmasdepau), vêm causando e transformando o universo do funk. Cineastas, funkeiras, pedagogas, performancers e tantos outros títulos, elas se destacam pela versatilidade se nomeando como “Multiartistas do Equê” (“equê”, do pajubá, significa “truque”).

Apesar do nome da dupla, Vita e Isma não são irmãs de sangue, mas de consideração. Elas se conheceram e ficaram amigas no ensino médio, durante o movimento das ocupações estudantis contra as reformas educacionais do governo Alckmin, em São Paulo (SP) no ano de 2015.

“Gostamos de usar o termo, justamente porque muitas de nós, sobretudo travestis, muitas vezes não conseguem ter realmente um amparo e apoio da nossa família. Nas nossas amigas, eu na Vita e a Vita em mim, conseguimos encontrar uma irmandade. Levamos isso para todas as pessoas LGBTQ+ de que podemos nos unir a criar nossos laços afetivos”, disse Isma em entrevista.

Na época da faculdade se separaram, indo para cidades diferentes e desenvolvendo projetos pessoais como DJs solo. Isma criou o “Baile da Cuceta”, em Belo Horizonte (MG), e Vita a “Casa Travada”, em Araraquara (SP), um espaço de afetação cultural, moda, cultura ballroom, cultura do funk, hip hop e performances, tendo sua 1ª edição em 2019.

Com a pandemia em 2020, o período de isolamento gerou a necessidade de se reinventar, elas decidiram começar um projeto artístico em conjunto, criando as Irmãs de Pau. No ano seguinte, em 2021, lançaram seu primeiro álbum “Dotadas”, que chegou às principais plataformas de streaming do Brasil.

Desde então, as irmãs continuaram trabalhando juntas, fazendo shows e participações em eventos, ganhando fama com a música “Shambaralai” (2022) que ultrapassou a marca de 1 milhão de streamings no Spotify Brasil em setembro. Também ficaram responsáveis por dar uma cara nova para a música “Derretida” (2023) de Pabllo Vittar e, como projeto mais recente, lançaram “Cussy” em parceria com MC Luanna. Além disso, as artistas foram convidadas junto a Chameleu para participar do Hopi Pride Festival, que acontecerá em abril de 2024.

Apesar de tudo isso, elas ainda enfrentam dificuldades vivendo da arte. “A gente ganha um dinheirinho, ganha um reconhecimento, mas não é o suficiente para conseguir produzir mais material de qualidade para alimentar a nossa carreira”, explica Vita.

“Parece que é uma coisa muito mais difícil, por isso vemos poucas de nós no mainstream, ganhando cachês reais que precisam e que merecem. Merecemos um valor digno e isso é um toque para empresário, produtores de evento e pessoas que lidam com música. O nosso nome é Irmãs de Pau, para a gente já é difícil por causa disso.”